Tese Doutorado

Como exemplos de possíveis futuras ações geopolítica do Brasil, de caráter regional, interferentes com o desenvolvimento do Estado de Roraima teríamos:
- Construção de estrada ligando Roraima (BR – 401) ao Porto Livre de Georgetown, Capital da República Cooperativista da Guiana:
    Objetivos:     Melhorar e baratear os transportes para Roraima através do Porto  Livre de Georgetown, localizado a aproximadamente 450  Km de Boa Vista
                          . Desenvolver nova rota para os produtos da Zona Franca de Manaus, com destino para o Caribe, América do Norte e Europa.
                          . Montagem de um sistema de transporte dupla via – Calcário e insumos agrícolas X grãos (soja e milho) a serem produzidos nas áreas de cerrado do Estado.
                          . Aumento da influência econômica do Brasil na Guiana
                          . Desenvolvimento de todo o Sudoeste da Guiana , inclusive com  grupos econômicos brasileiros e agro pecuaristas, madeireiros e mineradores de médio e pequeno porte
Possíveis reações:
                         . Bloqueio diplomático e econômico da Venezuela ao Brasil, que tem todo o Sudoeste da Guiana com território pretendido (Vale do Rio Essequibo), o que pode ter influenciado a paralisação das obras da rodovia Lethen - Georgetown, que estava sendo construída pela construtora brasileira Paranapanema.
                          . Ação que pode ser tomada como ameaça aos esforços da Venezuela em viabilizar o corredor Manaus – Boa Vista – Puerto Ordaz – Caribe, como rota de desenvolvimento do Sul da Venezuela, podendo comprometer a importação de energia elétrica de Guri e o fornecimento de petróleo ao Brasil.

- Construção da Hidrelétrica da Cachoeira do Tamanduá – Vale do Rio Cotingo com 186 MW
   Objetivos:     . Dar independência energética ao Estado de Roraima, ainda totalmente dependente da termoelétrica a óleo diesel, em compasso de espera da operação do linhão que trará energia de Guri, na Venezuela, com o processo atrasado há mais de dois anos devido impasse com as comunidades indígenas daquele país em função da passagem da linha por suas terras.
                                . Atender supletivamente ao Sudoeste da Guiana, já que a UHE do Cotingo localiza-se a menos de 15 Km da fronteira com este País.
                                . Desenvolver toda a área Norte – Nordeste de Roraima através da energia gerada na usina como principalmente, através dos usos múltiplos previstos para esta estrutura hidroenergética.
Possíveis reações:
                                 . Bloqueio por ONG´s ligadas à Igreja Católica com justificativas antropológicas
                                 . Pressão da Venezuela, juntamente com grupos empresariais brasileiros para venda de energia do complexo de Guri-Macagua no  Rio Caroni, Sul da Venezuela.

Independentemente das inúmeras dificuldades atualmente impeditivas para o desenvolvimento de Roraima, existem perspectivas de alguns mecanismos geopolíticos potenciais para Roraima, dos quais destacam-se:
Alterações  da atual matriz energética de Roraima.
Como se sabe a atual matriz energética de Roraima é insuficiente e cara visando a oferta de energia para um  processo de desenvolvimento do Estado. O atual parque termelétrico de Boa Vista está a beira de um colapso devido aos equipamentos próximos ao fim de sua vida útil e com muitas dificuldades para a sua  reposição.
A solução encontrada em 1997 pelo Governo Federal foi a mais cômoda, que seria a importação de energia elétrica da Venezuela, através do linhão de Guri, energia esta gerada pela hidrelétrica de Macagua, no complexo de Guri, no alto Rio Caroní.  A previsão foi a de que em 1998 seria feita esta interligação. Até este ano de 2 001 ainda a energia não foi fornecida, principalmente por forte pressão de grupos indígenas da região atravessada pela linha na Venezuela, de ONG s ambientalistas e do próprio governo venezuelano que tem demonstrado pouca vontade política para a concretização do acordo bilateral.
A Usina Hidrelétrica do Alto Rio Jatapú no Sul do Estado, com potência de 10 Mw, inaugurada parcialmente no fim de 1994 produz energia suficiente para o Sul do Estado, permitindo o atendimento das sedes municipais na área e o desenvolvimento das atividades agropecuárias aí existentes.
Vai existir ainda um projeto desenvolvido a mais de duas décadas mas nunca implantado: é o da Usina Hidrelétrica do Cotingo, que poderá vir a  ser a redenção do Estado, gerando até 186 Mw na 2ª  etapa, numa bacia que tem o potencial estimado em 887 Mw. Tem um mínimo de impactos ambientais e relativa proximidade do mercado consumidor.    No momento a sua construção encontra-se sob impasse  devido reações de alguns segmentos  da população indígenas, ONG’s e Igreja Católica, além do processo de demarcação da ‘’Área Indígena Pretendida Raposa-Serra do Sol
Uma outra alternativa energética para o Estado, de certa forma mais adequada, seria a de utilização de gás natural, caso fossem continuadas pela Petrobrás as sondagens para petróleo e gás  abandonadas há mais de vinte anos na área da Serra  do Tucano, vale do Rio Tacutu, onde detectou-se gás em condições não comerciais, mas em volume suficiente  para um pequeno gasoduto de aproximadamente 40 Km até Boa Vista ,  o que poderia tornar possível durante um longo período de tempo a geração de energia de baixo custo.
As regiões serranas de Roraima oferecem inúmeras boas localizações de barragens de pequena queda, o que  poderia ajudar bastante no desenvolvimento das comunidades rurais e indígenas, além de permitir no Verão (época seca) a utilização da água vertente nas pequenas lavouras de sopé de serra.
As fontes alternativas de energia (solar e eólica) apesar de serem sempre lembradas e recomendadas raramente são utilizadas em Roraima.  Com exceção de alguns poucos cata-ventos, não vemos outra atividade que procure aproveitar potencial eólico nas áreas planas do Norte-Nordeste de Roraima, principalmente para o bombeamento de água na época seca,  ocasião em que o vento atinge freqüentemente velocidades altas e a intensidade da radiação vem a ser uma das mais elevadas do País.
E finalmente temos o projeto da Usina Hidrelétrica do Paredão, no médio Rio Mucajaí  que poderia ser reativado visando atender com alta eficiência e baixo custo o eixo Boa Vista-Caracaraí.
Alterações  na utilização de recursos minerais em Roraima.

ILUSTRAÇÃO 10  - MECANISMOS GEOPOLÍTICOS POTENCIAIS PARA     
                                    RORAIMA

 

 

 

 

 

4   - O MEIO    FÍSICO

 

4.1 - METEOROLOGIA E CLIMATOLOGIA

4.1.1 - Sistemas Atmosféricos Regionais

A posição geográfica e a caracterização fisiográfica de Roraima fazem com que a área tenha a participação de diversos sistemas atmosféricos, quer em macro escala como em escala local.   Nestes últimos dois anos o comportamento climático da região saiu bastante da sua normalidade, função de dois fenômenos de caráter global, ligados principalmente à dinâmica térmica da porção Sul do Oceano Pacífico, quais sejam: El Niño e La Niña.   O primeiro foi responsável pelo intenso período seco que assolou Roraima nos fins de 1997 e início de 1998, gerando condições propícias para o grande incêndio que atingiu uma área com  mais de 18 % do Estado, segundo  o INPA e o INPE.  Já o segundo fenômeno, caracterizado por um grande aumento na pluviosidade média, está fazendo com que não tenha  havido períodos de seca durante os primeiros meses dos anos de 1999 e 2000, inclusive com elevada freqüência  de invasões dos reflexos de frentes frias provenientes do Sul do continente, provocando alterações bastantes sensíveis na temperatura média e no comportamento hidrológico da rede de drenagem regional.  Isto tem ocasionado inúmeros problemas que variam desde  dificuldades no escoamento das águas de drenagem urbana, passando por prejuízos às atividades de lazer e de turismo ecológico devido alagamento das praias  e chegando a atingir drasticamente a reprodução de tartarugas em projeto do IBAMA no baixo Rio Branco.
O Estado de Roraima, de uma forma geral sofre a influencia direta de quatro  grandes sistemas atmosféricos que condicionam as suas características climatológicas:

     Esta característica de âmbito macro - regional predomina em boa parte da porção central e Norte-Nordeste do Estado de Roraima, tornando o clima bastante confortável através do abaixamento da umidade relativa e intensa ventilação.
     Para as atividades agrícolas e pecuárias vai implicar em períodos bastante significativos de baixa umidade, exigindo a utilização de irrigação das culturas, principalmente a do arroz e a constante locomoção do gado em busca de locais para dessedentação.  
     Durante a madrugada, o abaixamento relativo da temperatura principalmente nas áreas montanhosas das regiões Norte e Nordeste de Roraima, faz com que ocorra um processo de descida do ar mais frio para as áreas mais baixas topograficamente.  Isto faz com que ocorra um rápido carreamento destas massas de ar mais frio pelo vento alísio que neste período vai ter um incremento de sua velocidade.  Este tipo de comportamento meso climático vai provocar nas áreas planas do Norte-Nordeste do Estado um vento de alta velocidade e temperatura relativamente baixa, sendo regionalmente denominado pela população de Cruviana, motivo inclusive de diversas lendas que fazem parte integrante do folclore do Estado.
    A Ilustração 11 resume graficamente o comportamento deste sistema atmosférico

ILUSTRAÇÃO 11 – AÇÃO EM RORAIMA DE SISTEMA ATMOSFÉRICO
                                    ANTICICLÔNICO

MECANISMOS GERADORES

DIREÇÃO PREDOMINANTE DOS VENTOS

CONDIÇÕES

DO
TEMPO

 

CONDIÇÕES  SINÓTICAS

 

ANTICICLONE SUBTROPICAL DO ATLÂNTICO SUL

 

ANTICICLONE DOS AÇORES

     
      E

 

     NE
 
 
 
 
 
 
ESTABILIDADE

 

A massa de ar equatorial, com elevada taxa de umidade, devido a sua passagem por extensas áreas florestais com alta evapotranspiração irá sofrer processos convectivo ao atingir as áreas campestres do centro e Norte-Nordeste do Estado,  provocando  precipitações de grande intensidade .
                                      A Ilustração 12 mostra a caracterização deste tipo de sistema
                                      Atmosférico:

 

ILUSTRAÇÃO 12 – AÇÃO EM RORAIMA  DO  SISTEMA  ATMOSFÉRICO  
                                     EQUATORIAL

MECANISMOS GERADORES

DIREÇÃO PREDOMINANTE DOS VENTOS

CONDIÇÕES

DO
TEMPO

 

CONDIÇÕES  SINÓTICAS

 

MASSA
EQUATORIAL

 

LINHAS
DE INSTABILIDADE

       W
INSTABILIDADE

 

A partir do meio do ano, por influência da dinâmica atmosférica do Sul da América do Sul associada  à massa polar atlântica ,  o sistema de convergência intertropical ultrapassa a linha do Equador e segue para o Norte até  o Sul  da Venezuela, provocando em sua passagem pelo Estado de Roraima uma instabilidade atmosférica de caráter regional com intensas precipitações pluviométricas , época esta denominada regionalmente de “Inverno”. 
      Esta situação costuma, em épocas de normalidade climática, persistir por mais de dois meses, trazendo uma significativa mudança no comportamento dos ecossistemas regionais e  principalmente nas atividades sócio – econômicas da maior parte da população do Estado. As estradas não pavimentadas tornam-se intransitáveis, os rebanhos de gado  adaptam-se à nova realidade ocupando espaços que  não possuem  armazenamento de água durante  a época seca. A aparência da cobertura vegetal, principalmente na área de cerrados e campos sofre uma grande mudança na sua composição florística e consequentemente na sua composição e cores.

 

      A Ilustração 13 nos mostra esquematicamente esta situação

 

 

 

ILUSTRAÇÃO 13 – AÇÃO EM  RORAIMA  DO  SISTEMA  ATMOSFÉRICO  
                                    VINCULADO À ZONA DE CONVERGÊNCIA
                                     INTERTROPICAL (ZCIT)

 

MECANISMOS GERADORES

DIREÇÃO PREDOMINANTE DOS VENTOS

CONDIÇÕES

DO
TEMPO

 

CONDIÇÕES  SINÓTICAS

 

 

CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL

 

      N
INSTABILIDADE

 

 

 

Vão gerar  um sistema de correntes perturbadas de Sul, situação esta que irá se manifestar na calha Norte do Rio Amazonas quando existe a ação de anticiclones  polares  bastante poderosos que conseguem,  em algumas poucas ocasiões no ano , empurrar sua superfície frontal para além do Equador geográfico. Nestas raras situações as massas de ar mais frio vão ter o seu avanço comandado pelos ventos do quadrante Sul, provocando situações de instabilidade e bruscas quedas da temperatura, conhecidas regionalmente como “ friagem” , fenômenos que ocorrem pouquíssimas vezes ao ano principalmente no baixo Rio Branco.    Em Boa Vista raramente esta situação ocorre, no máximo de duas a três vezes ao ano, ocasião em que além de uma sensível queda da temperatura (de três a quatro graus centígrados) chegam a  se formar intensos nevoeiros durante o período noturno. Anormalmente nestes dois últimos anos (1 999 e 2 000), a freqüência de entradas de friagens em Boa Vista superou as médias em mais de cinco vezes.  Só em 2 000 de janeiro a dezembro tivemos mais de 10 incursões de friagem. A Ilustração 14 mostra de uma forma simplificada a ocorrência deste sistema atmosférico em Roraima.

ILUSTRAÇÃO 14 – AÇÃO  EM RORAIMA DO  SISTEMA ATMOSFÉRICO

                                    LIGADO AOS  REFLEXOS DO ANTICICLONE POLAR  

                                  ATLÂNTICO E DA FRENTE POLAR ATLÂNTICA

 

MECANISMOS GERADORES

DIREÇÃO PREDOMINANTE DOS VENTOS

CONDIÇÕES

DO
TEMPO

 

CONDIÇÕES  SINÓTICAS

REFLEXOS DO ANTICICLONE POLAR ATLÂNTICO
OU
DA FRENTE POLAR ATLÂNTICA

       S
INSTABILIDADE

 

 

4.1.2 – Os parâmetros   meteorológicos

 

Em Roraima a evolução dos parâmetros meteorológicos tem uma ciclicidade típica de duas situações anuais, regionalmente identificadas pela população como Inverno e Verão. Ao contrário de outras regiões do País o Inverno é a época do ano de elevadas precipitações pluviométricas e uma pequena queda da temperatura média e diminuição sensível da velocidade dos ventos.  O Verão é caracterizado por uma ausência de chuvas durante um período significativo, elevadas temperaturas e intensa ventilação.
A seguir são analisados separadamente e de uma forma simplificada o comportamento de parâmetros meteorológicos significativos para a compreensão do clima regional:

 

Insolação

A insolação média no Estado varia de 2.000 a 2.500 horas por ano tendo o seu período de máxima durante os meses de setembro a novembro e o mínimo de abril a junho.  Esta característica gera uma série de vantagens para a ecologia, para os processos agrícolas, para a exploração do turismo e em outras atividades que utilizem a energia solar como forma alternativa de energia.

 

Radiação solar

Quanto a radiação solar total vamos ter um total médio anual de 1500 a 2000 Kwh/m2/ano dando uma intensidade média entre 171 W/m2  a 228 W/m2 , o que coloca o Estado em uma posição privilegiada na Amazônia em termos de utilização da energia solar como alternativa para algumas atividades, tais como: secagem de alimentos  e de materiais de construção; bombeamento de água; aquecimento de água em áreas serranas; geração de energia elétrica para pequenas comunidades,  e uma série de outras aplicações.

 

Temperatura do ar

  O comportamento térmico de Roraima não foge à regra geral do que ocorre em todas as regiões tropicais amazônicas, registrando-se uma pequena variação nas temperaturas médias durante o ano todo. Analisando-se pontualmente Boa Vista, na época

 

 

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