Sumário ]


3. O NORTE/NORDESTE DE RORAIMA HOJE - 1996 (DIAGNÓSTICO)

3.1. O MeioAmbiente Natural

3.1.1.Os Principais Geossistemas

O Norte/Nordeste de Roraima pode ser dividido simplificadamente em duas áreas de geossistemas significativos: a região das serras e a de savana (lavrado).A região das serras ocupa aproximadamente 30% da área total do Norte/Nordeste de Roraima e praticamente inicia-se no paralelo 4º 30’, tendo como limite Sul as serras Parimé, Marari, Vitória, Memória, Triunfo e Xumina. No interior da área encontramos outras serras importantes, das quais destacam-se: Araí, Central, Paracanai, Maturuque, Pacaraima, Cipó, Caburaí, etc.Na porção extremo Norte desta região vamos ter a predominância de mata densa que vai ter continuidade no território pertencente à República Cooperativista da Guiana.

A porção Sul irá ter o predomínio da vegetação campestre no mesmo padrão da encontrada no setor norte do geossistema de savana ( lavrado ).E finalmente temos o geossistema das savanas ( lavrado ) com coberturavegetal do tipo campestre na sua porção Norte e de savana parque na porção Sul. A tabela 5 nos dá uma caracterização destes grandes geossistemas doNorte/Nordeste de Roraima.
Da mesma forma a figura 02 nos dá uma idéia genérica da distribuição espacial dos geossistemas significativos no Norte/Nordeste de Roraima.

TABELA 5 - Características dos principais geossistemas na região Norte/Nordeste de  Roraima

GEOSSISTEMA

PRINCIPAL

SUB-DIVISÃO

CARACTERÍSTICAS

UTILIZAÇÃO

ECONÔMICA

GEOLOGIA

SOLOS

VEGETAÇÃO

1- SERRAS

I-MATA DENSA

 

-Formação Roraima

-Metassedi-mentosantigos

-Diabásios (diques)

-Litólicos

-Podzólico vermelho--amarelo

-Floresta ombrófila densa montana

-Conservação ambiental

-Turismo ecológico

II - VEGETAÇÃO CAMPESTRE

-Formação Roraima

-Diabásios (diques)

-Grupo Surumú

-Podzólico vermelho-amarelo -Litólico

-Savana estépica arbórea densa

-Savana estépica

-parque

-Pecuária extensiva

-Turismo ecológico

-Mineração

2- SAVANAS (LAVRADOS)

I- VEGETAÇÃO  CAMPESTRE

-Grupo Surumú

-Diabásios (diques)

-Rochas subvulcânicas

-Podzólico vermelho-amarelo

-Litólico

-Terra roxa estruturada

-Savana estépica parque

-Savana estépica arbórea densa

-Floresta galeria

-Pecuária extensiva

-Mineração

-Plantio comercial de arroz irrigado

II- SAVANA PARQUE

-Grupo Surumú

-Rochas subvulcânicas

-Sedimentos quartenários da Formação Boa Vista

-Aluviões recentes

-Plintossolo

-Planossolo

-Latossolo amarelo

-Gley Húmico

-Aluviais

-Savana estépica arbórea densa

-Floresta galeria

-Savana estépica parque

-Pecuária extensiva

-Plantio comercial de arroz irrigado


FIGURA 2 - Geossistemas significativos do Norte/Nordeste de Roraima

3.1.2. Problemas Ambientais

O ser humano vem desde os tempos remotos degradando a natureza, em maior ou menor grau, tanto para a busca de alimentação, construção de abrigos e em todos os aspectos ligados à sua reprodução e aos seus interesses. Os indígenas como todos os seres humanos, usam normalmente os recursos naturais para suprir suas necessidades vitais na construção de abrigos, obtenção de alimentos, bem como de costumes tradicionais que levam à degradação ambiental, como por exemplo a queima de áreas de campos e matas. No caso da queima dos campos, seguindo a antiga tradição para caça e mais recentemente na falsa expectativa de renovação de pastagens, temos uma séria degradação ambiental, provocando até em certas áreas específicas o surgimento de pequenos focos de processo de desertificação. A queima de áreas de matas é tradicional, visando a abertura de novas áreas para a agricultura itinerante de subsistência. Na área Norte/Nordeste de Roraima, em função do ambiente agrário, os tipos de ações degradadoras são praticamente as mesmas usadas pelos índios e não índios. No caso dos índios ingaricós na região em estudo, a realização de desmatamentos de áreas de mata densa para a prática da agricultura com a utilização da queimada ainda não chegam a produzir degradações de âmbito regional devido à pequena população envolvida no processo e na sistemática não capitalista de sua agricultura de subsistência.

É necessário que haja um correto manejo, bem como sejam mantidas áreas de preservação natural visando o equilíbrio dos ecossistemas regionais. Estas áreas devem ser estabelecidas a partir de estudos sistematizados que realizem um diagnóstico regional dos recursos naturais disponíveis e sistematizem as compatibilidades de usos econômicos dos mesmos. O zoneamento ecológico-econômico já concluído pelo Estado para o vale do Rio Cotingo poderia ser estendido para toda a região de estudo e auxiliar no melhor aproveitamento dos recursos naturais.

O Norte/Nordeste de Roraima possui uma série de características peculiares que irão provocar problemas ambientais na área. Estes problemas ambientais podem ser genericamente divididos em induzidos e naturais/climáticos:

Como Problemas Ambientais Induzidos, temos:

Áreas degradadas por extração mineral: os impactos produzidos pela mineração clandestina de ouro e diamante na área (garimpos) gerou e está gerando inúmeras áreas degradadas, principalmente nas bacias do Rio Quinô, Médio Cotingo e Baixo/Médio Maú. A degradação atinge o leito dos rios, suas margens e muitas vezes as encostas do vale. O material residual assoreia os leitos dos rios que deixam de ter seus álveos definidos e no período das chuvas as águas saem de sua calha inundando as áreas vizinhas.Os ravinamentos das encostas continuam num crescente processo de geração de voçorocas que comprometem todas estas áreas irreversivelmente além do aumento assustador de sólidos em suspensão nas águas dos igarapés e rios.A turbidez do Rio Cotingo nos seus médio e baixo cursos é bastante preocupante, chegando a afetar o baixo Surumú, Tacutú e até o Rio Branco defronte Boa Vista. Não existem dados concretos sobre o uso de mercúrio nestas áreas, nem dos níveis deste metal, nas águas, nos peixes e nos seres humanos.


Queimadas: este problema de ocorrência disseminada em toda a região faz parte da cultura indígena que ateia fogo nos campos ou em matas de encostas e ilhas, visando espantar a caça e mais modernamente alegando-se a rebrota dos pastos. Os solos da área de savana, já bastante empobrecidos de matéria orgânica e micronutrientes, perde ano a ano mais destes materiais. Areais e litossolos começam a aumentar as suas áreas num início de um típico processo de desertificação.

Áreas degradadas pela agricultura comercial: dia a dia estão aumentando as ocorrências de mortandades de aves e pequenos animais devido à aplicação indevida de agrotóxicos, principalmente na região Sul da área, onde existem extensas plantações de arroz irrigado, existe aí uma utilização maciça de agrotóxicos através de aviação agrícola, além do lançamento nos rios Tacutú e Surumú de altas cargas de sedimentos, fertilizantes e agrotóxicos.

Destruição da fauna pela caça e pesca: independentemente da baixa população de animais silvestres na região, por tradição ou lazer ainda se pratica bastante a caça, por tradição ou lazer que pouco a pouco vai reduzindo mais ainda a fauna da região. Da mesma forma a pesca predatória, com uso de apetrechos inadequados, fora de padrão ou em época de defeso está reduzindo drasticamente a ictiofauna regional já bastante rarefeita.

Desmatamento: Este tipo de dano ambiental ocorre com maior freqüência na área das serras e junto às matas ciliares dos rios e lagos da área de savana. Na região da mata podemos observar pequenas clareiras
desmatadas pelos índios ingaricós com o fito de implantação de lavouras de subsistência.


No que diz respeito a Problemas Ambientais Naturais/Climáticos que ocorrem na área, temos:

Seca:normalmente no período que vai de outubro a março, boa parte do Norte/Nordeste de Roraima chega a ter um período de seca, afetando muitos lagos e igarapés da região de savana e serra. Este período é caracterizadopor excessiva insolação e elevada velocidade dos ventos Este e Nordeste, que aceleram ainda mais o processo de evaporação. A tudo isto somam-se os inúmeros incêndios produzidos ou naturais que vão queimar extensas áreas da savana e das serras.

Chuvas: no período de maio a julho ocorrem em toda a região chuvas intensas que provocam inúmeros problemas, tais como: enchentes, principalmente nos vales bastantes ravinados, escorregamentos de encostas, interrupção de vias de comunicação, etc.

Quanto ao meio ambiente sócio-econômico-cultural temos no Norte/Nordeste de Roraima alguns impactos que ocorrem na área, dos quais destacam-se:

  • Imposições de religiões alienígenas à cultura indígena.
  • Implantação de sistemas de pecuária de subsistência e vinculada à igreja católica (Projeto Gado da Diocese de Roraima).
  • Interferência de instituições vinculadas à Igreja Católica (CIR) na alteração do processo natural de sucessão dos tuxauas (chefes tribais) visando a colocação de adeptos ao movimento.
  • Apoio oficial da FUNAI no incentivo à mineração clandestina (garimpo) através do uso de equipamentos pelos índios e seus arrendatários não índios (Vale do rio Quinô) que extrapolam o conceito de catação, faiscação e garimpagem permitido pelo Código de Mineração e Estatuto do Índio, desde que exclusivamente manual e dirigido para sua subsistência.

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