3.10.
Cenários Alternativos Futuros
O
Norte/Nordeste de Roraima, contrariamente ao afirmado no Parecer FUNAI
889/93 é fundamental para a viabilização econômica do Estado devido ao
seu grande potencial em recursos naturais e cênicos, bem como de uma força
de trabalho expressiva.
Em
função de estudos já realizados na região tais como o zoneamento Ecológico-Econômico
da Bacia do Rio Cotingo, o Projeto Radam Brasil, Programa de Estudos e
Pesquisas nos Vales Amazônicos -PROVAM e diversos outros vinculados à
pesquisa mineral (DNPM/CPRM) e ao aproveitamento hidrelétrico do rio Cotingo,
é possível serem estabelecidos os principais potenciais da área.
Utilizando-se
das informações e experiências do Zoneamento Ecológico-Econômico da Bacia
do Rio Cotingo realizado pelo Governo do Estado somadas aos estudos citados
no parágrafo anterior e complementadas pelo trabalho de campo realizado
pela Comissão Técnica Especial - Decreto 1.161/96, foi possível uma avaliação
sucinta dos principais potenciais da área. Tais alternativas de desenvolvimento
baseadas em usos econômicos podem e devem utilizar-se dos recursos humanos
existentes na região, índios e não índios, colaborando assim para o desenvolvimento
harmônico do Norte/Nordeste de Roraima e sua conseqüente integração definitiva
no processo produtivo do Estado e do Brasil.Dentre as principais alternativas
de desenvolvimento harmônico do Norte/Nordeste de Roraima podem ser destacadas:
3.10.1.
Turismo Ecológico-Cênico
É
atualmente a atividade de maior crescimento na economia mundial, onde
os recursos e investimentos são relativamente baixos com um retorno bastante
rápido. É acima de tudo um eficiente instrumento de conservação ambiental
com uma ressalva importante: é uma das melhores formas de distribuição
da renda regional com uma conseqüente elevação dos níveis de qualidade
de vida da populações locais envolvidas no processo. No extremo norte
de Roraima, foi criado pela União, o Parque Nacional do Monte Roraima,
(Decreto Federal 97.887 de 25/06/89) com aproximadamente 116.000 ha (6,7%
da área da região e 0,5% da área do Estado).
O
Parque Nacional do Monte Roraima possui dentro de sua área formações geológicas
de beleza ímpar, tais como:
- Monte
Roraima: formação residual em forma de meseta (tepuy)
composta de metassedimentos classificados como uma das rochas antigas
do planeta. Atinge no seu ponto mais elevado a altitude de 2.875 metros
- Monte
Caburaí: ponto mais extremo do Brasil, com latitude
de 05' 16' 19" Norte e 1.456 metros de altitude.
- Serra
do Cipó: área praticamente desabitada, com imensos
campos de altitude e grande beleza cênica, tendo em seu interior
a bacia do Rio Uailan com suas inúmeras cachoeiras onde destaca-se
a de Garan-Garan.
- O
Parque Nacional do Monte Roraima destina-se a fins científicos, culturais,
educativos e recreativos e o seu objetivo principal reside na preservação
dos ecossistemas naturais protegendo-os contra quaisquer alterações
que os desvirtuem.
-
- Na
Venezuela, em área fronteiriça ao Parque Nacional do Monte Roraima,
temos na área da Gran-Sabana, o Parque Nacional de Canaima. Este parque
rende a este país vizinho, significativa parcela da renda nacional em
inúmeros empreendimentos turísticos com uma constante participação das
comunidades indígenas pemons, nativos da área, no seu gerenciamento.
-
- A
área delimitada para o Parque Nacional do Monte Roraima e regiões próximas,
é habitada por indígenas da etnia Ingarikó que tem a intenção de participar
no processo de exploração deste recurso visando a melhoria da qualidade
de vida de suas comunidades, além de ajudar na preservação do meio ambiente
e principalmente no resgate e divulgação da cultura indígena.
-
- Além
da área institucional do Parque Nacional do Monte Roraima, a região
vai oferecer outros pontos muito importantes para a atividade de turismo
ecológico-cênico, das quais se destacam:
-
- Sul
da bacia do Quinô (Pico Sapan) até o travessão das serras Manalai
e Vitória;
- Cachoeira
do rio Maú, principalmente as da área do Ourinduque;
- Serra
do Sol;
- Praias
do rio Tacutu.
-
- 3.10.2.
Mineração Regularizada
-
- Apesar
da exploração mineral na região de estudo estar sendo feita através
de métodos rudimentares, altamente impactadores ao meio ambiente, com
baixíssimo rendimento de recuperação do ouro e diamante e principalmente
sem a melhoria da qualidade de vida das populações regionais indígenas
e não indígenas envolvidas, a região apresenta um potencial mineral
bastante elevado (Projeto RADAMBRASIL, CPRM e DNPM) colocando os bens
minerais numa posição de destaque potencial na economia regional e estadual,
sendo que as duas maiores áreas potenciais para exploração destes recursos
vão estar localizadas na bacia do Rio Quinô e bacia do médio Rio Maú.
-
- Na
bacia do Rio Quinô já existe uma tradição de garimpagem (Suapí, Serra
Verde, Volta Redonda, Caju) que teria de ser mudada para um esquema
empresarial ou de cooperativa, onde teríamos uma mineração de alta eficiência,
de baixo impacto ambiental, regularizada, com responsáveis pelo processo,
contribuinte à economia através do pagamento de impostos e principalmente
através da participação das populações indígenas da área, quer nos benefícios
de empregos gerados como principalmente na participação dos lucros (royalties).
-
- Na
bacia do médio Rio Maú existem áreas já requeridas pela estatal CPRM
e empresas particulares que poderiam num prazo bastante curto iniciar
suas atividades.
-
- Outra
perspectiva de potencial mineral que poderá ser explorada na área são
as ocorrências de platina, prata e outros metais nos diques de diabásio
que cortam diversas áreas da região.
-
- 3.10.3.
Sistema Hidrelétrico do Cotingo
-
- A
área de estudo oferece inúmeras alternativas de exploração hidroenergética,
ocorrendo em quase todos os altos cursos dos principais rios da região.
O potencial que mais vai se destacar não só regionalmente, como principalmente
em nível estadual é o oferecido pelo Rio Cotingo.
-
- O
Rio Cotingo, pelas características é um dos cursos d'água de melhor
rentabilidade energética no Norte do país. O Comitê Coordenador dos
Estudos Energéticos da Amazônia -ENERAM estimou em 1.992 o total de
887 mw de potencial hidrelétrico na bacia total. No caso específico
do sítio para a implantação da UHE do Cotingo, localizado na Cachoeira
do Tamanduá teremos a geração de 186 mw com uma área de inundação de
36,8 km2, o que dá um índice de 5,05 mw/km2 ou
0,19 km2/mw, que vai ser um dos mais eficientes do Brasil
e de menor impacto ambiental entre todas as hidrelétricas da Amazônia.
-
- Além
da geração de energia, fundamental para o desenvolvimento do Estado
de Roraima, e consequentemente de sua região Norte/Nordeste, temos os
usos múltiplos que beneficiarão diretamente a área, dos quais se destacam:
-
- Livre
navegação por mais de 30 km de áreas atualmente de trafegabilidade
rodoviária precária ou inexistente.
- Irrigação
por gravidade e/ou bombeamento de extensas áreas agricultáveis atualmente
inacessíveis no inverno ou secas no verão.
- Utilização
da piscicultura comercial para as populações ribeirinhas.
- Regularização
das vazões do baixo curso do rio Cotingo permitindo sua utilização
durante todo o ano para agricultura.
-
-
- 3.10.4.
Pecuária Extensiva
-
- Esta
atividade econômica, atualmente desenvolvida na área tende a ter a sua
importância crescente na economia estadual. Na porção central e sul
da região onde vão concentrar-se os maiores rebanhos, diminuíram bastante
nestes últimos anos devido ao roubo de gado pelas comunidades indígenas
e o deslocamento de significativo rebanho para outras fazendas fora
da área Norte/Nordeste. Assim mesmo uma parcela significativa do rebanho
bovino estadual concentra-se nesta área, apesar da baixa capacidade
de suporte das pastagens que oscila entre 5 a 10 hectares por cabeça,
a região se distingue pela alta taxa de natalidade. Esta atividade concentra-se
maciçamente nas áreas de savana e sopés das serras, possuindo bastante
mobilidade na época seca, quando o gado se desloca à procura das aguadas.
Na região das serras a atividade pastoril diminui em área, concentrando-se
nos vales intermontanos, já que as pastagens aí existentes são mais
ricas e os animais adquirem mais peso.
-
- Nas
áreas de matas ao Norte a pecuária é praticamente inexistente a não
ser na maloca Serra do Sol e pequenas comunidades ingaricós, onde a
FUNAI tenta introduzir pequenos rebanhos de gado bovino, alterando significativamente
o costume da caça tradicional desta etnia.
-
- 3.10.5.
Agricultura Comercial Irrigada
-
- É
sem dúvida nenhuma a atividade de maior rentabilidade na região e no
Estado. As plantações de arroz irrigado ainda são bastante tímidas (menos
de 6.000 ha em 1.996 - SEAAB/RR) mas com elevada produtividade (6.000
kg/ha) gerando uma produção anual de aproximadamente 25.000 toneladas
de arroz em casca. Existem muitas áreas propícias para o plantio de
culturas irrigadas, principalmente onde tem-se a ocorrência de planos
solos, que podem atingir mais de 200.000 ha em toda a área de estudo.
A figura 13 mostra a localização das áreas e atividades consideradas
como cenários alternativos futuros para o Norte/Nordeste de Roraima.
-
- FIGURA
13- Cenários alternativos futuros do Norte/Nordeste de Roraima
-
-
- 3.10.6.
Pré-Zoneamento Ecológico-Econômico do Norte / Nordeste de Roraima
-
- A
partir de dados obtidos de experiências anteriores de equipes técnicas
multidisciplinares que realizaram o Zoneamento Ecológico-Econômico do
Vale do Rio Cotingo, trabalho financiado pela SAE-Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República, e que teve o caráter pioneiro
na Amazônia Brasileira para zoneamentos regionais (Escala 1:250.000);
bem como trabalhos de campo de diversas Secretarias estaduais e complementação
por equipe da Comissão Técnica Especial - Decreto 1.161 de 05/02/96
foi possível o estabelecimento de um Pré-Zoneamento Ecológico-Econômico
do Norte/Nordeste de Roraima. Esta contribuição poderá ser um bom subsídio
no caso de uma nova demarcação por certo balizarão os estudos a serem
realizados, bem como para a execução de um Zoneamento Ecológico-Econômico
em sua forma definitiva.
-
- A
figura 14 mostra especialmente os resultados de um Pré-Zoneamento Ecológico-Econômico,
que dá seguimento ao ZEE já realizado pelo Governo do Estado para a
bacia do Rio Cotingo, inserida integralmente no Norte/Nordeste de Roraima.
-
- 3.10.6.1.
Áreas que Tiveram um Zoneamento Prévio e Usos Previstos Predominantes
-
- O
Pré-Zoneamento Ecológico-Econômico do Norte/Nordeste de Roraima propõe
a divisão da região em 15(quinze) áreas para uma melhor análise:
-
- As
áreas são:
- Parque
Nacional do Monte Roraima
- Altos
rios Cotingo, Panari e Uailan (Áreas Florestadas)
- Áreas
de savanas porção Norte
- Áreas
serranas porção Sul
- Região
da Cachoeira do Tamanduá (Sistema Hidrelétrico do Cotingo)
- Vale
do Rio Quinô
- Vale
do médio Rio Maú ou lreng
- Região
central (polo pecuário)
- Porção
Sul/Sudoeste (várzeas para cultura irrigada)
- Polo
regional de Água Fria
- Polo
regional de Vila Pereira (Surumú)
- Polo
regional de Placas/Contão
- Polo
regional de Raposa
- Polo
regional de Uiramutã
- Polo
regional de Uiramutã
-
- FIGURA
14- Proposta de um Pré-Zoneamento da região Norte/Nordeste de Roraima
-
-
- LEGENDA
DA FIGURA 14
-
3.10.6.2.
Propota de Estratégia Visando o Desenvolvimento Harmônico do Norte/ Nordeste
de Roraima
-
- 3.10.6.2.1.
Gemeralidades
-
- Em
fevereiro de 1.993, a FUNAI juntamente com a Polícia Federal e Departamento
Nacional de Produção Mineral -DNPM realizaram um termo de referência
do "Programa para a demarcação das áreas indígenas e apoio ao desenvolvimento
harmônico do Estado de Roraima". Este programa foi violentamente
contestado pela sociedade roraimense e não chegou a ser implantado.
Entre outras afirmações existentes naquele documento podemos extrair
as seguintes:
- A
proposta afirma que "é falso o conceito de mineral estratégico
- não há necessidade de exploração mineral a qualquer custo. Esta
se ocorrer será norteada pelo bem estar do índio e não pelas necessidades
da sociedade envolvente".
- Sugere
a "reordenação fundiária do Estado favorecendo a demarcação
e desintrusão das áreas indígenas".
- Propõe-se
o "levantamento geológico das reservas indígenas para conhecimento
preliminar de sua potencialidade, de modo a propiciar um planejamento
consistente do esquema de proteção contra invasões".
- Diversas
propostas e ações tem sido realizadas pelo Governo do Estado visando
o desenvolvimento harmônico do Norte/Nordeste de Roraima, só que muito
pontuais, principalmente no planejamento e execução de infra-estruturas
básicas.
-
- Metodologicamente
vão existir 3 formas básicas para delimitação de áreasindígenas, quais
sejam:
-
- Áreas
Indígenas Contínuas
- Áreas
em Blocos
- Áreas
em Ilhas
- Áreas
Contínuas: são áreas que implicam em largas extensões regionais
ultrapassando facilmente a dimensão de um milhão de hectares, sem
inclusões dentro de seus perímetros. Normalmente existem em seu
interior diversos geossistemas, além de diversos adensamentos de
malocas indígenas. Apesar de não recomendado antropologicamente
podem incluir algumas vezes diferentes etnias em seu espaço geográfico.
- Áreas
em Blocos: são áreas de tamanho médio que nunca ultrapassam
a área de 500.000 hectares, normalmente fazendo parte de poucosgeossistemas,
estas áreas são estabelecidas com bastante critério antropológico,
o que vai gerar na delimitação de regiões de adensamento de malocas
com bastante afinidade étnica e comportamental.
- Áreas
em Ilhas: são áreas de pequeno tamanho, porém suficiente
para a sobrevivência física e cultural dos indígenas envolvidos.
A delimitação em ilhas é bastante criticada por escolas antropológicas
brasileiras, sem que haja pelas mesmas a separação para etnias integradas
e não integradas à sociedade envolvente. As ilhas podem ser implantadas
para as comunidades integradas, tal como já foi feito com sucesso
no Estado de Roraima na década de 70. Os critérios de demarcação
em ilhas utilizado até o fim da década de 70 deram ótimos resultados
nas áreas de savana ao Sul dos rios Uraricoera e Tacutu. As malocas
que tiveram suas áreas assim demarcadas e homologadas (Cajueiro,
Anta, Ananás, Raimundão, Jabuti, Santa Inês, Araçá, Boqueirão, Mangueira,
Pium, Barata-Livramento, Sucuba, Serra da Moça, Ponta da Serra,
Tabalascada) estão hoje completamente inseridas na economia regional,
com alta produtividade agropecuária, sem conflitos com a sociedade
envolvente e numa crescente melhoria de qualidade de vida de suas
populações e manutenção de sua identidade cultural.
-
- O
critério atualmente adotado pela FUNAI no Estado de Roraima que é o
da delimitação de áreas indígenas em grandes áreas contínuas, envolvendo
diferentes etnias, ambientes naturais diversos e diferentes níveis de
aculturamento das comunidades gera conflitos muito sérios tal como já
ocorreram em outros exemplos, dos quais se destaca o Parque Nacional
do Xingu, onde a mistura de diversas etnias gera constantemente sérios
conflitos. O critério de delimitação das áreas indígenas em bloco é
sem dúvida o mais racional, desde que sejam respeitadas as seguintes
premissas principais no que diz respeito à parte étno-cultural:
- Uniformidade
étnica
- Preservação
cultural
- Meio
para sobrevivência física e possibilidades de crescimento vegetativo
- Grau
de integração com a sociedade envolvente e com o processo produtivo
regional
- .Outros
aspectos devem ser levados em consideração, dos quais se destacam o
atendimento médico, educacional e assistência técnica-rural fornecida
pelos órgãos públicos e ONG'S.
-
- Como
premissas no aspecto ambiental temos também de observar o seguinte:
- Áreas
de proteção ambiental;
- Qualidade
ambiental regional, principalmente dos rios e lagos;
- Relevo
e hidrografia;
- Cobertura
vegetal
- Distribuição
da fauna.
- No
aspecto sócio-econômico é essencial o levantamento dos seguintes pontos:
- Uso
do solo regional
- Aptidão
agrícola dos solos
- Recursos
minerais e hidro-energéticos
- Recursos
paisagísticos e cênicos
- Acessos
- A
figura 15 nos dá uma idéia integrada destes estudos.
-
- FIGURA
15 - Principais estudos necessários para a delimitação de áreas indígenas
em blocos
- Aspectos
Étno - Culturais
- -
Uniformidade Étnica
- -
Preservação Cultural
- -
Meios de sobrevivência física e possibilidades de crescimento vegetativo
- -
Graus de integração com a sociedade envolventee com o processo produtivo
regional
-
- Aspectos
Ambientais
- -
Áreas de proteção ambiental
- -
Qualidade ambiental regional (rios e lagos)
- -
Relevo e hidrografia
- -
Cobertura vegetal
-
- Aspectos
sócio - Econômicos
- -
Uso do solo regional
- -
Aptidão agrícola dos solos
- -
Recursos minerais e hidro-energéticos
- -
Recursos paisagísticos e cênicos
- -
Acessos
- -
Planos governamentais
-
- Grau
de assistência nas áreas médica, educacional e agrícola
- 3.10.7.
Demarcação em Blocos de Malocas Indígenas
-
- 3.10.7.1.
Proposta
-
- Em
função do expostos nos itens anteriores, tenta-se nesta proposta estabelecer-se
para o Norte/Nordeste de Roraima um plano preliminar para o desenvolvimento
harmônico regional. Este plano tem uma visão de ecodesenvolvimento e
procura harmonizar os diversos grupos humanos da área com uma política
fundiária realista ao definir diretrizes de planejamento do uso do solo
visando a integração econômica da região ao Estado.
-
- Na
realidade é necessário a execução de um zoneamento ecológico-econômico
de uma região mais ampla visando uma correta alocação de blocos de áreas
indígenasonde se harmonize os interesses dos índios e não índios dentro
de uma filosofia de participação conjunta no processo de desenvolvimento
do Estado e do Brasil.
-
- Baseando-se
no item deste trabalho, é proposto de uma forma preliminar um desenho
de como poderia ser delimitado o Norte/Nordeste de Roraima de modo que
se pudessem harmonizar os diversos interesses existentes na área, onde
teríamos como base geográfica principal os blocos de áreas indígenas.
A figura 16 nos dá uma idéia espacial desta proposta preliminar.
-
- FIGURA
16- Desenvolvimento harmônico regional do Norte/Nordeste de Roraima
(Proposta preliminar)
-
- Nesta
proposta preliminar de desenvolvimento harmônico regional do Norte/Nordeste
de Roraima deve-se ressaltar a integração do Parque Nacional do Monte
Roraima (IBAMA), a região Ingarikó, vale do Rio Quinô e parte do bloco
indígena Maturuca-Tamanduá dentro de uma área de conservação ambiental.
O conceito de conservação (manejo) permite a existência de certos usos
econômicos na área, desde que os mesmos não afetem significativamente
o meio ambiente regional. A atividade de turismo ecológico gerenciada
pelos próprios indígenas é uma das utilizações mais viáveis, casando-se
perfeitamente com as finalidades do Parque Nacional do Monte Roraima.
A utilização desta área de conservação ambiental para caça e pesca pelos
indígenas é compatível também. Esta área de conservação ambiental deve
ter um estudo mais de detalhe onde seja feito um zoneamento em que sejam
definidas áreas de preservação (intocabilidade) e de conservação (manejo)
de uma forma integrada e não conflitante.
-
- Na
proposta aqui apresenta as áreas de concentração de malocas (blocos)
vão ocupar um total aproximado de 705.900 ha ou 7.059 Km2
, representando 40,6% da área total do Norte/Nordeste de Roraima, dando
uma densidade demográfica média de 1,7 habitantes/km2 ou
0,6 km2/habitante.
-
- A
tabela 34 nos dá uma idéia desta caracterização por áreas de concentração
de malocas e a figura 17 mostra a freqüência do tamanho das malocas
por bloco.
-
- As
áreas de concentração de malocas (blocos) propostas vão gerar condições
de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida das populações aí
existentes através da utilização racional dos recursos atualmente existentes
ou potenciais. A tabela 35 vai mostrar a situação individualizada de
cada bloco com relação a estes potenciais.
-
- O
primeiro bloco de áreas de conservação ambiental com aproximadamente
7.000 km2 ou 700.000 ha (+- 40% da área total) vai coincidir
com o geossistema das serras e será limitado ao sul pelas serras da
porção meridional da bacia do Rio Quinô e Serra do Maturuque a Leste.Esta
área possui diversos ecossistemas distintos (vegetação campestre, matas
tropicais de encostas, vegetação endêmica nos altos do Monte Roraima
e Serra do Sol e algumas raras manchas de campos na região da Serra
do Sol). Parte desta área vai articular-se especialmente com o Parque
Nacional de Canaima e com a áreas selvagens das cabeceiras dos rios
Potaro afluente do rio Essequibo, na República Cooperativista da Guiana,
uma grande região de conservação que tem o domínio dos ingaricós e pemons,
os primeiros no Brasil e os segundos na Venezuela. Esta área comporta
na parte brasileira os seguintes usos do solo:
-
- TABELA
33- Uso do solo da área de conservação proposta para a região Norte/Nordeste
de Roraima
ÁREAS
|
ÁREA
APROXIMADA (HA)
|
- Parque
Nacional do Monte Roraima
|
116.000
|
|
90.000
|
- Vale
do rio Quinô - área indígena e garimpos
|
30.000
|
- Parte
dos agrupamentos de malocas indígenas
- Parte
bloco Raposa-Surumú
- Parte
bloco Maturuca-Tamanduá
|
60.000
20.000
|
- Áreas
de transição sem ocupação definida
|
384.000
|
|
700.000
|
-
- Esta
área proposta para conservação teria de ser alvo de estudos mais detalhados
que complementassem o zoneamento ecológico-econômico do Vale do Rio
Cotingo, visando o estabelecimento de uma Área de Proteção Ambiental
- APA, instituída pela legislação federal, de gerenciamento federal,
estadual, municipal ou misto, que permita a adequação de atividades
de utilização racional dos recursos naturais com áreas de conservação
e de preservação, evidentemente sob controle de um plano de manejo e
rígida fiscalização.
-
- O
segundo bloco de áreas de conservação ambiental teria dimensões bastante
pequenas (607,5 km2 ou 60.750 ha) e estaria no contorno do
lago de Caracaranã, área muito importante para a atividade de turismo
ecológico e que deve ter um correto plano de manejo que permita a utilização
racional deste recurso.
-
- O
terceiro bloco de áreas de conservação ambiental teria uma distribuição
bastante esparsa e seria representado pelas inúmeras pequenas serras
e morros isolados existentes na savana. Estas pequenas unidades normalmente
são florestadas e servem de abrigo natural dos animais da savana e por
esta razão são bastante utilizadas pelas populações da área para caça.
Algumas áreas de matas ciliares e veredas de buritis também seriam incluídas
neste bloco.
-
- TABELA
34 - Caracterização demográfica das concentrações de malocas indígenas
(blocos)
-
Áreas
de concentração de malocas
|
Área
estimada dos blocos
|
População
total estimada (hbt) - 1996
|
Densidade
demográfica
|
|
ha
|
km2
|
|
hbt/km2
|
km2
/hbt
|
Serra
do Sol
|
90.000
|
900
|
850
|
0.9
|
1.1
|
Raposa-Surumú
|
367.000
|
3.670
|
5.903
|
1.6
|
0.6
|
Maturuca-Tamanduá
|
191.900
|
1.919
|
4.039
|
2.1
|
0.5
|
Rio
Quinô
|
40.000
|
400
|
758
|
1.9
|
0.5
|
Cedro-Patativa
|
15.000
|
150
|
173
|
1.2
|
0.9
|
Saraó
|
2.000
|
20
|
27
|
1.4
|
0.7
|
Totais
|
705.900
|
7.059
|
11.750
|
17
|
4.3
|
- Organizado
por Jaime de Agostinho - 1996
-
- TABELA
35- Caracterização das áreas de concentração de malocas indígenas (blocos)
-
Áreas
de concentração de malocas
|
População
estimada (hbts) 1996
|
Nº
de Malocas
|
Etnias
existentes
|
Recursos
existentes ou potenciais
|
Serra
do Sol
|
850
|
7
|
Ingarikós
|
|
Raposa-Surumú
|
5.903
|
44
|
Macuxis
(97,5%)
Wapixanas
(2,5%)
|
- Várzeas
para culturas comerciais irrigada
- Pastos
naturais para pecuária
|
Maturuca-Tamanduá
|
4.039
|
31
|
Macuxis
|
- Potencial
hidroelétrico
- Mineração
- Pastos
para pecuária
|
Rio
Quinô
|
758
|
5
|
Macuxis
(98,5%) Jaricunas (0,5%)
Taurepangs
(1,0%)
|
- Mineração
- Turismo
ecológico cênico
- Pastos
para pecuária
|
Cedro-Patativa
|
173
|
2
|
Macuxis
|
|
Saraó
|
27
|
1
|
Patamonas
|
- Turismo
ecológico cênico
- Mineração
|
Totais
|
11.750
|
90
|
|
|
Organizado
por Jaime de Agostinho - 1996
FIGURA
17- Freqüência do tamanho populacional das malocas indígenas por bloco
|