Zoneamento Ecológico

 

 

 

 

 

Recomendaram que se avaliasse o monitoramento das transferências de energia e ma-
térias através da aplicação das técnicas do balanço de massa geoquímico e do monitoramento
hidrológico das cargas químicas e sólidas dos rios. A análise qualitativa e quantitativa das
transferências ambientais, naturais e induzidas, permitiria a formulação de modelos que seriam
progressivamente calibrados pelo monitoramento sistemático nas diversas ordens de bacias.
Que se incluíssem os serviços ambientais, dentro da avaliação dos recursos natu-
rais, bem como, que se determinasse as populações indígenas como um importante valor
social.
Uma vez sendo a água essencial para a vida e, portanto, para os propósitos humanos,
sugeriram que a apreciação da qualidade ambiental e da sustentabilidade dos sistemas na-
turais e antrópicos dever-se-ia basear no monitoramento das bacias hidrográficas. Denota-
ram que a rede de drenagem superficial, como um conjunto de canais por onde se realiza a
maior parte das transferências de energia e matéria, deveria instrumentalizar os comitês de
bacias, principal instrumento de gestão do uso conflituoso dos recursos hídricos.
Finalmente, adotando-se as recomendações dos autores, caracteriza-se o desenvolvi-
mento sustentável de acordo com seu âmbito:
— qualitativo: preserva condições ambientais susceptíveis de suportar as próximas
gerações;
— quantitativo: baseia-se em taxas de exploração dos recursos ambientais que não
causem desequilíbrio entre os componentes vitais dos sistemas antrópico-naturais e que, por-
tanto, venham a ser compatíveis com a homeostase ambiental;
— econômico: baseado em modelos viáveis em termos das relações capital natural x
capital humano x mercados;
- ético-cultural: precisa ser aceito pelas sociedades envolvidas. Disso decorre que os
aspectos psicológicos dos indivíduos e das populações têm que ser incorporados ao elenco de
variáveis do ZEE.

3. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE ZEE AO ESTADO DE RORAIMA
3.1. - Concepção geral: Conquanto se tenha partido de uma base de experiências anteriores
em projetos da mesma natureza, efetuaram-se diversas modificações visando ao aperfeiçoa-
mento da análise ambiental  bem como, as especificidades regionais, em especial a questão da

 

 

criticidade dos recursos hídricos e os requerimentos das autoridades roraimenses em face das
questões sociais
As considerações abaixo mencionadas foram fundamentais na configuração da estrutu-
ra de exposição dos dados:


(1)
rio futuro);
(2)


- focalização do ZEE segundo o uso da terra atual versus o uso projetado (cená-

 

–planejamento, segundo as escalas de abrangência, nacional, regional e local,


implicando na produção de documentos cartográficos em duas escalas básicas: 1:250.000 e
1:500.000;


(3)


– abordagem multidisciplinar e sistêmica, disso decorrendo a valorização da


descrição dos sistemas de forma holística, reservando-se as descrições temáticas para um
contexto de memória técnica;


(4)


– adoção da bacia como unidade mais importante do ponto de vista da gestão


administrativa e ambiental e do planejamento e uso dos recursos ambientais;


(5)


– por tudo o acima exposto, trabalhou-se com uma divisão territorial segundo


células básicas - zonas, nas microbacias – que ao se somarem constituem unidades de ordem
hierárquica e topológica sucessivamente maior: microbacias, sub-bacias, bacias e domínios
geográficos.


(6)


 Visando a implementação do enfoque proposto, adotou-se uma divisão hidro-


gráfica do Estado de Roraima, na área abrangida pelo Projeto, conforme mostrado na tabela
12.
O esquema de zoneamento aplicado, conforme detalhado no capítulo de metodologia
poderá ser mais bem compreendido pela observação da tabela 13 cabendo enfatizar os se-
guintes aspectos (chaves):
-  uma unidade de zoneamento pertence a uma única microbacia; por exemplo, se
- uma área indígena ou outra unidade qualquer abranger mais de uma dessas unida-
des hidrográficas, ela será desmembrada em tantos polígonos quantos forem as microbacias
envolvidas;
- procurou-se proteger as partes topograficamente elevadas das microbacias (cabecei-
ras) indicando-as como áreas de preservação, conservação ou como “buffers”de áreas críticas;
- adotou-se por princípio estabelecer uma zonalidade nas bacias, priorizando-se os as-
pectos conservacionistas para as parte altas e reservando-se os usos mais intensivos para as
partes intermediária e baixa;
- procurou-se envolver todas as áreas com algum tipo de restrição (críticas) com “bu-
ffers” de uso restrito ou controlado, com o intuito de prevenir a ocorrência  conflitos de uso;
- ao redor de todos os agrupamentos humanos, recomendou-se reservar áreas destina-
das à expansão dos núcleos populacionais, bem como, para ao uso dos serviços ambientais;
- os rios navegáveis e as rodovias federais e as principais rodovias estaduais foram
considerados eixos de indução à ocupação humana e, portanto, mais susceptíveis a impactos
ambientais. Essa indução está manifestada na forma de “buffers” que contornam esses eixos
em toda a sua extensão.
- ao se categorizar as zonas e os respectivos usos recomendados, tomou-se em consi-
deração as experiências anteriores quanto ao uso da terra na região e os resultados obtidos;

 

- por outro lado, as recomendações quanto ao uso dos solos, sobretudo no que respeita
às tecnologias a serem adotadas, tiveram por alicerce o clima e a avaliação da disponibilidade
hídrica subterrânea e superficial;
- tendo em vista o previsível crescimento da mancha urbana referente à capital Boa
Vista, considerou-se as sub-bacias do rio Caumé e Rio Branco 3, na categoria de “bacias ur-
banas”, alertando que seus serviços ambientais são fundamentais para o desenvolvimento des-
sa cidade;
Deve-se ressaltar, que a quase totalidade dos aperfeiçoamentos e mudanças de diretri-
zes adotados no decorrer do projeto se originaram das discussões ocorridas em diversos semi-
nários regionais para discutir a metodologia do ZEE em todo o Brasil, promovidos pela Se-
cretaria de Desenvolvimento Sustentável – SDS do Ministério do Meio Ambiente. O Coorde-
nador Geral deste projeto compôs a equipe de assessoria da SDS, como representante do Ser-
viço Geológico do Brasil – CPRM.
Como resultado desse grande trabalho que objetivou chegar-se a consenso quanto ao
roteiro básico de procedimentos, chegou-se ao fluxograma apresentado na figura 04, já anteri-
ormente apresentada e que representa com bastante fidedignidade o escopo do trabalho que
ora se apresenta.


 

 

 

 

 

 

3.2 – Descrição das macrozonas

3.2.1 - Macrozona I - Domínio das Savanas Estépicas
3.2.1.1 – Características gerais
Esse domínio engloba trechos dos cursos das bacias dos rios Surumu (alto), Cotingo
(médio) Tacutu I (baixo-médio) e Maú (médio).
Do ponto de vista da paisagem fitogeográfica, o Domínio se caracteriza por áreas to-
pograficamente acidentadas, recobertas por savana(s) estépica(s) parque e estépica(s) arbó-
rea(s), esculpidas em granitos, vulcânicas e coberturas sedimentares paleoproterozóicas cor-
respondendo às porções mais elevadas do setor norte do Estado. As altitudes variam entre
1000 e 1800 metros. As formas de relevo mostram intercalações entre áreas acidentadas; com
forte dissecação; constituídas por morrarias e alinhamentos serranos e áreas rebaixadas, repre-
sentadas por colinas de fraca a média dissecação. No setor setentrional do domínio, ocorrem
extensas serras e morrarias esculpidas em pacotes sedimentares, na forma de “hogbacks”;
mais para norte predominam “cuestas” e mesas.
3.2.1.2- Potencialidades e restrições pedológicas
No extremo norte da bacia do rio Tacutu, nas nascentes do rio Viruaquim, o domínio é
de feições de savana estépica arbórea; ao longo da serra Canaima, ocorrem neossolos litólicos e
afloramentos rochosos, em relevo que varia de suavemente ondulado a ondulado, até montanhoso.
Na parte noroeste, onde nascem o igarapé Javari e outros tributários, região das serras
Flexa, Aviaquário, Xuminã, Buriti e Aninga, em Terra Indígena Raposa – Serra do Sol, apare-
ce uma mancha de savana estépica parque, sobre afloramentos e neossolo litólico, distrófico,
em relevo montanhoso, sem aptidão para lavouras.
Na bacia do rio Cotingo, região do Boqueirão do Quixadá e serra Memória, a savana
estépica parque recobre afloramentos e neossolos litólicos, em relevo montanhoso, considera-
dos inaptos para o uso com lavouras. Da serra Memória, até o limite norte da área (região da
serra Mara), o domínio é de savana estépica arbórea, sobre uma sucessão de solos, em relevos
movimentados e fundos de vales abertos e encaixados, com dominância de neossolo litólico e
afloramentos.
No divisor da bacia do Cotingo com o rio Maú, aparece uma faixa de argissolo ver-
melho eutrófico, em relevo ondulado, proveniente do intemperismo de rochas básicas com
boa potencialidade para lavouras, tendo-se que considerar, variedades adaptadas ao déficit
hídrico inerente à região. No entorno dessa unidade, ocorrem argissolos vermelho-amarelos,
distróficos, em relevo suavemente ondulado a ondulado, com regular potencialidade para la-
vouras. O uso atual está voltado para lavouras de subsistência dos índios Macuxis e de alguns
colonos nos arredores da vila Uiramutã, fora da área do projeto.
A totalidade da bacia do rio Cotingo está inserida na Terra Indígena Raposa – Serra do
Sol, constituída por substrato vulcânico e granítico, além de cobertura sedimentar. Nas déca-
das de 1960-1980 verificou-se importante atividade de garimpagem para ouro e diamante alu-
vionar em Santo Antônio do Pão, Puxa Faca e Água Fria.
Da serra Tipiti (entroncamento da BR-174 com a estrada para a vila Surumu) até a re-
gião da maloca Boca da Mata (subida da serra para a vila Pacaraima), o rio Surumu percorre
área de domínio da savana estépica arbórea, sobre afloramentos e neossolo litólico, em relevo
montanhoso. Essas terras, inaptas para lavoura poderão ser melhor aproveitadas para a preser-
vação da flora e fauna. Nesse trecho, existe um local com uma belíssima cachoeira (igarapé
Macaco, na serra Saracura) que era freqüentada por banhistas do Brasil e Venezuela, hoje
isolada por cerca de concreto e arame farpado, pois pertence à Terra Indígena São Marcos.

 

 

 

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