3 - POSIÇÃO GEOGRÁFICA E GEOPOLÍTICA
3.1 - Localização Geográfica
A localização geográfica é sem dúvida alguma, um dos maiores potenciais do Estado de Roraima tanto na análise geopolítica - estratégica como principalmente na perspectiva econômica.
Roraima é o Estado mais setentrional do Brasil, possuindo quase 2/3 de sua área no hemisfério Norte. Erroneamente a geografia brasileira ainda utiliza a expressãode extensão do País como do Oiapoque ao Chuí, enquanto que o correto deveria ser do Monte Caburaí ao Arroio Chui, já que este ponto geográfico de Roraima alcança 5º 16’19 “de latitude Norte, ao invés dos 4° 21’00” do Cabo Oeste na Foz do Rio Oiapoque.
O Estado insere-se dentro das seguintes coordenadas:
O mapa mostrado na Ilustração 4, nos dá uma idéia da localização geográfica do Estado de Roraima.
ILUSTRAÇÃO - 4 - ESTADO DE RORAIMA - LOCALIZAÇÃO
GEOGRÁFICA
MONTE CABURAÍ – PONTO EXTREMO NORTE DO BRASIL
3.2 - Geopolítica
3.2.1 – Posição Geográfica
Roraima é hoje, sem sombra de dúvida uma das áreas mais estratégicas quanto à localização em toda a Amazônia Ocidental, tanto em aspectos geopolíticos, militares, como principalmente econômicos.
Boa Vista dista menos de 500 Km do porto livre marítimo de Georgetown, na República Cooperativista da Guiana, com uma estrada que possui somente um pequeno trecho a ser concluído dentro daquele país, já existindo mais de 100 Km asfaltados no lado brasileiro (BR-401), além da construção de ponte sobre o Rio Tacutu, ligando Bonfim no Brasil com Lethen na Guiana, prevista para ser entregue no final de 2001. Da mesma forma está a 200Km de Santa Elena do Uairén, no Sul da Venezuela, ligação através de rodovia asfaltada. O porto marítimo venezuelano de Puerto La Cruz dista menos de 1.500 Km por asfalto de Boa Vista, enquanto que o porto fluvial de Puerto Ordaz fica a somente 650 Km de Boa Vista, também por asfalto.
Manaus, liga-se a Boa Vista através da BR-174, rodovia já asfaltada, a uma distância de menos de 750 Km, a partir da capital de Roraima.
A Ilustração 5 nos dá uma idéia da perfeita localização geopolítica de Boa Vista em relação a América do Sul, mostrando a sua importância na ligação do Norte do Brasil Central e da Amazônia Ocidental com a Europa, América e Oriente. A ligação curta e rápida de Boa Vista com o Panamá poderá auxiliar bastante na definição de políticas que visem a implantação de uma Zona de Processamento de Exportação na região.
Na tabela 1 mostra de uma forma resumida as principais distâncias de Boa Vista ao Porto do Panamá separadas por diversos modos de transportes, o que mostra a importância da ligação Boa Vista - Georgetown como a mais economicamente viável
TABELA 1 - DISTÂNCIAS BOA VISTA – PANAMÁ ( Km)
|
MANAUS |
PUERTO LA CRUZ |
GEORGETOWN |
ESTRADA |
750 |
1.500 |
500 |
RIO |
1.800 |
----- |
----- |
MAR |
5.200 |
1.800 |
3.300 |
TOTAL |
7.750 |
3.300 |
3.800 |
Organizado por Jaime de Agostinho – 2 000
ILUSTRAÇÃO 5 - ARTICULAÇÃO ESPACIAL DE BOA VISTA NA
AMÉRICA DO SUL
Historicamente o vale do Rio Branco sempre teve uma grande importância geopolítica estratégica devida ser o elo de ligação entre a Amazônia Ocidental Brasileira com o Oceano Atlântico. O “circuito da grande Ilha da Guiana” composto pelos rios Orinoco, Uraricoera, Tacutu, Rupununi e Essequibo, passando pela costa atlântica já era utilizado ha séculos pelas populações primitivas da área.
Toda a bacia do alto Rio Branco na época anterior a 1 500, era utilizada como área de passagem de grupos indígenas denominados caribes, caracterizados por serem exploradores ou caçadores - coletores, que através do Rio Orinoco atingiam os rios Caura, Paragua e Caroni, chegando até os rios Uraricoera, Tacutú e Rupununi. Nestas incursões, após a subida pelas altas cabeceiras do Rio Orinoco atravessavam a pé a área de savana (lavrado) do Norte/Nordeste de Roraima e chegavam à Bacia do Rio Essequibo, indo daí facilmente de volta à costa onde retomavam às suas áreas de origem.
Os aruaques devido à sua característica mais de comunidades agrícolas, após processos migratórios foram fixando pequenas aldeias em toda a área compreendida pelas margens dos rios Uraricoera, Tacutú, Surumu, Baixo Cotingo, Baixo Maú e Bacias do Rupununi e Essequibo. Estas comunidades ora estabeleciam relações comerciais com os caribes, algum intercâmbio cultural e alianças. Em certas ocasiões ocorriam conflitos, sendo que as vantagens das guerras quase sempre favoreciam aos caribes que possuíam maior agressividade e mobilidade que os aruaques, representados na região pelos grupos uapixanas, saparás e paravianas.
Com a chegada dos espanhóis na região do Caribe a partir de 1 522, os índios caribe do litoral foram sendo exterminados ou empurrados para o interior, fugindo através das vias de circulação já tradicionalmente utilizadas pelos mesmos. Os macuxis, do mesmo tronco lingüístico dos caribes começaram também a serem empurrados para o Sul da bacia do Rio Orinoco, chegando em grupos cada vez mais numerosos à área até então de domínio dos aruaques. O estabelecimento de colônias inglesas e espanholas no fim do século XIV na atual região das Guianas mudou o tipo de relacionamento do europeu com o indígena. Na maior parte das vezes os holandeses e ingleses tinham como aliados os macuxís e outras etnias da área. Ao contrário, os espanhóis provocaram verdadeiro extermínio dos indígenas da bacia do Orinoco através das denominadas "encomiendas” que visavam capturar indígenas para trabalho escravo. O interessante é que eram utilizados os próprios caribes armados pelos espanhóis para a execução desta tarefa.
Tem-se o início da participação dos portugueses na conquista da região no fim do século XV e durante o século XVI, baseando-se nos objetivos de redução dos índios à sujeição portuguesa, comércio de índios escravos e coleta de drogas do sertão e pescarias.
Em 1 639 o padre Christovan da Cunha já dava notícias da possibilidade de se atingir feitorias comerciais holandesas no interior da atual Guiana e Suriname, através do Rio Branco.
A conquista portuguesa esbarrou em algumas dificuldades com as populações nativas na área, já que no início do século XVIII os indígenas manaos iam do baixo Rio Negro até o alto Rio Essequibo, através dos rios Branco e Tacutu realizar trocas de escravos capturados em suas guerras com outras tribos da região por mercadorias nos postos holandeses, principalmente no de Arinda, na foz do Rio Rupununi
Com a prisão e morte de Ajuricaba, líder dos manaos, os portugueses com auxílio dos religiosos carmelitas, anunciam a "libertação" dos gentios do Rio Branco, fazendo as operações de captura de escravos, denominadas “descidas”, onde milhares de indígenas foram exterminados ou capturados, sendo levados para outras regiões, principalmente Pará e Maranhão. Os remanescentes, que não fugiam para áreas de difícil acesso, foram aldeados e condicionados à agricultura que fornecia gêneros às tropas portuguesas dos Fortes São Joaquim, no Rio Tacutú e o da Barra, no Rio Negro. Estes aldeamentos produziram uma diminuição brutal destas populações devido às constantes e intensas epidemias de varíola e sarampo que atacavam quase que exclusivamente os indígenas, caracterizados por sua baixa resistência orgânica e ao íntimo contato com os portugueses, além de estarem concentrados muitos indivíduos em poucos locais, o que facilitava o mecanismo de transmissão das doenças.
Outra dificuldade encontrada pelos portugueses na conquista do vale do Rio Branco foram os espanhóis que desciam o Rio Uraricoera, e fundaram em 1733 os povoados de San Juan Baptista de Cayacaya, Santa Barbara e Santa Rosa, bem como providenciaram o estabelecimento de missão religiosa no Rio Amajarí.
Em razão destas ocorrências, a coroa portuguesa designou o engenheiro alemão Felipe Sturm para construir em 1 775 a fortaleza de São Joaquim, na confluência dos rios Tacutú e Uraricoera, ponto de formação do Rio Branco, que serviu também para defender a penetração dos ingleses e holandeses no vale do Rio Branco através do Rio Tacutu. O Forte de São Joaquim gerou a formação de alguns povoados em suas proximidades, compostos predominantemente por índios aldeados, dos quais podem ser destacados: São Felipe, Nossa Senhora da Conceição, Santa Bárbara, Santa Isabel e Nossa Senhora do Carmo, atual Boa Vista.
Em 1 798 Francisco José Rodrigues Barata, a serviço da coroa portuguesa vai de Belém ao atual Suriname e Guiana passando pelos rios Amazonas, Negro, Branco, Tacutu e Maú, Rupununi e Essequibo, atingindo a localidade de New Amsterdã, de onde retorna pela mesma rota, demonstrando claramente o domínio de Portugal naquela região.
As constantes lutas dos macuxís com os uapixanas que se prolongaram até metade do século XIX facilitou a manutenção da posse territorial dos portugueses, que de certa forma indireta deixaram de ter preocupações com os holandeses e ingleses da região do Essequibo que tinham envolvimento comercial com estas etnias. A partir da construção do Forte de São Joaquim em 1 775 o processo de ocupação territorial começou a ser feito de uma maneira mais permanente, com a implantação de fazendas de gado, engenhos de açúcar e casas de farinha. A fazenda São Marcos foi fundada pelo comandante do Forte São Joaquim Sá Sarmento, a fazenda São José pelo comerciante José Antonio Évora. Cabe ser ressaltado que estas propriedades eram particulares, não pertencendo ao rei como alguns equivocadamente consideram.
A partir desta época o processo de conquista da área Norte/Nordeste teve sua intensificação. Os criadores de gado iniciaram a penetração na área rica de pastagens e começaram a surgir as primeiras fazendas. A interiorização desta atividade começou a atrair as populações indígenas localizadas nos vales dos principais rios, notadamente as que estavam aldeadas, sendo utilizada como vaqueiros ou simplesmente na agricultura de subsistência destas fazendas.
No final do século XIX e início do século XX, inicia-se a conquista do Norte/Nordeste de Roraima, processo denominada “Pata do Boi" tão comum no restante do país, onde o conceito era o de que uma terra sem gado é terra livre, não ocupada por ninguém, enquanto uma terra com gado é uma terra que tem dono. Consequentemente o raciocínio era de que as terras ocupadas por indígenas sem gado poderiam ser ocupadas porque estavam livres.
Esta conquista territorial foi consolidada em conseqüência do êxodo de mais de 500.000 nordestinos para a Amazônia fugindo da grande seca que assolou o Nordeste em 1 877. Parte deste contingente foi assentado pelo Império Brasileiro na faixa de fronteira de 10 léguas, visando o seu rápido povoamento e consequentemente sua vigilância e defesa (Lei 601 de 18/09/1 850). Isto explica que a atual população de Roraima tenha avós e bisavós cearenses, riograndenses do norte, maranhenses e paraibanos, todos de origem rural.
Em 1 887, Henri Coudreau em suas viagens pela região dos vales dos rios Branco e Tacutu detectou a existência de 32 fazendas.
A partir de 1 843 iniciou-se a discussão relativa à fronteira de Roraima com a então Guiana Inglesa, onde a Inglaterra pretendia a anexação de extensa área compreendida pelas bacias dos rios Pirara, Maú e Cotingo. O império brasileiro concordou em neutralizar a região contestada e em 1 901 Joaquim Nabuco negociou com os ingleses uma solução através do arbítrio internacional. Em 1 904 o rei italiano Vitor Emmanuel III arbitrou para o Brasil 13 550 Km² e para a Inglaterra 19 630 Km². Esta decisão foi ratificada em 1 926 pelo “Acordo de Londres”.
A Ilustração 6 nos dá a localização desta área de disputa fronteiriça.
Roraima possui, ao contrário da maior parte dos Estados brasileiros, uma matriz geopolítica mais voltada para fora do País do que para o seu interior. É uma característica única, onde se têm os seus potenciais bem como suas restrições totalmente diferentes da realidade brasileira e até da amazônica.
Os obstáculos territoriais na atualidade praticamente inviabilizaram o crescimento econômico do Estado nos moldes tradicionais, já que mais de 60% de seu território está “congelado” ao processo produtivo. São as áreas indígenas, unidades de conservação, áreas rochosas e áreas permanentemente inundadas que bloqueiam o progresso natural do Estado. O restante das áreas disponíveis ao desenvolvimento tem baixíssimo potencial mineral e solos com pouca fertilidade, além de serem de propriedade da União (INCRA) em sua maioria.
O Estado tem procurado muito timidamente mecanismos compensatórios por parte da União, o que está se tornando mais ativo com a diminuição gradativa dos recursos federais alocados a Roraima nos anos posteriores à Constituição de 1988, gerando um consenso na elite política local que se manifesta colocando que o tratamento dado pela União a Roraima é discriminatório.
Independentemente dos obstáculos descritos, existem mecanismos de polarização que podem, caso mudem-se ou criem-se novas regras constitucionais ou de mercado internacional, tornar o Estado altamente atraente para investimentos.
Estes mecanismos são os elevados potenciais em recursos minerais, hidroeletricidade, turismo ecológico, bem como a viabilização da estrada para Georgetown e facilidade de acesso através da rodovia BR-174 para a Venezuela e Manaus.
Outros mecanismos potenciais podem trazer recursos, infra-estruturas e até um investimento maior da União no Estado. São os mecanismos militares-estratégicos que podem tornar Roraima um dos Estados de maior importância Nacional, devido aos seguintes aspectos:
A Ilustração 9 resume os macro mecanismos aqui descritos.
ILUSTRAÇÃO 9 - MATRIZ GEOPOLÍTICA DE RORAIMA
MACRO MECANISMOS
Jaime de Agostinho - 1.993