Tese Doutorado

mobilidade e reprodução das espécies, e consequentemente para projetos de seu aproveitamento econômico.
 Começamos a ter  recentemente uma série de bons estudos sobre a fauna do Estado restritos à região da Estação Ecológica de Maracá, onde cientistas brasileiros e estrangeiros estão realizando de uma forma sistemática um bom trabalho científico. Não existem ainda no Estado, espécies animais em extinção, mas medidas devem ser tomadas ou reforçadas no sentido de coibir-se a caça indiscriminada e a destruição de ecossistemas significativos.

5.3 - Ecossistemas Significativos
             Independentemente da noção de ecossistema não se alterar conceitualmente, a variação de escala de trabalho modifica significativamente a sua classificação.   Na área de predomínio da savana (lavrados), independentemente da sua relativa falta de cobertura vegetal, vamos encontrar uma diversidade muito grande de ecossistemas, com diferenças bastante significativas entre os mesmos. Como exemplos temos as ilhas de matas, campos de altitude, campos sujos, campos limpos, cerrados, matas ciliares de buritis ou veredas de formações arbóreas, lagos circulares, pés de serras, bem como inúmeras combinações destas unidades.    Já na área de mata amazônica densa apesar da múltipla variedade e quantidade de espécies vegetais temos uma aparente pequena diferenciação de ecossistemas tais como: mata de terra firme, mata de igapó, mata de várzea, etc.  As áreas serranas nos apresentam também uma série de ecossistemas bastante importantes , onde temos a ocorrência de matas de encosta, matas de cipó, vegetação endêmica, etc
O projeto RADAM, em 1975 desenvolveu estudos na escala 1 : 1.000.000 visando a definição de ecossistemas significativos, partindo da análise de sistemas ecológicos integrados (ambiente físico + ambiente biológico) e chegou num mapa de regiões fitoecológicas. A tabela 19 mostra esta classificação. A seguir foi desenvolvida uma chave de classificação dos ecossistemas do estado numa escala 1: 250. 000, exclusivamente baseada nas unidades fisionômicas vegetais. A tabela 20 lista estes ecossistemas. 
Já existe há mais de duas décadas um projeto coordenado pelo IBAMA e executado com o órgão estadual de meio ambiente relativo à proteção dos quelônios do baixo Rio Branco, que tem tido bastante sucesso na missão de repovoamento dos rios e lagos do Estado com tartarugas.  A criação de animais em cativeiro, principalmente quelônios e peixes regionais está tendo bastante sucesso e cresce dia - a - dia, tornando-se um segmento bastante importante do desenvolvimento econômico do Estado.
TABELA 19 - REGIÕES FITOECOLÓGICAS DO ESTADO DE RORAIMA
 (SISTEMAS ECOLÓGICOS INTEGRADOS)

 

 

 

REGIÃO  DA SAVANA

  • SUB-REGIÃO DOS CAMPOS DE RIO BRANCO
  • SUB-REGIÃO DA SUPERFÍCIE DISSECADA DO MÉDIO SURUMU

 

 

REGIÃO DA SAVANA ESTÉPICA

  • SUB-REGIÃO DA SUPERFÍCIE DISSECADA DO ALTO SURUMU

 

 

REGIÃO DAS FORMAÇÕES PIONEIRAS

  • SUB-REGIÃO DA PLANÍCIE DISSECADA DA BACIA DO RIO NEGRO

 

 

REGIÃO DA FLORESTA TROPICAL DENSA

  • SUB-REGIÃO DA SUPERFÍCIE DISSECADA DO COMPLEXO GUIANENSE
  • SUB-REGIÃO DAS BAIXAS CADEIAS DE MONTANHAS DO COMPLEXO GUIANENSE
  • SUB-REGIÃO MONTANHOSA DO PARIMA
  • SUB-REGIÃO DO PLANLTO SEDIMENTAR RORAIMA
  • SUB-REGIÃO DA PLANÍCIE FLUVIAL DO RIO BRANCO

 

 

REGIÃO DA FLORESTA TROPICAL ABERTA

  • SUB-REGIÃO DA SUPERFÍCIE DISSECADA DO COMPLEXO GUIANENSE

 

 

REGIÃO DA FLORESTA TROPICAL ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

  • SUB-REGIÃO DAS BAIXAS CADEIAS DE MONTANHAS DO COMPLEXO GUIANENSE

 

 

ÁREAS DE TENSÃO  ECOLÓGICA

  • CONTATO SAVANA-FLORESTA
  • CONTATO FLORESTA-FLORESTA ESTACIONAL
  • CONTATO SAVNA-FLORESTA ESTACIONAL
  • CONTATO FORMAÇÕES PIONEIRAS-FLORESTA

 

TABELA 20 CLASSIFICAÇÃO DE ECOSSISTEMAS DO ESTADO DE 
                          RORAIMA
                          CHAVE DE CLASSIFICAÇÃO PARA ESCALA 1:250. 000

 

 

SAVANA (CERRADO)

  • ARBÓREA  ABERTA (CAMPO CERRADO)
  • PARQUE
  • GRAMINOSA (CAMPO)

 

SAVANA ESTÉPICA

  • ARBÓREA DENSA
  • ARBÓREA ABERTA
  • GRAMINOSA

 

FORMAÇÕES PIONEIRAS ALUVIAIS

  • ARBÓREAS DE ÁREAS DEPRIMIDAS INUNDADAS PERIODICAMENTE
  • ARBUSTIVAS DAS ÁREAS INUNDADAS PERIODICAMENTE
  • GRAMINOSAS DAS ÁREAS INUNDADAS PERIODICAMENTE

 

FLORESTA TROPICAL DENSA

  • FLORESTA ALUVIAL
  • FLORESTA DAS ÁREAS SUBMONTANAS
  • FLORESTA DAS ÁREAS MONTANAS

 

FLORESTA TROPICAL ABERTA

  • SEM PALMEIRAS
  • COM PALMEIRAS

 

FLORESTA TROPICAL ESTACIONAL (SEMIDECIDUAL)

  • FLORESTA DAS ÁREAS SEDIMENTARES
  • FLORESTA DAS ÁREAS SUBMONTANHOSAS

 

REFÚGIO ECOLÓGICO

  • COM MAIS DE 1.000 M DE ALTITUDE

 

ÁREAS DE TENSÃO ECOLÓGICA

  • CONTATO FLORESTA (DENSA E ABERTA) COM SAVANA
  • CONTATO SAVANA COM FLORESTA ESTACIONAL
  • CONTATO FLORESTA (DENSA E ABERTA) COM FLORESTA ESTACIONAL
  • CONTATO  DE FORMAÇÕES PIONEIRAS COM FLORESTA (DENSA E ABERTA)

 

VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA

  • LATIFOLIADA COM PALMEIRAS

                                                                            FONTE: PROJETO RADAMBRASIL – 1 975

 

De uma forma simplificada as atividades sócio – econômicas - culturais podem ser inseridas dentro de quatro grandes sistemas que fazem parte do meio ambiente antrópico do Estado de Roraima.
Inicialmente temos o sistema urbano representado pelas cidades, onde a capital do Estado, Boa Vista é a que vai ter expressão, seguida muito de longe pelas sedes dos outros municípios onde destacam-se Alto Alegre, Rorainópolis e Caracaraí. As cidades praticamente nada produzem, consomem e transformam os produtos produzidos pelas áreas rurais e garimpos, gerenciam com muita ineficiência o processo administrativo do Estado, gerando a economia do contra - cheque.  A estrutura comercial e de serviços destas áreas tende basicamente a atender à população urbana, que nas suas atividades vai gerar uma série de impactos ambientais, quer no lançamento de esgotos em rios e igarapés, acúmulo de lixo em lugares inadequados, poluição atmosférica e ruídos dos veículos, destruição de áreas naturais pelo processo de urbanização e para a extração de materiais para construção civil, etc.
Já no sistema representado pelas  áreas rurais, independentemente de terem menor contingente populacional que as cidades  é onde se concentra hoje a pouca atividade produtiva de Roraima, gerando produtos de necessidades básicas (cereais, carne, leite e seus derivados, frutas ,  pequenos animais e aves) que são quase que totalmente consumidos pelas áreas urbanas do Estado.   Começamos a ter na área rural alguns projetos de médio porte com infra-estrutura e financiamentos. É o caso de projetos incentivados, pela SUDAM  na área de agropecuária , que necessitam ser melhores avaliados para ver se valeram a pena, bem como as   plantações de arroz irrigado com ótimos resultados de produtividade, mas de benefício fiscal pouco significativo para o Estado devido falta de uma eficiente fiscalização.     Como impactos ambientais destas atividades temos principalmente as águas de drenagem das culturas irrigadas que carreiam materiais residuais de agrotóxicos e adubos, além dos sedimentos que vão poluir os rios à montante de Boa Vista.
Independentemente de não terem sido realizados estudos prévios de impactos ambientais adequados com o porte do empreendimento, e nem testes de campo visando determinar as  características pedológicas e ecológicas da região, o Governo Estadual está bancando atualmente mega projetos de plantio extensivo de grãos, principalmente soja, cujos resultados econômicos e principalmente ambientais são ainda desconhecidos.   Como por exemplo, temos o “Grão Norte”, que em sua primeira safra (1 999 – 2 000) teve uma quebra em 70% da produção esperada.
Outro sistema é o representado pelas áreas indígenas  representadas  na região Norte - Nordeste dos Estado por populações indígenas altamente aculturadas que são  confundidas facilmente  com outros habitantes não índios das áreas rurais, mostrando uma completa participação dos mesmos no processo produtivo da agropecuária do Estado. 
 Já na porção Oeste temos os ianomami que sobrevivem na área antes da chegada dos não índios, tendo sido contatados de uma forma muito impactante pela sociedade envolvente, onde o garimpo transformou boa parte desta sociedade primitiva em alvos fáceis para a sua completa extinção.  Devido à dependência alimentar e aos usos e costumes introduzidos pelo garimpo, missionários e Organizações Não Governamentais, normalmente estrangeiras e sem muita experiência prática na região, fazem com que estes povos primitivos não possam mais viver sem o contato com os mesmos, fazendo com que existam hoje poucas comunidades isoladas na área ianomami.    Dentro desta mesma área temos os maiangongues, que chegam a estar numa forma bastante adiantada de aculturação há bastante tempo. São ótimos canoeiros, praticam regularmente o garimpo manual e dominam culturalmente e comercialmente os poucos macús e grande parte dos uaicás no alto Rio Uraricoera e bacia do Rio Uarís.
No Sul do Estado temos os uaimirí-atroaris , que apesar de todas as pressões de extinção que sofreram nas últimas décadas ainda  permanecem  semi - primitivos, iniciando um sensível  processo de crescimento populacional e melhoria de qualidade de vida devido aos “royalties”  pagos pela Eletronorte que inundou boa parte de sua reserva  para o enchimento do lago da hidrelétrica de Balbina e também por ajuda financeira e material fornecida pela Mineração Taboca, que utiliza o território destes indígenas para passagem de  estrada de rodagem que liga as minas de cassiterita e tantalita das minas do  Pitinga com a BR-174.
Os uai-uais no Sudeste do Estado após passarem por grandes deslocamentos de sua comunidades da Guiana para o Brasil e transformações culturais provocadas principalmente por missões protestantes, começam a se integrar no sistema produtivo da região Sul do Estado.          
No Norte-Nordeste de Roraima os macuxis, uapixanas e taurepangs, como já foi mostrado estão em estágio completo de integração e produção agropecuária e até em garimpo mecanizado, tal como se pode constatar no Rio Quinô, bacia do alto Rio Cotingo.
Os ingaricós, mais isolados, e com grande mobilidade sazonal para a Guiana, possuem um nível médio de integração e poderiam ser inseridos em projetos de turismo ecológico utilizando-se os belos recursos cênicos que existem em suas terras, bem como mostrando a sua rica cultura ainda não muito deturpada pelas entidades religiosas.
E finalmente temos o sistema representado pelas atividades do garimpo, tradicional no Estado há muitos anos, principalmente ligado à extração de diamantes, quando era realizado de uma forma mais harmônica com o meio ambiente. Com o “boom” do garimpo de ouro na área ianomami na década passada a situação tornou-se incontrolável nos aspectos  ambientais,  impactos  culturais nos indígenas isolados, impactos sociais culturais na cidade de Boa Vista, etc. Atualmente o garimpo restringe-se à Serra do Tepequém, única área autorizada pelo Governo Federal no Estado para este tipo de atividade e  à bacia do Rio Quinô, onde o impacto ambiental é muito grande, apesar dos garimpeiros terem acordos e sociedades com os indígenas macuxis na área, com anuência da própria FUNAI.  Os garimpos no médio Rio Cotingo e Rio Maú ainda subsistem independentemente da baixa produtividade, bem como também alguns poucos de forma clandestina na área ianomami.
A Ilustração 36 mostra esquematicamente a integração das diversas atividades que compõem o meio ambiente global do Estado.

ILUSTRAÇÃO 36 – I NTEGRAÇÃO DAS PRINCIPAIS  ATIVIDADES  NO     
                                    ESTADO DE RORAIMA

 

 

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