Laudo Técnico

2 - A SITUAÇÃO ATUAL (1998) DA CALHA DO RIO BRANCO E AFLUENTES

 

 

 

              Roraima, o Estado mais setentrional do País , é sem dúvida nenhuma o que vai ter o maior

número de ecossistemas representativos da Amazônia, bem como os maiores contrastes. Selva

equatorial de terra firme, igapós, pântanos, matas de várzea, várzeas de campos, campinaranas,

cerrados, campos, matas de encosta e de altitude, refúgios paleoclimáticos, são alguns dos tipos de

sistemas de vegetação que encontramos nos mais de 225.000km2 do Estado.

 

              As formas de relevo também variam bastante, indo desde as áreas de planície amazônica

típica, passando por extensos planaltos de suaves ondulações, morros e serras isoladas e tendo a

bacia de sedimentos recentes de Boa Vista encravada no seu interior, com uma infinidade de lagos

circulares e veredas de buritis; até atingir a imponência das áreas serranas de Pacaraima e Parima,

onde entre outros localizam-se o Monte Roraima (Ponto culminante do Estado com 2.875 mts de

altitude) e o Monte Caburaí (Ponto mais extremo do Norte do Brasil).

 

              Em função de sua localização geográfica o Estado de Roraima vai ter uma característica

climática totalmente oposta ao restante da Amazônia Ocidental, principalmente no que diz respeito

ao regime de chuvas. Enquanto temos em Manaus a época de grandes chuvas (inverno), em

Roraima, que dista a menos de 800 quilômetros ao Norte, vamos ter o pico da estiagem (verão).

 

              A área Norte-Nordeste do Estado, onde localiza-se a capital Boa Vista, vai receber em boa

parte do ano a influência direta dos ventos alísios provenientes da região litorânea da Guiana que

dista a menos de 500 km em linha reta de Boa Vista, sem praticamente nenhum obstáculo

significativo de áreas montanhosas, o que torna o clima regional ameno e bastante agradável.

 

              Quanto à situação dos ecossistemas de Roraima podemos dizer que a maior partes deles

ainda sofre na sua estrutura impactos significativos da ação humana.

 

              Vemos por exemplo nas áreas de mata amazônica, que ocupam mais de 50% do total da

área do Estado, um desmatamento com um pouco mais de 2% de sua área total, o que coloca

Roraima junto com o Estado do Amazonas como as áreas florestais menos degradadas da

Amazônia brasileira.

 

              Ao contrário quando examinarmos os restantes 31% de campos e savanas e os 19% de

matas de transição é que teremos o verdadeiro caos ecológico que se encontra Roraima. As áreas de

campos e savanas sofrem todos os anos queimadas induzidas pelos indígenas e agro-pecuaristas,

que assim imaginam erroneamente estar melhorando a qualidade das pastagens que nascerão após

as primeiras chuvas do inverno. Na área de matas de transição é que estão localizados os maiores

projetos de assentamento fundiário patrocinados pelo INCRA e pelo Governo Estadual, com

colonos sem nenhuma tecnologia que utilizam-se do processo da coivara, isto é desmatamento e

queima da vegetação para o plantio de culturas de subsistência.

 

 

              Neste ano de 1998 estamos tendo um dos maiores desastres ecológicos que já se tem

notícia no País, com um incêndio de gigantescas proporções que está grassando nas matas de

transição ao Sul de Boa Vista, provocado principalmente nos assentamentos rurais pela prática de

tecnologias primitivas pelos agricultores aí assentados.

 

 

              Quanto à fauna terrestre, a mesma não é muito rica no Estado, tanto devido ao estado atual

dos ecossistemas existentes como principalmente pela intensa caça que se desenvolveu desde

muitos anos passado com mais intensidade nas áreas de savanas e matas de transição.

 

              A avifauna é bastante rica e altamente dispersa pelos diversos ecossistemas do Estado,

principalmente nas áreas de lagos das savanas, sendo ponto de passagens e parada de inúmeras

espécies de aves migratórias, inclusive intercontinentais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2.1.2 - Qualidade ambiental da bacia do alto Rio Branco

 

              Especificamente para a região da bacia do alto Rio Branco temos o meio ambiente regional

bastante alterado, e as poucas áreas que podemos dizer que ainda tem algum potencial ambiental

estão sendo diariamente ameaçadas por diversas atividades que vão desde a extração de materiais

para construção civil, obtenção de lenha para combustível, desmatamentos para novos loteamentos

e obras públicas, lançamento de esgotos e lixo domésticos em rios e igarapés, especulação

imobiliária na orla dos rios Branco, Cauamé e Água Boa, extensos desmatamentos para expansão

de plantio de arroz irrigado nas várzeas dos principais rios e finalizando com atividades de lazer

predadoras que pouco a pouco vão destruindo as matas ciliares de todos os rios e igarapés da área.

 

              O regime do alto Rio Branco é bastante complexo devido ao comportamento climático

diverso das duas principais bacias formadoras do mesmo. Temos de um modo geral dois tipos de

situações no regime do Rio Branco, um com altas águas no período que vai de junho a agosto, com

o pico das cheias em julho , provocando grandes inundações das áreas ribeirinhas e ilhas, inclusive

de parte de áreas urbanizadas baixas de Boa Vista ( Bairros do Beiral, Lipilândia e São Pedro), e

um outro com uma impressionante baixa das águas que vai de dezembro a abril, com o mínimo em

março, ocasião em que torna muito difícil a navegação, inclusive por pequenas embarcações.

 

              Neste início de 1998 estamos tendo uma seca excepcional, não vista a mais de 20 anos.

Como assuntos específicos de qualidade ambiental que irão interessar a esta peritagem no que diz

respeito a um diagnóstico ambiental global temos a qualidade atual dos rios Branco, Cauamé e

Mucajaí e a situação das matas ciliares marginais dos mesmos rios, denominadas de vegetação de

preservação permanente, analisados nos dois sub-ítens a seguir.
A - Qualidade ambiental das águas dos rios Branco, Cauamé e Mucajaí

 

              Quanto à bacia do alto Rio Branco, que interessa especificamente a esta peritagem

nós podemos inferir através de uma análise histórica de imagens de satélite o

comportamento da qualidade das águas quanto à existência de material sólido em

suspensão.

 

              Utilizando-se do software SGI/SITIM desenvolvido pelo INPE - Instituto Nacional

de Pesquisas Espaciais e industrializado pela Engespaço Indústria e Comércio Ltda foram

definidos os padrões de refletância para águas limpas e águas com sólidos em suspensão. A

Figura 3 nos mostra duas fotos tiradas do monitor de imagem de uma estação de

geoprocessamento e sensoriamento remoto em que aparecem os histogramas relativos à

amostragens espectrais de superfícies de água com e sem sólidos em suspensão.

 

              A partir destes dados inseridos no software foram identificadas as águas dos rios na

imagem obtida da área do alto Rio Branco em função de sua carga de sólidos em suspensão.

      
              A Figuras 4 mostra claramente a diferença de cargas de material em suspensão

(Azul mais claro : alta taxa de sólidos em suspensão ) entre os rios Uraricoera e Tacutú,

formadores do Rio Branco. Podemos observar que as águas do Rio Tacutú vão correr sem

muita mistura após a formação do Rio Branco, pela sua margem esquerda, chegando a

manter esta situação inclusive na área de Boa Vista, tal como se pode observar na Figura 5,

onde as águas com alto teor de sólidos em suspensão vão ser representadas pela cor rosa

escuro e as águas sem estas em azul escuro.

 

              A explicação para esta elevada taxa de sólidos em suspensão no Rio Tacutú e sua

influência nítida na qualidade do alto Rio Branco advém das elevadas cargas de sedimentos

que são lançados na bacia do rio Quinô, ao Norte do Estado por atividades garimpeiras

clandestinas que exercem esta atividade ilegal e altamente impactadora do meio ambiente

desde o início da década de 90. As Figuras 6 e 7 respectivamente mostram fotos tomadas na

foz do Rio Quinô no Rio Cotingo em 1991 e em 1995, que nem necessitariam de legenda

para mostrar a gravidade do problema.

 

              Imagens de satélite do ano passado (Figura 10) em que aparecem as águas com

elevada concentração de sólidos em suspensão na margem esquerda no Rio Branco

confirma que o problema ainda continua com a mesma intensidade. Com o objetivo de

comprovar a continuidade dos efeitos dos sedimentos gerados pelo garimpo na bacia do Rio

Quinô atingindo o Rio Surumú através das águas do Rio Cotingo temos a Figura 8 que

mostra a foz do Rio Cotingo no Rio Surumú, que a partir daí é praticamente tomado pelos

sedimentos em suspensão. O Rio Surumú vai desaguar no Rio Tacutú que recebe toda esta

carga de poluentes e finalmente vai se encontrar com o Rio Uraricoera e formar o Rio

Branco, que irá receber do Rio Tacutú todos os sólidos por ele carreados, mostrado em foto

aérea na Figura 9.

 

              A Figura 10 nos dá idéia através de imagem de satélite de 1 997 a continuidade do

processo de poluição por sólidos em suspensão que ocorre do meio do rio para a sua

margem esquerda, comprovando que a poluição proveniente do Rio Tacutú descrita nos

parágrafos anteriores continua a persistir.

 

              No que diz respeito à poluição do Rio Cauamé notamos que o seu problema é mais

ligado à contaminação biológica, já que dados históricos mostram um crescendo assustador

principalmente de coliformes fecais, indicadores de poluição por esgotos. Em 1.991 os

dados atingiam até 1 100 coliformes fecais/100 ml no trecho da foz do Igarapé Caranã.

 

            
              Neste mesmo rio, na mesma campanha de amostragem os dados de turbidez, um

 dos indicadores de material em suspensão mostraram valores bastantes reduzidos com os

obtidos no Rio Branco. Em recente amostragem realizada por esta peritagem no mês de

março de 1998 os dados tenderam a ser maiores no que diz respeito a coliformes fecais,

enquanto que a observação da turbidez mostram valores ainda bastante próximos a 1 991.

 

 
              Quanto ao Rio Mucajaí, independentemente da sua situação bastante crítica quanto

a sólidos em suspensão na década de 80 e início dos anos 90, devido à intensa garimpagem

de ouro que se processou em suas cabeceiras na área indígena Yanomami, desde 1 992 a

situação começou a ficar próxima à normalidade, conforme pode-se constatar pela imagem

tratada e programada para a detecção de altos índices de turbidez da água, mostrada pela

Figura 11 . Nesta figura temos mostrada bem nítida, com realce rosa as águas com alta

concentração de sólidos em suspensão na margem esquerda do Rio Branco ( ponto A ) e em

azul escuro as águas da margem direita com baixa concentração de sólidos em suspensão

(ponto B ), semelhante ao que vemos nas águas do Rio Mucajaí.

 

 


ÁGUA  LIMPA


ÁGUA  COM  TURBIDEZ  ELEVADA

 

Figura 3 - Histogramas relativos a duas amostragens espectrais realizadas em imagem de satélite Landsat Bandas 3, 4 e 5 - Data de passagem : 4/10/1 992 - Fonte: Exercício de aplicação do Sistema SGI/SITIM - INPE - Jaime de Agostinho - CZEE/RR Abril /1996

 

.

 

 

Figura 4 - Foto da tela de estação de geoprocessamento e sensoriamento remoto - SGI/SITIM, mostrando a aplicação de padrões de refletância correlacionados com material em suspensão em superfícies líquidas usando imagem Landsat Bandas 3, 4 e 5 Data de passagem 4/10/1992. Região da junção dos rios Uraricoera e Tacutú, formando o Rio Branco. Fonte: Exercício de aplicação do Sistema SGI/SITIM - INPE - Jaime de Agostinho -CZEE/RR Abril / 1996

 

 

 

 

 

 

 

Figura 5 - Foto da tela de estação de geoprocessamento e sensoriamento remoto SGI/SITIM, mostrando a aplicação de padrões de refletância correlacionados com material em suspensão em superfícies líquidas usando imagem Landsat Bandas 3, 4 e 5 Data de passagem 4/10/ 1992. Região do alto Rio Branco - Fonte: Exercício de aplicação do Sistema SGI/SITIM - INPE - Jaime de Agostinho - CZEE/RR Abril/1.996

.

Figura 6 - Foto da foz do Rio Quinô no Rio Cotingo ( Janeiro de 1991). Vistoria realizada em janeiro de 1991 pelo Departamento do Meio Ambiente da Semaijus na bacia do rio Quinô - Roraima –
Foto de Jaime de Agostinho

 

 

.

Figura 7 - Foto da foz do Rio Quinô no Rio Cotingo (13/ janeiro/1995).
Foto : Jaime de Agostinho

 

 

.

Figura 8 - Foz do Rio Cotingo (barrento) no Rio Surumú (escuro)/( janeiro/ 1992 ) Foto: Jaime de Agostinho

.

Figura 9 - Formação do Rio Branco pela junção dos rios Uraricoera e Tacutú -( janeiro de 1991). Vistoria realizada em janeiro de 1991 pelo Departamento do Meio Ambiente da Semaijus na bacia do rio Quinô/Roraima. Foto de Jaime de Agostinho

.

Figura 10 - Imagem do satélite Landsat obtida em 1997 tratada mostrando a região de Boa Vista - Roraima - Imagem cedida pelo INPE - Divisão de Geração de Imagens

.

 

Figura 11 - Foto da tela de estação de geoprocessamento e sensoriamento remoto SGI/SITIM, mostrando a aplicação de padrões de refletância correlacionados com material em suspensão em superfícies líquidas usando imagem Landsat Bandas 3, 4 e 5 Data de passagem 4/10/ 1 992. Região do alto Rio Branco / Bacia do Rio Mucajaí - Fonte: Exercício de aplicação do Sistema SGI/SITIM - INPE - Jaime de Agostinho - CZEE/RR Abril / 1996

 

  • B - Diagnóstico das matas ciliares do alto Rio Branco e de seus principais  

            afluentes

 

             As matas ciliares são consideradas em Lei Federal como vegetação de

preservação permanente . A Lei Federal n° 4 771 de 15 de setembro de 1 965 instituiu

o novo Código Florestal, constando no seu artigo 2° : - Consideram-se de preservação

permanente pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural

situadas :

 

 

  • - ao longo dos rios de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa

 

         marginal cuja largura mínima seja :

  • 1...................................................................................................................) –

 

  • 5) - de 500 (quinhentos) metros para cursos d’água que tenham largura

 

             superior a 600 (seiscentos) metros [CASO DOS RIOS: BRANCO,

            CAUAMÉ E MUCAJAÍ]

 

              A Resolução n° 4 de 18 de setembro de 1985 do CONAMA - Conselho

Nacional do Meio Ambiente homologa e enriquece a Lei Federal n° 6 938, definindo

melhor a aplicação da referida Lei pelos órgãos responsáveis pela proteção ambiental.

 

              Uma das inclusões desta Resolução é a relativa ao Art. 3° - São Reservas

Ecológicas :

a)-.......................................................................................................................

b)- as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

  • I - Ao longo dos rios ou de outro qualquer corpo d’água, em faixa marginal

 

     além do leito maior sazonal, medida horizontalmente, cuja largura mínima

     será:

  • _ ...............................................................................................

 

  • _ de 100 (cem) metros para todos os cursos d’água cuja largura seja superior a
  • 200 (duzentos) metros .....................................

 

              A Figura 12 nos dá uma idéia da localização das áreas de vegetação de preservação

permanente com relação ao Rio Branco.
 

Figura 12 - Faixas de vegetação de preservação permanente no Rio Branco.

 

 

              As matas ciliares ou de galeria são parte integrante dos ecossistemas de

campos e savanas, predominantes na região da bacia do alto Rio Branco. Possuem

uma importância muito grande nos mecanismos naturais de controle da erosão das

áreas marginais dos rios, bem como de retenção dos materiais argilosos e arenosos

provenientes das áreas de campos e savanas gerados por mecanismos naturais ou

antrópicos. Independentemente da proteção oficial deste tipo de vegetação, é um dos

que mais sofre a ação antrópica, quer para liberar espaços a beira dos rios para

múltiplas atividades das quais se destacam a urbanização e a extração de materiais

para construção civil ou simplesmente para fornecimento de combustíveis.

 

              No caso específico das margens do Rio Branco junto a Boa Vista temos nos

últimos 50 anos uma diminuição crescente das matas ciliares, situação esta que se

acelerou nos últimos 10 anos. A Figura 13 nos dá uma idéia da situação em 1 922,

ocasião da tomada desta foto aérea pela expedição do norte-americano Hamilton Rice

à região do Rio Branco. Ao continuarmos a análise, a Figura 14 nos mostra foto

trimetrogon realizada pela Força Aérea Americana em 1 942 onde temos com

bastante precisão as ocorrências de matas ciliares, foto esta utilizada como base

inicial para o estabelecimento de mapa evolutivo da situação ambiental do alto Rio

Branco (Figura 20 ).

 

              A seguir são mostradas pelas figuras de 15 a 19 uma série histórica de fotos/imagens

de satélite que respectivamente cobrem as seguintes datas: 1.972, 1.985, 1.992, 1.993, 1.997.

Estas fotos/imagens ajudaram a montar o mapa evolutivo da situação ambiental do alto Rio

Branco, mostrado pela Figura 20.

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 13 - Tomada aérea da vila de Boa Vista pela expedição Rice em 1922 - Fonte : Rice, Alexander Hamilton - Exploração da Guiana brasileira Editora da USP – 1978

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

.

Figura 14 - Fotografia Trimetrogon tomada pela USAF em 19/1/1940 na região da cidade de Boa Vista. - Fonte : Guerra, Teixeira Estudo geográfico do Território do Rio Branco CNG/IBGE - 1957

.

Figura 15 - Imagem radar da região de Boa Vista - 1972 –
Fonte: Projeto RADAMBRASIL - Folha 1:250.000 imagem radar – 1972

 

 

.

Figura 16 - Imagem do satélite LANDSAT cobrindo a região de Boa Vista RR - Setembro de 1 985 –
 Fonte: Imagem 1:250 000 - Bandas 3, 4 e 5 - INPE - 1985

.

Figura 17 - Imagem satélite LANDSAT - tratada, referente à região de Boa Vista RR - Janeiro de 1992. - Fonte: Imagem tratada com falsa cor ( vegetação aparece em vermelho ) INPE – 1992

.

Figura 18 -Imagem radar do satélite japonês JERS, referente à região de - Boa Vista-RR - Novembro de 1993 - Fonte: INPE 1993

.

 

 

Figura 19 - Imagem tratada do satélite LANDSAT. Boa Vista RR - 11 de março/98 Fonte: Estação COTO PAXI - Equador cedida pelo INPE

.

 

Figura 20 - Mapa evolutivo simplificado das condições ambientais da bacia do alto Rio Branco nos últimos 50 anos. - [Jaime de Agostinho - março/1.998]

         Branco e de seus afluentes

 

 

              Existem algumas formas padrões de equipamentos e sistemas que são utilizadas para a

exploração dos minerais de utilização imediata na construção civil, localizando-se estas atividades

extrativas na calha aluvionar do alto Rio Branco e seus principais afluentes. Normalmente são

utilizados equipamentos de baixa tecnologia, com inúmeras adaptações e com a utilização de mão-

de - obra de pouca qualificação técnica.

 

              Visando a redução dos gastos operacionais e aumento dos lucros os responsáveis por estas

atividades extrativas estão procurando novas formas de exploração, que em sua maior parte

provocam sérios problemas ambientais e de segurança, dos quais podem ser destacados:

desmatamentos de matas ciliares, dragagem em pontos de pesca, interrupção dos canais de

navegação, bloqueio físico dos canais dos rios por aterros ou diques, etc.

 

              A seguir são descritos de uma forma simples os principais equipamentos e sistemas

utilizados para a mineração de materiais de uso imediato na construção civil na calha aluvionar do

alto Rio Branco e seus afluentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

              Este é o tipo de equipamento mais utilizado na área, normalmente composto por bombas

de sucção com diâmetros superiores a 6 polegadas e sistema de mangueiras ou tubos para a retirada

do material do fundo.

 

              Existem em operação os modelos clássicos de balsas sugadoras com a casa de máquinas

sobre flutuadores e a descarga da areia e/ou seixos é realizada em barcaça que fica atracada ao lado

da balsa até a sua carga estar completa, quando então a barcaça é conduzida ou empurrada por um

pequeno rebocador. A Figura 21 mostra alguns destes sistemas.

 

              Já existe na área equipamento mais sofisticado para a extração de seixos, composto por

uma balsa maior onde praticamente se concentra todo o processo de extração, armazenamento ,

transporte e descarga. Este equipamento empurrado por um pequeno rebocador vai possuir uma

grande mobilidade, tanto para a extração de seixos em áreas mais propícias, como principalmente

leva o material extraído em porto adequado para a descarga mecanizada. A Figura 22 mostra a foto

de uma balsa deste tipo em operação no Rio Branco.

 

 

 

 

 

 

 




Figura 21 e 21a - Balsas com bombas de sucção (chupadoras) em atividade no alto Rio Branco. –
Fotos: Jaime de Agostinho - Março/1998

.

 

 

 


Figura 22 - Balsa completa, com boa tecnologia, utilizada para extração de seixos no alto

                    Rio Branco. –

                    Foto:Jaime de Agostinho 1.992

 

 

              Uma outra forma de utilização de bombas de sucção para a exploração de areias e

seixos no leito do Rio Branco e afluentes é realizada através da instalação de um sistema de

moto bomba em pequenas balsas e a sua ligação com a margem do rio através de

mangueiras ou tubos rígidos sustentados por flutuadores , normalmente adaptados com

tambores vazios de combustível. Durante a peritagem realizada na primeira quinzena de

março de 1.998 observamos quatro instalações que estavam se utilizando desta técnica.

 

              Este tipo de instalação, independentemente de ser mais barata, tanto no valor dos

equipamentos como na sua operação/manutenção , provoca uma série de problemas . Destes

problemas podemos destacar: o bloqueio à navegação com perigos aos pequenos barcos,

principalmente durante a noite, já que o sistema não possui nenhuma forma de sinalização e

os grandes danos ambientais advindos da destruição da mata ciliar para a instalação das

caixas de recepção de areias e seixos.

 

              A Figura 23 nos mostra um exemplo deste tipo de instalação localizada na margem

esquerda do Rio Branco, um pouco acima da ponte dos macuxís, no único canal navegável

do rio nesta época do ano


 

 

Figura 23 - Sistema de extração de areias e seixos ligada diretamente à margem do Rio Branco. - Foto : Jaime de Agostinho - Março de 1998.

 

 

2.2.2 - Extração de areias e seixos em ilhas no meio do leito do rio

 

           É uma atividade típica no verão, quando certas partes do Rio Branco permitem o

acesso por terra às ilhas de areia e seixos. Esta atividade já é realizada a mais de 5 anos no setor da

margem direita do Rio Branco um pouco abaixo da ponte dos macuxís. Nesta área as máquinas e

caçambas chegam a centenas de metros em ilhas no centro do canal secundário direito através da

construção de um aterro temporário que liga a margem até a ;área de extração. Nesta ilha também

vai existir a atividade de uma balsa com bomba de sucção para a retirada de seixos. A figura 24 nos

mostra uma foto desta área de extração mineral.

 

Abaixo da área situada na margem direita do Rio Branco, nos fundos do Distrito Industrial

de Boa Vista temos também a utilização deste processo para a extração de areia . Em certas

áreas, como por exemplo próximo à foz do Rio Mucajaí, temos no leito seco do Rio Branco,

em sua margem direita a extração direta de areia e seixos sem necessidade de qualquer obra de

aterro. A Figura 25 nos mostra foto desta área.

 

              Nas margens do Rio Cauamé e do seu afluente Rio Murupú vamos ter também nesta época

mais seca a retirada direta de areia com a utilização de pás carregadeiras e caçambas, que provocam

grandes estragos tanto nas matas ciliares destes rios, como principalmente destroem praias de uso

para lazer da população.

 

 

 

 



Figura 24 - Extração de areias e seixos de lhas através de aterros ligando a margem do Rio Branco aos equipamentos de retirada de areia e seixos - Área na margem direita do Rio Branco, um pouco abaixo da ponte dos macuxís. –

 Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1 998

 

Figura 25 - Extração direta do leito do Rio Branco de areias e seixos, região próxima à foz do
Rio Mucajaí, margem direita do Rio Branco. –
Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

2.2.3 - Extração de argila nas várzeas dos rios para atividades oleiras

 

              Esta atividade extrativa resume-se basicamente no verão, quando as áreas de

várzeas permitem o acesso. Durante o inverno os poucos oleiros que conseguiram

armazenar barro em locais mais altos podem continuar a sua atividade, mas de uma

forma geral somente as empresas industriais de tijolos e telhas conseguem estocar

quantidades suficientes de barro para a época das chuvas. A Figura 26 nos dá uma idéia

através de duas fotos que mostram como ficam as áreas de extração de barro na época

das chuvas. A primeira foto é relativa ao assentamento da Associação dos Oleiros de Boa

Vista, na margem esquerda do Rio Branco, um pouco acima da ponte dos macuxís, e a

segunda área é na margem direita do Rio Branco, um pouco abaixo da ponte dos

macuxís. O processo na maior parte das áreas é manual com o uso se ferramentas

rudimentares, sendo que as cavas raramente ultrapassam a profundidade de 3 metros

devido à dificuldade de retirada do barro a partir desta altura.

 

              Em pouquíssimas áreas temos a utilização de máquinas (tratores de esteira e pás

carregadeiras) normalmente a serviço de indústrias cerâmicas semi-automatizadas

localizadas em outros locais fora da área extrativa. A extração manual normalmente vai

fornecer a matéria prima para a fabricação de tijolos por processos artesanais em caieiras

junto às áreas extrativas. A Figura 27 nos dá uma idéia do arranjo das áreas de extração

manual na margem esquerda do Rio Branco, no assentamento da Associação dos Oleiros

de Boa Vista. A Figura 28 nos dá uma idéia da profundidade máxima que pode ser

explorada uma cava por métodos manuais.

 

 


A - Margem esquerda do Rio Branco junto à ponte dos macuxís

 


B - Margem direita do Rio Branco um pouco abaixo da ponte dos macuxís

 

Figura 26 - Áreas extrativas de argilas nas várzeas do Rio Branco durante a época das chuvas ( inverno ) –
Fotos: Jaime de Agostinho Junho de 1995


Figura 27 - Foto aérea mostrando o arranjo dos oleiros que usam processos manuais de extração do barro e fabricação dos tijolos no próprio local. - Foto: Jaime de Agostinho - Marco de 1998

 



Figura 28 - Foto de uma cava para a retirada de argila para a fabricação de tijolos em sua profundidade máxima de aproveitamento por processos manuais. Assentamento da Associação dos Oleiros de Boa Vista - Olaria Cunhã-Pucá - Município do Cantá –
 Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

 

 

2.2.4 - Extração de piçarra e pedra jacaré (laterita)

 

 

              Este tipo de material tem larga aplicação nos processos de construção civil, a pedra jacaré

em blocos é de ampla utilização tanto para a execução de alicerces das residências mais simples

como para compor concretos de alta resistência usados para pisos e até estruturas arquitetônicas.

 

              Tanto a pedra jacaré (blocos) como a piçarra (estrutura arenosa) vão ser materiais retirados

dos terraços intermediários dos principais vales de rios da região, locais geralmente ocupados por

extensas matas galerias, principalmente com a ocorrência de veredas de buritís.

 

              Atualmente, dentro do perímetro urbano de Boa Vista , temos áreas de extração

clandestinas de pedra jacaré nos vales dos igarapés Caranã, Pricumã e Mirandinha. No que diz

respeito à extração de piçarra temos inúmeras áreas fornecedoras deste material, largamente

utilizado para obras de terraplanagem de vias e rodovias, tendo o Poder Público Estadual e Federal

como os maiores consumidores. Uma área que foi a maior e continua a sendo a maior fornecedora

deste material vai ser o vale do Rio Cauamé, desde o seu médio curso até o baixo curso. É bastante

famosa a piçarreira dos fundos da Base Aérea de Boa Vista, mostrada na Figura 29, bem como as

do Curupira e do Caçarí.

 

 

 

 

 

 


 

 

Figura 29 - Áreas de extração tradicional de piçarra dentro do perímetro urbano de Boa Vista - Fundos da Base Aérea - Vale do Rio Cauamé
Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista. - Levantamento aerofotogramétrico - 1984

 

Voltar ao sumário | Voltar ao topo