Roraima, o Estado mais setentrional do País , é sem dúvida nenhuma o que vai ter o maior
número de ecossistemas representativos da Amazônia, bem como os maiores contrastes. Selva
equatorial de terra firme, igapós, pântanos, matas de várzea, várzeas de campos, campinaranas,
cerrados, campos, matas de encosta e de altitude, refúgios paleoclimáticos, são alguns dos tipos de
sistemas de vegetação que encontramos nos mais de 225.000km2 do Estado.
As formas de relevo também variam bastante, indo desde as áreas de planície amazônica
típica, passando por extensos planaltos de suaves ondulações, morros e serras isoladas e tendo a
bacia de sedimentos recentes de Boa Vista encravada no seu interior, com uma infinidade de lagos
circulares e veredas de buritis; até atingir a imponência das áreas serranas de Pacaraima e Parima,
onde entre outros localizam-se o Monte Roraima (Ponto culminante do Estado com 2.875 mts de
altitude) e o Monte Caburaí (Ponto mais extremo do Norte do Brasil).
Em função de sua localização geográfica o Estado de Roraima vai ter uma característica
climática totalmente oposta ao restante da Amazônia Ocidental, principalmente no que diz respeito
ao regime de chuvas. Enquanto temos em Manaus a época de grandes chuvas (inverno), em
Roraima, que dista a menos de 800 quilômetros ao Norte, vamos ter o pico da estiagem (verão).
A área Norte-Nordeste do Estado, onde localiza-se a capital Boa Vista, vai receber em boa
parte do ano a influência direta dos ventos alísios provenientes da região litorânea da Guiana que
dista a menos de 500 km em linha reta de Boa Vista, sem praticamente nenhum obstáculo
significativo de áreas montanhosas, o que torna o clima regional ameno e bastante agradável.
Quanto à situação dos ecossistemas de Roraima podemos dizer que a maior partes deles
ainda sofre na sua estrutura impactos significativos da ação humana.
Vemos por exemplo nas áreas de mata amazônica, que ocupam mais de 50% do total da
área do Estado, um desmatamento com um pouco mais de 2% de sua área total, o que coloca
Roraima junto com o Estado do Amazonas como as áreas florestais menos degradadas da
Amazônia brasileira.
Ao contrário quando examinarmos os restantes 31% de campos e savanas e os 19% de
matas de transição é que teremos o verdadeiro caos ecológico que se encontra Roraima. As áreas de
campos e savanas sofrem todos os anos queimadas induzidas pelos indígenas e agro-pecuaristas,
que assim imaginam erroneamente estar melhorando a qualidade das pastagens que nascerão após
as primeiras chuvas do inverno. Na área de matas de transição é que estão localizados os maiores
projetos de assentamento fundiário patrocinados pelo INCRA e pelo Governo Estadual, com
colonos sem nenhuma tecnologia que utilizam-se do processo da coivara, isto é desmatamento e
queima da vegetação para o plantio de culturas de subsistência.
Neste ano de 1998 estamos tendo um dos maiores desastres ecológicos que já se tem
notícia no País, com um incêndio de gigantescas proporções que está grassando nas matas de
transição ao Sul de Boa Vista, provocado principalmente nos assentamentos rurais pela prática de
tecnologias primitivas pelos agricultores aí assentados.
Quanto à fauna terrestre, a mesma não é muito rica no Estado, tanto devido ao estado atual
dos ecossistemas existentes como principalmente pela intensa caça que se desenvolveu desde
muitos anos passado com mais intensidade nas áreas de savanas e matas de transição.
A avifauna é bastante rica e altamente dispersa pelos diversos ecossistemas do Estado,
principalmente nas áreas de lagos das savanas, sendo ponto de passagens e parada de inúmeras
espécies de aves migratórias, inclusive intercontinentais.
2.1.2 - Qualidade ambiental da bacia do alto Rio Branco
Especificamente para a região da bacia do alto Rio Branco temos o meio ambiente regional
bastante alterado, e as poucas áreas que podemos dizer que ainda tem algum potencial ambiental
estão sendo diariamente ameaçadas por diversas atividades que vão desde a extração de materiais
para construção civil, obtenção de lenha para combustível, desmatamentos para novos loteamentos
e obras públicas, lançamento de esgotos e lixo domésticos em rios e igarapés, especulação
imobiliária na orla dos rios Branco, Cauamé e Água Boa, extensos desmatamentos para expansão
de plantio de arroz irrigado nas várzeas dos principais rios e finalizando com atividades de lazer
predadoras que pouco a pouco vão destruindo as matas ciliares de todos os rios e igarapés da área.
O regime do alto Rio Branco é bastante complexo devido ao comportamento climático
diverso das duas principais bacias formadoras do mesmo. Temos de um modo geral dois tipos de
situações no regime do Rio Branco, um com altas águas no período que vai de junho a agosto, com
o pico das cheias em julho , provocando grandes inundações das áreas ribeirinhas e ilhas, inclusive
de parte de áreas urbanizadas baixas de Boa Vista ( Bairros do Beiral, Lipilândia e São Pedro), e
um outro com uma impressionante baixa das águas que vai de dezembro a abril, com o mínimo em
março, ocasião em que torna muito difícil a navegação, inclusive por pequenas embarcações.
Neste início de 1998 estamos tendo uma seca excepcional, não vista a mais de 20 anos.
Como assuntos específicos de qualidade ambiental que irão interessar a esta peritagem no que diz
respeito a um diagnóstico ambiental global temos a qualidade atual dos rios Branco, Cauamé e
Mucajaí e a situação das matas ciliares marginais dos mesmos rios, denominadas de vegetação de
preservação permanente, analisados nos dois sub-ítens a seguir.
A - Qualidade ambiental das águas dos rios Branco, Cauamé e Mucajaí
Quanto à bacia do alto Rio Branco, que interessa especificamente a esta peritagem
nós podemos inferir através de uma análise histórica de imagens de satélite o
comportamento da qualidade das águas quanto à existência de material sólido em
suspensão.
Utilizando-se do software SGI/SITIM desenvolvido pelo INPE - Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais e industrializado pela Engespaço Indústria e Comércio Ltda foram
definidos os padrões de refletância para águas limpas e águas com sólidos em suspensão. A
Figura 3 nos mostra duas fotos tiradas do monitor de imagem de uma estação de
geoprocessamento e sensoriamento remoto em que aparecem os histogramas relativos à
amostragens espectrais de superfícies de água com e sem sólidos em suspensão.
A partir destes dados inseridos no software foram identificadas as águas dos rios na
imagem obtida da área do alto Rio Branco em função de sua carga de sólidos em suspensão.
A Figuras 4 mostra claramente a diferença de cargas de material em suspensão
(Azul mais claro : alta taxa de sólidos em suspensão ) entre os rios Uraricoera e Tacutú,
formadores do Rio Branco. Podemos observar que as águas do Rio Tacutú vão correr sem
muita mistura após a formação do Rio Branco, pela sua margem esquerda, chegando a
manter esta situação inclusive na área de Boa Vista, tal como se pode observar na Figura 5,
onde as águas com alto teor de sólidos em suspensão vão ser representadas pela cor rosa
escuro e as águas sem estas em azul escuro.
A explicação para esta elevada taxa de sólidos em suspensão no Rio Tacutú e sua
influência nítida na qualidade do alto Rio Branco advém das elevadas cargas de sedimentos
que são lançados na bacia do rio Quinô, ao Norte do Estado por atividades garimpeiras
clandestinas que exercem esta atividade ilegal e altamente impactadora do meio ambiente
desde o início da década de 90. As Figuras 6 e 7 respectivamente mostram fotos tomadas na
foz do Rio Quinô no Rio Cotingo em 1991 e em 1995, que nem necessitariam de legenda
para mostrar a gravidade do problema.
Imagens de satélite do ano passado (Figura 10) em que aparecem as águas com
elevada concentração de sólidos em suspensão na margem esquerda no Rio Branco
confirma que o problema ainda continua com a mesma intensidade. Com o objetivo de
comprovar a continuidade dos efeitos dos sedimentos gerados pelo garimpo na bacia do Rio
Quinô atingindo o Rio Surumú através das águas do Rio Cotingo temos a Figura 8 que
mostra a foz do Rio Cotingo no Rio Surumú, que a partir daí é praticamente tomado pelos
sedimentos em suspensão. O Rio Surumú vai desaguar no Rio Tacutú que recebe toda esta
carga de poluentes e finalmente vai se encontrar com o Rio Uraricoera e formar o Rio
Branco, que irá receber do Rio Tacutú todos os sólidos por ele carreados, mostrado em foto
aérea na Figura 9.
A Figura 10 nos dá idéia através de imagem de satélite de 1 997 a continuidade do
processo de poluição por sólidos em suspensão que ocorre do meio do rio para a sua
margem esquerda, comprovando que a poluição proveniente do Rio Tacutú descrita nos
parágrafos anteriores continua a persistir.
No que diz respeito à poluição do Rio Cauamé notamos que o seu problema é mais
ligado à contaminação biológica, já que dados históricos mostram um crescendo assustador
principalmente de coliformes fecais, indicadores de poluição por esgotos. Em 1.991 os
dados atingiam até 1 100 coliformes fecais/100 ml no trecho da foz do Igarapé Caranã.
Neste mesmo rio, na mesma campanha de amostragem os dados de turbidez, um
dos indicadores de material em suspensão mostraram valores bastantes reduzidos com os
obtidos no Rio Branco. Em recente amostragem realizada por esta peritagem no mês de
março de 1998 os dados tenderam a ser maiores no que diz respeito a coliformes fecais,
enquanto que a observação da turbidez mostram valores ainda bastante próximos a 1 991.
Quanto ao Rio Mucajaí, independentemente da sua situação bastante crítica quanto
a sólidos em suspensão na década de 80 e início dos anos 90, devido à intensa garimpagem
de ouro que se processou em suas cabeceiras na área indígena Yanomami, desde 1 992 a
situação começou a ficar próxima à normalidade, conforme pode-se constatar pela imagem
tratada e programada para a detecção de altos índices de turbidez da água, mostrada pela
Figura 11 . Nesta figura temos mostrada bem nítida, com realce rosa as águas com alta
concentração de sólidos em suspensão na margem esquerda do Rio Branco ( ponto A ) e em
azul escuro as águas da margem direita com baixa concentração de sólidos em suspensão
(ponto B ), semelhante ao que vemos nas águas do Rio Mucajaí.
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Figura 3 - Histogramas relativos a duas amostragens espectrais realizadas em imagem de satélite Landsat Bandas 3, 4 e 5 - Data de passagem : 4/10/1 992 - Fonte: Exercício de aplicação do Sistema SGI/SITIM - INPE - Jaime de Agostinho - CZEE/RR Abril /1996
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Figura 4 - Foto da tela de estação de geoprocessamento e sensoriamento remoto - SGI/SITIM, mostrando a aplicação de padrões de refletância correlacionados com material em suspensão em superfícies líquidas usando imagem Landsat Bandas 3, 4 e 5 Data de passagem 4/10/1992. Região da junção dos rios Uraricoera e Tacutú, formando o Rio Branco. Fonte: Exercício de aplicação do Sistema SGI/SITIM - INPE - Jaime de Agostinho -CZEE/RR Abril / 1996 |
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Figura 5 - Foto da tela de estação de geoprocessamento e sensoriamento remoto SGI/SITIM, mostrando a aplicação de padrões de refletância correlacionados com material em suspensão em superfícies líquidas usando imagem Landsat Bandas 3, 4 e 5 Data de passagem 4/10/ 1992. Região do alto Rio Branco - Fonte: Exercício de aplicação do Sistema SGI/SITIM - INPE - Jaime de Agostinho - CZEE/RR Abril/1.996 |
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Figura 6 - Foto da foz do Rio Quinô no Rio Cotingo ( Janeiro de 1991). Vistoria realizada em janeiro de 1991 pelo Departamento do Meio Ambiente da Semaijus na bacia do rio Quinô - Roraima –
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Figura 7 - Foto da foz do Rio Quinô no Rio Cotingo (13/ janeiro/1995).
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Figura 8 - Foz do Rio Cotingo (barrento) no Rio Surumú (escuro)/( janeiro/ 1992 ) Foto: Jaime de Agostinho |
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Figura 9 - Formação do Rio Branco pela junção dos rios Uraricoera e Tacutú -( janeiro de 1991). Vistoria realizada em janeiro de 1991 pelo Departamento do Meio Ambiente da Semaijus na bacia do rio Quinô/Roraima. Foto de Jaime de Agostinho |
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Figura 10 - Imagem do satélite Landsat obtida em 1997 tratada mostrando a região de Boa Vista - Roraima - Imagem cedida pelo INPE - Divisão de Geração de Imagens |
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Figura 11 - Foto da tela de estação de geoprocessamento e sensoriamento remoto SGI/SITIM, mostrando a aplicação de padrões de refletância correlacionados com material em suspensão em superfícies líquidas usando imagem Landsat Bandas 3, 4 e 5 Data de passagem 4/10/ 1 992. Região do alto Rio Branco / Bacia do Rio Mucajaí - Fonte: Exercício de aplicação do Sistema SGI/SITIM - INPE - Jaime de Agostinho - CZEE/RR Abril / 1996 |
afluentes
As matas ciliares são consideradas em Lei Federal como vegetação de preservação permanente . A Lei Federal n° 4 771 de 15 de setembro de 1 965 instituiu o novo Código Florestal, constando no seu artigo 2° : - Consideram-se de preservação permanente pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas :
marginal cuja largura mínima seja :
superior a 600 (seiscentos) metros [CASO DOS RIOS: BRANCO, CAUAMÉ E MUCAJAÍ]
A Resolução n° 4 de 18 de setembro de 1985 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente homologa e enriquece a Lei Federal n° 6 938, definindo melhor a aplicação da referida Lei pelos órgãos responsáveis pela proteção ambiental.
Uma das inclusões desta Resolução é a relativa ao Art. 3° - São Reservas Ecológicas : a)-....................................................................................................................... b)- as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
além do leito maior sazonal, medida horizontalmente, cuja largura mínima será:
A Figura 12 nos dá uma idéia da localização das áreas de vegetação de preservação permanente com relação ao Rio Branco. Figura 12 - Faixas de vegetação de preservação permanente no Rio Branco. |
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As matas ciliares ou de galeria são parte integrante dos ecossistemas de campos e savanas, predominantes na região da bacia do alto Rio Branco. Possuem uma importância muito grande nos mecanismos naturais de controle da erosão das áreas marginais dos rios, bem como de retenção dos materiais argilosos e arenosos provenientes das áreas de campos e savanas gerados por mecanismos naturais ou antrópicos. Independentemente da proteção oficial deste tipo de vegetação, é um dos que mais sofre a ação antrópica, quer para liberar espaços a beira dos rios para múltiplas atividades das quais se destacam a urbanização e a extração de materiais para construção civil ou simplesmente para fornecimento de combustíveis.
No caso específico das margens do Rio Branco junto a Boa Vista temos nos últimos 50 anos uma diminuição crescente das matas ciliares, situação esta que se acelerou nos últimos 10 anos. A Figura 13 nos dá uma idéia da situação em 1 922, ocasião da tomada desta foto aérea pela expedição do norte-americano Hamilton Rice à região do Rio Branco. Ao continuarmos a análise, a Figura 14 nos mostra foto trimetrogon realizada pela Força Aérea Americana em 1 942 onde temos com bastante precisão as ocorrências de matas ciliares, foto esta utilizada como base inicial para o estabelecimento de mapa evolutivo da situação ambiental do alto Rio Branco (Figura 20 ).
A seguir são mostradas pelas figuras de 15 a 19 uma série histórica de fotos/imagens de satélite que respectivamente cobrem as seguintes datas: 1.972, 1.985, 1.992, 1.993, 1.997. Estas fotos/imagens ajudaram a montar o mapa evolutivo da situação ambiental do alto Rio Branco, mostrado pela Figura 20.
Figura 13 - Tomada aérea da vila de Boa Vista pela expedição Rice em 1922 - Fonte : Rice, Alexander Hamilton - Exploração da Guiana brasileira Editora da USP – 1978
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Figura 14 - Fotografia Trimetrogon tomada pela USAF em 19/1/1940 na região da cidade de Boa Vista. - Fonte : Guerra, Teixeira Estudo geográfico do Território do Rio Branco CNG/IBGE - 1957 |
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Figura 15 - Imagem radar da região de Boa Vista - 1972 –
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Figura 16 - Imagem do satélite LANDSAT cobrindo a região de Boa Vista RR - Setembro de 1 985 – |
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Figura 17 - Imagem satélite LANDSAT - tratada, referente à região de Boa Vista RR - Janeiro de 1992. - Fonte: Imagem tratada com falsa cor ( vegetação aparece em vermelho ) INPE – 1992 |
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Figura 18 -Imagem radar do satélite japonês JERS, referente à região de - Boa Vista-RR - Novembro de 1993 - Fonte: INPE 1993 |
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Figura 19 - Imagem tratada do satélite LANDSAT. Boa Vista RR - 11 de março/98 Fonte: Estação COTO PAXI - Equador cedida pelo INPE |
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Figura 20 - Mapa evolutivo simplificado das condições ambientais da bacia do alto Rio Branco nos últimos 50 anos. - [Jaime de Agostinho - março/1.998] |
Branco e de seus afluentes
Existem algumas formas padrões de equipamentos e sistemas que são utilizadas para a
exploração dos minerais de utilização imediata na construção civil, localizando-se estas atividades
extrativas na calha aluvionar do alto Rio Branco e seus principais afluentes. Normalmente são
utilizados equipamentos de baixa tecnologia, com inúmeras adaptações e com a utilização de mão-
de - obra de pouca qualificação técnica.
Visando a redução dos gastos operacionais e aumento dos lucros os responsáveis por estas
atividades extrativas estão procurando novas formas de exploração, que em sua maior parte
provocam sérios problemas ambientais e de segurança, dos quais podem ser destacados:
desmatamentos de matas ciliares, dragagem em pontos de pesca, interrupção dos canais de
navegação, bloqueio físico dos canais dos rios por aterros ou diques, etc.
A seguir são descritos de uma forma simples os principais equipamentos e sistemas
utilizados para a mineração de materiais de uso imediato na construção civil na calha aluvionar do
alto Rio Branco e seus afluentes.
Este é o tipo de equipamento mais utilizado na área, normalmente composto por bombas
de sucção com diâmetros superiores a 6 polegadas e sistema de mangueiras ou tubos para a retirada
do material do fundo.
Existem em operação os modelos clássicos de balsas sugadoras com a casa de máquinas
sobre flutuadores e a descarga da areia e/ou seixos é realizada em barcaça que fica atracada ao lado
da balsa até a sua carga estar completa, quando então a barcaça é conduzida ou empurrada por um
pequeno rebocador. A Figura 21 mostra alguns destes sistemas.
Já existe na área equipamento mais sofisticado para a extração de seixos, composto por
uma balsa maior onde praticamente se concentra todo o processo de extração, armazenamento ,
transporte e descarga. Este equipamento empurrado por um pequeno rebocador vai possuir uma
grande mobilidade, tanto para a extração de seixos em áreas mais propícias, como principalmente
leva o material extraído em porto adequado para a descarga mecanizada. A Figura 22 mostra a foto
de uma balsa deste tipo em operação no Rio Branco.
Figura 21 e 21a - Balsas com bombas de sucção (chupadoras) em atividade no alto Rio Branco. – |
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Figura 22 - Balsa completa, com boa tecnologia, utilizada para extração de seixos no altoRio Branco. –Foto:Jaime de Agostinho 1.992
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Uma outra forma de utilização de bombas de sucção para a exploração de areias e
seixos no leito do Rio Branco e afluentes é realizada através da instalação de um sistema de
moto bomba em pequenas balsas e a sua ligação com a margem do rio através de
mangueiras ou tubos rígidos sustentados por flutuadores , normalmente adaptados com
tambores vazios de combustível. Durante a peritagem realizada na primeira quinzena de
março de 1.998 observamos quatro instalações que estavam se utilizando desta técnica.
Este tipo de instalação, independentemente de ser mais barata, tanto no valor dos
equipamentos como na sua operação/manutenção , provoca uma série de problemas . Destes
problemas podemos destacar: o bloqueio à navegação com perigos aos pequenos barcos,
principalmente durante a noite, já que o sistema não possui nenhuma forma de sinalização e
os grandes danos ambientais advindos da destruição da mata ciliar para a instalação das
caixas de recepção de areias e seixos.
A Figura 23 nos mostra um exemplo deste tipo de instalação localizada na margem
esquerda do Rio Branco, um pouco acima da ponte dos macuxís, no único canal navegável
do rio nesta época do ano
Figura 23 - Sistema de extração de areias e seixos ligada diretamente à margem do Rio Branco. - Foto : Jaime de Agostinho - Março de 1998.
2.2.2 - Extração de areias e seixos em ilhas no meio do leito do rio
É uma atividade típica no verão, quando certas partes do Rio Branco permitem o
acesso por terra às ilhas de areia e seixos. Esta atividade já é realizada a mais de 5 anos no setor da
margem direita do Rio Branco um pouco abaixo da ponte dos macuxís. Nesta área as máquinas e
caçambas chegam a centenas de metros em ilhas no centro do canal secundário direito através da
construção de um aterro temporário que liga a margem até a ;área de extração. Nesta ilha também
vai existir a atividade de uma balsa com bomba de sucção para a retirada de seixos. A figura 24 nos
mostra uma foto desta área de extração mineral.
Abaixo da área situada na margem direita do Rio Branco, nos fundos do Distrito Industrial
de Boa Vista temos também a utilização deste processo para a extração de areia . Em certas
áreas, como por exemplo próximo à foz do Rio Mucajaí, temos no leito seco do Rio Branco,
em sua margem direita a extração direta de areia e seixos sem necessidade de qualquer obra de
aterro. A Figura 25 nos mostra foto desta área.
Nas margens do Rio Cauamé e do seu afluente Rio Murupú vamos ter também nesta época
mais seca a retirada direta de areia com a utilização de pás carregadeiras e caçambas, que provocam
grandes estragos tanto nas matas ciliares destes rios, como principalmente destroem praias de uso
para lazer da população.
Figura 24 - Extração de areias e seixos de lhas através de aterros ligando a margem do Rio Branco aos equipamentos de retirada de areia e seixos - Área na margem direita do Rio Branco, um pouco abaixo da ponte dos macuxís. –
Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1 998
Figura 25 - Extração direta do leito do Rio Branco de areias e seixos, região próxima à foz do
Rio Mucajaí, margem direita do Rio Branco. –
Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998
2.2.3 - Extração de argila nas várzeas dos rios para atividades oleiras
Esta atividade extrativa resume-se basicamente no verão, quando as áreas de várzeas permitem o acesso. Durante o inverno os poucos oleiros que conseguiram armazenar barro em locais mais altos podem continuar a sua atividade, mas de uma forma geral somente as empresas industriais de tijolos e telhas conseguem estocar quantidades suficientes de barro para a época das chuvas. A Figura 26 nos dá uma idéia através de duas fotos que mostram como ficam as áreas de extração de barro na época das chuvas. A primeira foto é relativa ao assentamento da Associação dos Oleiros de Boa Vista, na margem esquerda do Rio Branco, um pouco acima da ponte dos macuxís, e a segunda área é na margem direita do Rio Branco, um pouco abaixo da ponte dos macuxís. O processo na maior parte das áreas é manual com o uso se ferramentas rudimentares, sendo que as cavas raramente ultrapassam a profundidade de 3 metros devido à dificuldade de retirada do barro a partir desta altura.
Em pouquíssimas áreas temos a utilização de máquinas (tratores de esteira e pás carregadeiras) normalmente a serviço de indústrias cerâmicas semi-automatizadas localizadas em outros locais fora da área extrativa. A extração manual normalmente vai fornecer a matéria prima para a fabricação de tijolos por processos artesanais em caieiras junto às áreas extrativas. A Figura 27 nos dá uma idéia do arranjo das áreas de extração manual na margem esquerda do Rio Branco, no assentamento da Associação dos Oleiros de Boa Vista. A Figura 28 nos dá uma idéia da profundidade máxima que pode ser explorada uma cava por métodos manuais.
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Figura 26 - Áreas extrativas de argilas nas várzeas do Rio Branco durante a época das chuvas ( inverno ) – |
Figura 27 - Foto aérea mostrando o arranjo dos oleiros que usam processos manuais de extração do barro e fabricação dos tijolos no próprio local. - Foto: Jaime de Agostinho - Marco de 1998
Figura 28 - Foto de uma cava para a retirada de argila para a fabricação de tijolos em sua profundidade máxima de aproveitamento por processos manuais. Assentamento da Associação dos Oleiros de Boa Vista - Olaria Cunhã-Pucá - Município do Cantá –
Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998
2.2.4 - Extração de piçarra e pedra jacaré (laterita)
Este tipo de material tem larga aplicação nos processos de construção civil, a pedra jacaré
em blocos é de ampla utilização tanto para a execução de alicerces das residências mais simples
como para compor concretos de alta resistência usados para pisos e até estruturas arquitetônicas.
Tanto a pedra jacaré (blocos) como a piçarra (estrutura arenosa) vão ser materiais retirados
dos terraços intermediários dos principais vales de rios da região, locais geralmente ocupados por
extensas matas galerias, principalmente com a ocorrência de veredas de buritís.
Atualmente, dentro do perímetro urbano de Boa Vista , temos áreas de extração
clandestinas de pedra jacaré nos vales dos igarapés Caranã, Pricumã e Mirandinha. No que diz
respeito à extração de piçarra temos inúmeras áreas fornecedoras deste material, largamente
utilizado para obras de terraplanagem de vias e rodovias, tendo o Poder Público Estadual e Federal
como os maiores consumidores. Uma área que foi a maior e continua a sendo a maior fornecedora
deste material vai ser o vale do Rio Cauamé, desde o seu médio curso até o baixo curso. É bastante
famosa a piçarreira dos fundos da Base Aérea de Boa Vista, mostrada na Figura 29, bem como as
do Curupira e do Caçarí.
Figura 29 - Áreas de extração tradicional de piçarra dentro do perímetro urbano de Boa Vista - Fundos da Base Aérea - Vale do Rio Cauamé
Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista. - Levantamento aerofotogramétrico - 1984