Laudo Técnico

3. ANÁLISE ESPECÍFICA POR SETORES DE MAIOR ATIVIDADE EXTRATIVA MINERAL NA CALHA DO RIO BRANCO E AFLUENTES

3.1 -  Metodologia de análise utilizada

 

              Procurou-se realizar uma análise dos aspectos que interessem à avaliação e controle

ambiental bastante compacta , mas consistente, de cada um dos setores de maior atividade extrativa

mineral nas calhas dos rios da bacia do alto Rio Branco.

 

              Inicialmente é realizado um pequeno diagnóstico ambiental de cada setor até onde vão as

influências diretas na qualidade ambiental das atividades extrativas aí instaladas.

 

              A seguir procuram ser identificados, caso existam, os impactos ambientais provocados

pelas atividades produtivas em cada setor. No caso de ocorrência de impactos ambientais atuais ou

que sejam previstos para o futuro, serão propostas medidas de controle ambiental ou outras medidas

cabíveis para a atividade impactadora.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

              Visando um melhor entendimento dos problemas ambientais que ocorrem na bacia do alto

Rio Branco derivados da atividade extrativa mineral de materiais de aplicação direta na construção

civil , procura-se neste capítulo a divisão da bacia em setores específicos, de acordo com a

importância das atividades impactadoras do meio ambiente que ali ocorram.

 

              Em função de vistoria realizada na área através de sobrevôo, percurso terrestre com

veículo automotor e trajeto de barco puderam ser detectados diversos setores com potenciais

problemas de impactos ambientais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

              As áreas de peritagem localizam-se no Estado de Roraima, especificamente na parte

meridional de sua região Norte-Nordeste (Figura 1), na bacia do Alto Rio Branco (Figura 2).

            
              O Rio Branco é formado pela junção dos rios Uraricoera e Tacutú , local que dista

aproximadamente 30 quilômetros a montante da cidade de Boa Vista.

 

              O Rio Uraricoera possui uma extensa bacia coberta em sua maior parte por mata

amazônica e vai ter as suas cabeceiras nas serras de Parima e Pacaraima, limítrofes com a

Venezuela. Este rio sofreu no fim da década de 70 e início de 80 um grande impacto ambiental nas

suas águas devido à intensa atividade garimpeira de ouro que se desenvolveu na área indígena

Yanomami. Após o fechamento do garimpo suas águas voltaram à qualidade normal.

 

              O Rio Tacutú provem da porção Oeste do Estado, com a sua nascente na fronteira com a

República Cooperativista da Guiana, sendo que a quase totalidade de sua bacia drena áreas de

savanas e campos. A atividade garimpeira de alto impacto ambiental ainda ocorre com grande

intensidade em alguns de seus afluentes , dos quais se destacam o Maú, Cotingo / Quinô,

provocando uma elevada turbidez de suas águas, influenciando inclusive as águas do Rio Branco

até defronte de Boa Vista.

              A bacia do Alto Rio Branco vai até as cachoeiras do Bem Querer, no município de

Caracaraí, e tendo uma extensão total aproximada de 140 quilômetros. Os seus afluentes principais

pela margem direita são : Água Boa de Cima, Cauamé, Pricumã, Água Boa, Azul e Mucajaí . Já

pela margem esquerda temos os seguintes principais afluentes: Juarí, Urucurí, Surrão, Quitauaú e

Cachorro.
              A navegabilidade no Alto Rio Branco só é possível por pequenas embarcações na época

das águas mais altas ( inverno ) e assim mesmo com alguma dificuldade. Vão ocorrer das épocas de

estiagem a formação de inúmeros bancos de areias e seixos, que pelas análises de aerofotos antigas

e imagens de satélites mais recentes mostram um incremento de certa forma preocupante.

 

              Esta crescente sedimentação do Alto Rio Branco deriva-se da somatória de uma série de

fatores. Um deles é o processo geológico, principalmente pela erosão das camadas superficiais dos

solos através da água escoada de áreas com vegetação natural rala representada pelos campos e

savanas, e altas declividades do terreno como é o caso das cabeceiras do Rio Tacutú e de seus

principais afluentes, e secundariamente pela ação das águas dentro da calha dos rios que vão

provocando a sua erosão num período bastante longo até se aproximar do rebaixamento de seu

perfil de equilíbrio e com isto carreando sedimentos para as partes mais a jusante das bacias.

 

              O outro processo é o induzido por atividades antrópicas, o que pode ser caracterizado pela

agropecuária largamente distribuída por toda a bacia do Alto Rio Branco, que gera desmatamentos ,

queimadas e conseqüente erosão pela água da chuva e secundariamente pelo vento, sendo o destino

final destes sedimentos arenosos os rios e igarapés da bacia hidrográfica. Temos na área uma

atividade antrópica de alto impacto ao meio ambiente que é o garimpo clandestino e predatório

existente principalmente nos rios Quinô, Cotingo e Maú. Esta atividade de exploração irracional

dos recursos minerais é sem dúvida uma das causas mais importantes sedimentação da bacia do

Alto Rio Branco. Mais adiante, estas informações serão discutidas tecnicamente, visando subsidiar

as conclusões da peritagem.

 

 

3.4 - Setores selecionados:

 

 

  
           canal principal

 

            Industrial de Boa Vista

 

              A Figura 30 nos dá através de uma imagem de satélite LANDSAT uma idéia da

localização de cada setor escolhido para análise, somente não sendo locado o setor da bacia do

baixo Rio Mucajaí devido estar localizado bem mais ao Sul de Boa Vista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Figura 30 - Localização dos setores com maior atividade extrativa mineral na calha
 do Alto Rio Branco e seus Afluentes.

 

 

3.4.1  - Setor I - Bacia do baixo Rio Cauamé, inclusive sua foz no Rio Branco

 

              Esta bacia é a que mais sofreu, e está sofrendo a pressão antrópica de diversas formas, das

quais podem ser destacadas a especulação imobiliária, retirada de materiais para construção civil,

turismo predatório de suas praias e matas ciliares, lançamento de lixo e esgotos "in natura"

principalmente através dos igarapés Caranã e Carrapato, cargas cada vez mais crescentes de

agrotóxicos e fertilizantes provenientes em sua maior parte do polo agropecuário do Monte Cristo,

etc

 

              No caso específico da extração de recursos minerais de uso imediato na construção civil a

bacia do baixo Rio Cauamé tem antecedentes históricos muito sérios com relação aos impactos

ambientais produzidos nesta área por estas atividades.

 

              O caso mais conhecido foi a quase destruição dos balneário do Caçarí e do Curupira no fim

da década de 80 e início da de 90, fato que gerou uma ação do Ministério Público Federal

suspendendo a referida atividade , tal como pode ser visto neste mesmo laudo o item 1.2 , página 7

último parágrafo. Atualmente estas duas áreas começam a sofrer novas pressões dos extratores de

areias e seixos, com um inexplicável apoio da Legislação Municipal de Boa Vista ( Lei n° 419 de

20 de maio de 1 997 ).

 

              Durante vistoria deste perito ao campo na área da bacia do baixo Rio Cauamé não foram

notadas atividades de monta no que diz respeito à extração de materiais para construção civil, com

exceção de 3 pontos: um nas margens do Igarapé Caranã onde continua a extração de pedra jacaré ;

outro ponto detectado foi o de uma área relativamente extensa localizada junto à BR-174 próximo à

ponte sobre o Rio Cauamé, onde continua a existir a retirada de piçarra ; e finalmente na foz do Rio

Cauamé no Rio Branco foi detectada a presença de duas balsas extraindo seixos.

 

              A Figura 31 nos dá uma idéia da localização dos principais pontos críticos que devem ser

observados pelos Órgãos de controle ambiental tanto para o licenciamento, como principalmente

para exigência dos responsáveis de um Plano de Recuperação Ambiental de Áreas Degradadas

(PRAD).

 

              Os pontos principais mostrados na Figura 31 são:

 

1 - Foz do Rio Cauamé no Rio Branco;
2 - Região do Caçarí;
3 - Região do Curupira;
4 - Região do balneário Polar;
5 - Fundos da Base Aérea de Boa Vista;
6 - Balneário da ponte da BR-174;
7 - Piçarreira ao lado da Base Aérea de Boa Vista;
8 - Piçarreira entre a BR-174 e a margem direita do Rio Cauamé

Outras áreas críticas que não aparecem na Figura 31 :

9 - Igarapé Caranã próximo à sua foz no Rio Cauamé
10- Rio Murupú, junto à ponte da BR - 174

 

 

 

 

Figura 31 - Localização dos principais pontos críticos no setor I - Bacia do baixo Rio Cauamé, inclusive sua foz no Rio Branco. - Fonte : Imagem LANDSAT INPE - 1997

 

 

1 - Foz do Rio Cauamé no Rio Branco:

 

 

               Local de ocorrência de grandes bancos de seixos de granulometria média, de grande

procura pelo mercado consumidor. Na vistoria aérea realizada observamos duas balsas com bombas

de sucção operando junto a esta área . A Figura 32 nos mostra fotos aéreas destes equipamentos em

operação no local.

 

              No que diz respeito a possíveis impactos ambientais que esta atividade possa provocar

nesta área , acreditamos que sejam muito minimizados desde que as balsas mantenham-se no meio

do curso do Rio Branco, a jusante dos bancos de seixos e que o material extraído seja transportado

por barcaças para portos de descarga licenciados. Outro cuidado a ser tomado deverá ser quanto ao

transporte e manuseio do combustível para os motores das bombas de sucção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

Figura 32 - Fotografias de tomada aérea mostrando atividade de balsas na extração de seixos junto a foz do Rio Cauamé no Rio Branco. - Fotos: Jaime de Agostinho Março de 1998

 

 

 

  • -  Região do Caçarí:

 

              É um dos locais mais utilizado como balneário na cidade de Boa Vista. Na década de 80 e

início dos anos 90 esta área sofreu um enorme impacto ambiental pela retirada indiscriminada de

areias e seixos para a construção civil, o que tornou toda a área com um aspecto de paisagem lunar,

tal como pode ser visto na foto aérea de 1 984, apresentada na Figura 33. Esta área foi objeto de

uma ação do Ministério Público Federal, através da CEDACOM - Curadoria Especial de Defesa

Ambiental e Consumidor, do então Território Federal de Roraima, que em junho de 1 988 realizou

estudo técnico com a participação deste perito, retirando as atividades degradadoras desta área.

 

 
              Hoje a praia já dá sinais de recuperação, mas a área de mata ciliar que foi desmatada não

recuperou-se muito nestes 11 anos após a paralisação do processo extrativo, tal como pode-se

observar na Figura 34 onde temos foto tirada na peritagem neste mês de março de 1 998.

 

              Com a liberação da extração de areias e seixos na área, conforme Legislação Municipal,

teremos com certeza problemas ambientais muito sérios, já que o meio ambiente local está bastante

alterado e com uma recuperação muito lenta. Na margem esquerda do Rio Cauamé, na curva da

praia do Caçarí, temos uma atividade que ali funciona a mais de 15 anos dentro da fazenda

Brasilândia que retira seixos e piçarra de seu interior e durante o verão utiliza-se do curso raso do

Rio Cauamé para a travessia das caçambas que se dirigem a Boa Vista, com uma economia de

percurso bastante grande.

 

 


 

Figura 33 - Impacto ambiental da extração de areias e seixos na região do Caçarí - Rio Cauamé em 1984 - Fonte: Levantamento Aerofotogramétrico - 1984. - Prefeitura Municipal de Boa Vista - RR

 

 

 


 

 

Figura 34 - região da praia do Caçari - Rio Cauamé 1988. - Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1988

 

 

 

 

 

 

 

 


3 - Região do Curupira:

 

              Foi também uma área tradicional na década de 80 e início dos anos 90 de retirada de

seixos e de pedra jacaré (laterita). Ocasionalmente a área está sendo utilizada por extratores de

seixos e piçarra. Durante a vistoria realizada por este perito não constatou-se nenhuma atividade

extrativa nesta área que possui um grande balneário, que pouco a pouco vai retirando a mata

ciliar para as suas expansões, principalmente estacionamento de autos e novos bares e

restaurantes.

 

              Na Figura 35 podemos observar uma foto aérea do balneário do Curupira, com uma

visão do que restou da mata ciliar que está pressionada pela especulação imobiliária dos novos

loteamentos e clubes de funcionários de estatais (CER) e pelo lazer predatório. Boa parte desta

mata sofreu um grande incêndio no início deste mês de março, tal como se pode constatar em

sua metade esquerda, onde predomina um tom avermelhado, denotando vegetação morta.

Figura 35 - Balneário do Curupira margem direita do Rio Cauamé/1998 –
                    Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998
4 - Região do Balneário Polar:

 

              É um balneário com menos de 10 anos de implantação, com um regular movimento nos

fins de semana da época seca.

              Esta área começou a sofrer impactos ambientais provocados pela extração de areias e barro

a partir do início da década de 90, ocasião em que os freqüentadores do balneário e moradores do

Conjunto Ego ou Caracaranã fizeram denúncia ao Ministério Público Estadual, que instaurou o

competente Inquérito Civil n° 0001/93 em 09 de março de 1 993.

              A extração clandestina de areias, barro e piçarra ainda continua ocasionalmente, tal como


se pode observar em fotografia na figura 36, em seu canto inferior direito.

 

 

Figura 36 - Fotografia de vista aérea do Balneário da Polar - 1998 –
                    Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

 

 5 - Fundos da Base Aérea de Boa Vista:

 

              Foi na década de 80 uma grande área de extração de piçarra por particulares. A Figura 37

nos mostra uma foto aérea de 1984 onde ocorria um intenso dematamento da mata ciliar por

máquinas pesadas para a retirada da piçarra e sua utilização na pavimentação e conservação das

estradas próximas a Boa Vista.

              Com a construção de cerca ao redor de toda a Base Aérea a extração começou a ser

limitada. No que diz respeito à extração de areias e seixos nas margens e leito do Rio Cauamé esta

atividade ainda continua esporadicamente sendo realizada por particulares que construíram diversos

acessos através da mata ciliar.

              Em 1992 o Departamento do Meio Ambiente da então SEMAIJUS realizou vistoria aérea e

por terra, tendo advertido diversos extratores, inclusive Ministério do Exército ( 6° BEC ). A Figura

38 mostra um fac-símile de algumas fotos constantes no relatório de vistoria do DMA/SEMAIJUS


em 02 de abril de 1992.
Figura 37 - Extração de piçarra nos fundos da Base Aérea de Boa Vista em 1984. –
                    Fonte: Levantamento Aerofotogramétrico 1984 –
                    Prefeitura Municipal de Boa Vista



 

 

Figura 38 - Cópia de página de relatório de vistoria do DMA/SEMAIJUS com duas fotos da área nos fundos da Base Aérea de Boa Vista, mostrando extração de areia na margem direita do Rio Cauamé - 02 de abril de 1992
Fonte: DMA/SEMAIJUS 1992 - Fotos: Jaime de Agostinho


6 - Balneário da Ponte da BR-174:

              É o balneário mais antigo e de maior freqüência em toda a bacia do Rio Cauamé, e

serve como exemplo da velocidade de recuperação da vegetação ciliar que foi retirada da área

em 1982 pela Prefeitura Municipal de Boa Vista por ocasião da construção de uma quadra de

areia para futebol, bastante visível em foto de 1984 (Figura 39 ) e ainda até hoje sem

recuperação, tal como pode ser constatada na foto batida durante a vistoria desta peritagem em

março de 1998, mostrada na Figura 40, independentemente que a mesma não é usada a mais de

10 anos e todo o inverno a mesma fica submersa pelo menos 2 meses.

              A vegetação ciliar que segue pela margem direita e que sofreu muitos danos pelos

freqüentadores da praia também tem muita dificuldade para a sua recuperação, o que mostra a

fragilidade deste tipo de ecossistema de ocorrência em toda a bacia do alto Rio Branco e seus

afluentes.

Figura 39 - Fotografia aérea da área do Balneário da ponte da rodovia BR-174 sobre o Rio Cauamé/1984. - Fonte : Levantamento Aerofotogramétrico 1984 - Prefeitura Municipal de Boa Vista-RR

 

Figura 40 - Vista aérea do Balneário da ponte da BR-174 sobre o Rio Cauamé 1998.
                    Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

 

 

 

 

 

 

 

 

 

7 - Piçarreira ao lado da Base Aérea de Boa Vista:

 

              Esta área foi também uma das maiores fornecedoras de piçarra (laterita) para a

construção civil e de estradas na décadas de 80 e 90, sendo parcialmente paralisada com devido

intervenção da Base Aérea e pelo esgotamento de boa parte da jazida.

 

              O impacto ambiental produzido na área, é de difícil e cara recuperação, e a superfície

desnudada induz a processos de erosão que já provoca grandes sulcos, valetas e até algum

ravinamento na área, carreando muito material que contribui ano a ano para o assoreamento do

Rio Cauamé.

              A Figura 41 nos dá uma idéia geral desta área, que necessita urgentemente do início de

um processo de recuperação ambiental, através de regularização topográfica com terraplanagem,

drenagem das águas pluviais e principalmente recomposição da mata e/ou cerrado

originariamente existente no local.

 

 

8 - Piçarreira entre a BR-174 e a margem direita do Rio Cauamé:

 

              Esta área possui as mesmas características da área anteriormente descrita, tendo somente a

pista da BR-174 separando as mesmas. A diferença é que esta área continua a ser explorada, sendo

que seus posseiros ou proprietários arrendam a área para a retirada de piçarra.

              Os impactos observados são mais potencializados nesta área devido à sua contiguidade à

margem direita do Rio Cauamé, um pouco a montante da ponte da BR-174. Seria interessante que

os Órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental levantassem quem são os proprietários e

posseiros da área e através de autuação por crime ambiental exigissem para toda a área afetada a

realização de um Plano de Recuperação Ambiental de Áreas Degradadas, que é uma exigência bem

clara da Legislação Ambiental.

 

              A Figura 41 mostra esta área no canto esquerdo inferior da fotografia de tomada aérea

realizada durante a vistoria no último mês de março.

 


 

 

Figura 41 - Fotografia de tomada aérea da área das piçarreiras que ocorrem dos dois lados da BR-174 antes de chegar à ponte do Rio Cauamé. - Março de 1998 - Foto: Jaime de Agostinho

 

 

 

9 - Igarapé Caranã próximo à sua foz no Rio Cauamé:

 

        
              Esta área é a que apresenta, sem dúvida nenhuma, a pior qualidade ambiental de toda a

bacia do Rio Cauamé, principalmente no que diz respeito à qualidade de suas águas.

 

              O Igarapé Caranã carreia todos os esgotos e resíduos sólidos lança nos nas valas de

drenagem do populoso bairro de mesmo nome, o que provoca uma violenta carga de matéria

orgânica com patogênicos que vai para o Rio Cauamé, pondo em risco a saúde de toda uma

população que se utiliza de balneários na área.

 

              No que diz respeito à extração de materiais para construção civil vamos ter várias áreas

da bacia do Igarapé Caranã com problemas ambientais seríssimos gerados no decorrer destes

últimos 10 anos pela extração de pedra-jacaré (laterita em blocos), bem como algum barro e

areias. Os impactos observados dizem respeito à eliminação de matas ciliares naturais e

alterações do curso do igarapé em alguns trechos.

 

              A atividade extrativa de pedra-jacaré ainda continua de uma forma discreta dentro de

propriedades privadas algumas vezes pertencentes a grandes construtoras , cercadas, que dão

cobertura aos extratores.

 

              Normalmente a extração é feita através de instrumentos rudimentares ( pás, enxadas e

alavancas ) por pessoas autônomas, sem nenhuma forma de contrato, que vendem a produção

para as grandes construtoras ou caçambeiros independentes.

 

 

  • - Rio Murupú, junto à ponte da BR-174:

 

              Esta área, independentemente dos desmatamentos realizados pela atividade agro –

pecuária, ainda apresenta algumas belas matas ciliares e praias de areia clara para lazer. Próximo à

ponte instalou-se um pequeno projeto de turismo ecológico visando o aproveitamento dos recursos

paisagísticos e de lazer da área.

 

              A aproximadamente dois anos para cá iniciou-se uma retirada clandestina das areias junto

à ponte da BR-174 por pás carregadeiras e caçambas que aparecem em horários e dias não

determinados para a retirada daquela areia que possui uma granulometria e cor ideais para obras

de paisagismo e construção de praias artificiais em banhos particulares da região.

 

              Várias denúncias foram feitas nos últimos dois anos, inclusive pela imprensa escrita, mas

sem nenhuma ação efetiva dos órgãos fiscalizadores.

 

 

 

3.4.2  - Setor II - Margem esquerda do Rio Branco acima e abaixo da ponte dos macuxís

 

              Esta área é caracterizada pela existência de três tipos de extração mineral para materiais

para construção civil na calha e nas várzeas do Rio Branco, quais sejam areias, seixos e argila. A

predominância maior vai ser da extração de argila para o processo oleiro, sendo sem dúvida no

Estado o maior polo de concentração da produção desta matéria prima para a fabricação de

tijolos e telhas, já a extração de areias e seixos é pouco expressiva e altamente provocadora de

sérios problemas ambientais na área.

 

              Para melhor facilitar a análise pericial dividimos a área em dois blocos de exploração,

quais sejam:

  • Assentamento da Associação dos Oleiros de Boa Vista

 

  • Extração de areias e seixos na margem esquerda do Rio Branco acima da ponte dos

      macuxis.

 

              A Figura 42 nos dá idéia através de imagem de satélite LANDSAT da localização dos

principais pontos, deste setor. A Figura 43 nos mostra através foto panorâmica toda a área de

peritagem. A seguir são analisados individualmente cada um destes pontos.

 

 

 

 

 

 


 

 

Figura 42 - Localização dos principais pontos de análise ambiental dentro do Setor II. - Margem esquerda do Rio Branco acima e abaixo da ponte dos macuxís. Fonte: Imagem Landsat INPE novembro 1997

 

 


 

Figura 43 - Tomada aérea dando uma visão panorâmica do setor referente à margem esquerda do Rio Branco junto à ponte dos macuxís.
Foto: Jaime de Agostinho - Dezembro de 1997

 

 

 

 

 

 

 

 

1 - Assentamento da Associação dos Oleiros de Boa Vista:

 

             
              Esta área localiza-se próxima à margem esquerda do Rio Branco, com a maior parte da

área sobre terrenos de várzeas inundáveis no inverno, sendo que neste local funcionou por muitos

anos uma olaria denominada Cunhã-Pucá.

 

              No fim da década de 80 e início dos anos 90 , o esgotamento de uma grande parte das

jazidas de argila que existiam na margem direita do Rio Branco, um pouco abaixo da ponte dos

macuxís somado com a pouca disponibilidade de terrenos para a extração da argila e fabricação de

tijolos além de uma série de anos muito chuvosos que inundavam constantemente os locais de

extração do barro e produção começou a provocar uma série de conflitos naquela área, que foram

solucionados parcialmente com a formação da Associação dos Oleiros de Boa Vista, com

representatividade jurídica e principalmente política.

 

              Por reivindicação da associação foi adquirida pelo Governo do Estado em meados de 1 994

uma área de 150 hectares no local da antiga olaria Cunhã-Pucá na margem esquerda do Rio Branco,

desmembrada em 410 lotes e distribuídos via associação para os oleiros através de um termo de uso

de terras de olarias.

 

              A área que começou a ser ocupada oficialmente a partir de setembro de 1994 já tinha

sofrido um desmatamento de aproximadamente 50 % da mata nativa devido ao plantio de arroz

irrigado pelos proprietários anteriores. As Figuras 44 e 45 nos dão uma idéia da evolução do

desmatamento na área, com a utilização de duas imagens do satélite LANDSAT respectivamente de

setembro de 1985 e novembro de 1997.

              Atualmente temos um desmatamento bastante discreto, já que a lenha para as caieiras

segundo declarações dos próprios oleiros está vindo da região do Cantá e das vicinais da Confiança.

 
              A mesma situação não se observa nas plantações de arroz irrigado que já chegam próximos

do assentamento, aumentando as suas novas áreas de plantio através do desmatamento de matas

ciliares do Igarapé Santa Cecília , tal como pode ser observada da Figura 46 , onde nota-se

claramente na fotografia aérea tomada durante a vistoria desta peritagem, de novas áreas para

plantio em uma cor cinza mais claro.

 

              A ocupação efetiva, principalmente dos lotes da porção Leste do assentamento geraram um

grande desmatamento, sendo parte da lenha utilizada para o processo de cozimento dos tijolos que

começaram a ser produzidos.

 

              O processo principal de exploração das jazidas de argila e a fabricação dos tijolos tal como

pode ser observado na Figura 47 é bastante rudimentar, predominando maciçamente o trabalho

manual, desde a retirada da argila das cavas, sua amassagem, enformamento, secagem,

carregamento dos tijolos nas caieiras para queima, empilhamento e carregamento nos caminhões.

 

              Entre inúmeros problemas que limitam a exploração racional das jazidas de argila do

assentamento da Associação dos Oleiros, podemos destacar:

  • Não utilização pelos oleiros de tecnologia apropriada, o que limita a profundidade máxima

 

      das cavas a 3 metros, profundidade que começa a surgir a argila de melhor qualidade

  • Inundação da área em quase a sua totalidade durante a estação das chuvas

 

  • Ausência de organização e união entre os associados visando atividade centralizadas

     conjuntas, inclusive com utilização de mecanização
              No setor Sul do assentamento, junto ao aterro de acesso da ponte dos macuxís, observa-se

já a alguns anos uma retirada de argila com a utilização de máquinas pesadas, inclusive trator de

esteira e pá carregadeira. A Figura 48 documenta fotograficamente esta atividade. Esta extração

mecanizada está produzindo uma gigantesca cava, que facilita a entrada das águas do inverno nas

laterais do aterro da ponte dos macuxís. A visão através de fotografias aéreas pode ser obtida na

análise da Figura 26.

              Ao que nos foi informado esta operação é de responsabilidade de cerâmicas localizadas no

outro lado da ponte que vão levar a argila para armazenamento em grandes estoques para

processamento durante o inverno, ocasião quando a grande maioria das jazidas de argila tornam-se

inacessíveis à exploração.

 

 

 

 

 



Figura 44 - Imagem do Satélite LANDSAT ampliada mostrando a área da ponte dos macuxís sobre o Rio Branco. - Setembro de 1985 – Fonte: INPE Setembro de 1985

 




Figura 45 - Imagem do satélite LANDSAT ampliada mostrando a área da ponte dos macuxís sobre o Rio Branco Novembro de 1997. - Fonte: INPE Novembro de 1997

Figura 46 – Foto aérea mostrando o desmatamento de mata ciliar do Igarapé Santa Cecília para plantio de arroz irrigado
Foto Jaime de Agostinho – março de 1 998


Figura 47 - Foto mostrando aspectos da fabricação artesanal de tijolos por família instalada no Assentamento da Associação dos Oleiro de Boa Vista –
 Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998


Figura 48 - Foto da cava de extração mecanizada de argila para olarias junto ao aterro da ponte dos macuxís, na margem esquerda do Rio Branco. - Foto: Jaime de Agostinho - Junho de 1995

 

              Na porção Sudeste da área da Associação dos Oleiros de Boa Vista, não muito distante da

BR-401 está se desenvolvendo uma exploração possivelmente de argila totalmente isolada do bloco

maior, produzindo uma sensível degradação ambiental da área, principalmente pelo desmatamento

das bordas da mata ciliar do Igarapé Santa Cecília. A Figura 49 nos mostra foto aérea desta área que

deve merecer uma fiscalização dos Órgãos Ambientais competentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 - Extração de areias e seixos na margem esquerda do Rio Branco acima da ponte dos   
     macuxís:

 

              Esta atividade é de pouca expressão econômica no setor analisado, representado na

época da vistoria desta peritagem por somente uma balsa.

 

              A referida balsa, de pequeno porte, com sistema adotado já analisado no item 2.2.1,

páginas 67 e 68 deste relatório, estava em pleno funcionamento durante a vistoria realizada nesta

peritagem, provocando inúmeros problemas ambientais, dos quais podem ser destacados:

  • Destruição da mata ciliar da margem esquerda do Rio Branco, próximo à ponte dos

 

       macuxís, em função da localização da área de depósito da areia que é dragada do rio.

       A Figura 50 mostra através de foto esta destruição do meio ambiente.

  • Poluição das águas por derramamento de óleo diesel de seu motor, sendo esta

 
       irregularidade constatada no dia 13 de março de 1 998, documentada por fotografia

       apresentada na Figura 51.

 

              Além destas irregularidades de cunho ambiental, temos a colocação dos tubos de

transporte da areia sobre flutuadores de tambores vazios que colocam em sério risco a segurança

das embarcações que por ali passam obrigatoriamente, já que nesta época do ano é o único canal

navegável naquele trecho da bacia do alto Rio Branco, tal como é mostrado pela Figura 23 deste

relatório.

 

 

 

 


 


 

 

 

 


Figura 49 - Extração possivelmente de argila, fora do assentamento dos oleiros que está provocando danos ambientais à mata ciliar do Igarapé Santa Cecília. - Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

 

 

 

 

 

 

 



Figura 50 - Destruição da mata ciliar da margem esquerda do Rio Branco junto à ponte dos macuxís por atividade extrativa de areia. - Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

 


Figura 51 - Poluição das águas do Rio Branco por óleo combustível proveniente de balsa para extração de areia junto à margem esquerda próximo à ponte dos macuxís - 13/3/1998 - 16:00Hs. - Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

3.4.3 - Setor III - Margem direita do Rio Branco acima e abaixo da ponte dos macuxís, bem
            como o seu canal principal

 

              Esta área é a mais antiga e tradicional fornecedora de tijolos e telhas para a cidade de Boa

Vista, sendo que em torno desta atividade econômica surgiu o bairro do 13 de setembro. Após o

deslocamento de grande parte dos oleiros da área para o assentamento da Associação dos Oleiros de

Boa Vista, do outro lado do rio, na área ficou a antiga olaria, com processos semi-automatizados e

alguns oleiros que ainda continuam com a produção artesanal de tijolos. Muitas das antigas cavas

de extração de argila foram aterradas e regularizadas para depósitos de areia e seixos da atividade

extrativa que se processam defronte a esta área, tanto no canal do Rio Branco como em suas ilhas.

 

              Este setor para fins de análise das atividades extrativas minerais ali existentes, pode ser

dividido nos seguintes pontos principais:

 

1 - Bairro do Calungá, junto ao antigo porto do governo, atual restaurante Tropical

2 - Fundos do Bairro 13 de setembro, da ponte dos macuxís à reserva do Exército

3 - Canal do Rio Branco logo abaixo da ponte dos macuxís

              A Figura 52 nos dá uma idéia quanto à localização de cada um destes pontos de extração

de minerais para uso na construção civil.

 

 


 

 

Figura 52 - Setor III - Margem direita do Rio Branco, acima e abaixo da ponte dos macuxís. Localização dos pontos principais de extração mineral. - Fonte: Imagem do satélite LANDSAT - INPE - Novembro de 1997

 

 

 

1 - Bairro do Calungá, junto ao antigo porto do governo, atual restaurante Tropical:

 

              Esta área era utilizada no início da década de 90 como ponto de desembarque de areias e seixos que eram extraídos em outros

pontos do Rio Branco e estocados em terrenos pertencentes a uma grande construtora de Boa Vista.

 

              Com o decorrer do tempo e em conseqüência de uma total ausência de fiscalização tanto da área ambiental, mineral e fiscal

iniciou-se a extração principalmente de areias junto a este ponto antigo de desembarque das balsas. Neste mesmo período iniciou-se a

urbanização do bairro atualmente denominado Lipilândia. A partir de 1 995 iniciaram-se os problemas com a população deste bairro devido

principalmente aos acidentes provocados por caçambas e máquinas envolvidos na extração e comércio de areia, interdição de vias públicas

por montes de areia estocada e principalmente por diversas mortes por afogamento de moradores que utilizavam-se de praias na margem

direita do Rio Branco no verão, que começaram a ser exploradas pelas dragas e provocando grandes buracos debaixo da superfície da água.

Independentemente das diversas denúncias em jornais e televisão o problema continua até esta data, talvez pela força política dos

empresários envolvidos com este tipo de exploração mineral.

 

              A Figura 53 mostra um aspecto desta ponto de grande conflito entre a exploração mineral e a população residente na área.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

Figura 53 - Foto do ponto de extração de areias na margem direita do Rio Branco junto ao bairro Lipilândia. - Foto : Jaime de Agostinho-Agosto de 1995

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 - Fundos do Bairro 13 de setembro, da ponte dos macuxís à reserva do Exército:

 

              Esta área teve suas jazidas de argila exaustivamente exploradas por mais de duas

décadas encontra-se hoje com sérios problemas ambientais e sociais. A atividade artesanal

remanescente que utiliza-se de cavas já exploradas para a fabricação manual de tijolos durante

o verão, que não tiveram chance de locar-se na área de assentamento da Associação dos Oleiros

de Boa Vista passam por sérias dificuldades durante o inverno, já que suas áreas ficam

totalmente submersas.

 

              Algumas áreas mais ao Sul, próximas à reserva do Exército estão tendo uma utilização

muito intensa pelos extratores de argila, que estão liquidando com as últimas árvores da mata

ciliar. A Figura 54 mostra fotografia obtida na vistoria realizada por esta peritagem nesta área.

 

              O legado ambiental que a atividade oleira deixou no local composto por inúmeras

áreas de difícil e cara recuperação ambiental é algo para ser pensado tanto pelas autoridades

responsáveis como principalmente pelos empresários da construção civil e pela própria

Associação dos Oleiros de Boa Vista.

 

              Atualmente a maior atividade econômica da área resume-se na produção de tijolos da

olaria semi-mecanizada que localiza-se junto à ponte dos macuxís, mostrada em foto na Figura

55.

 

              Nesta área, a clássica atividade oleira começa a ceder lugar para os mineradores de

areias e seixos que estão utilizando-se do local para depósito de seus materiais, e o pior : estão

colocando sistemas de balsas com bombas de sucção ligadas diretamente à margem do rio,


gerando problemas já descritos anteriormente em outros itens deste relatório técnico. ( Itens

2.2.1 e Item 3.3 parte 2 -). A Figura 56 mostra um destes sistemas funcionando defronte à

olaria junto à ponte dos macuxís.

 

              Uma outra forma de extração de areias que já se tornou tradicional neste ponto é a de

retirar a areia diretamente com as máquinas e carregar nas caçambas que tem acesso ao local

através de aterros construídos ligando a margem do rio às ilhas que se formam defronte a área.

 

              Este processo modifica bastante o canal da margem direita do Rio Branco,

favorecendo bastante ao assoreamento de largas áreas a jusante, prejudicando sensivelmente a

navegação dos pequenos barcos que utilizam aquele trecho do rio, A Figura 57 mostra foto

deste tipo de extração de areia que se processa na área.

Figura 54 - Área de ocupação recente, com desmatamentos de vegetação ciliar residual , margem direita do Rio Branco, ao Sul da ponte dos macuxís. –
Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998


Figura 55 - Olaria semi-mecanizada localizada na margem direita do Rio Branco, junto à ponte dos macuxís. - Foto: Jaime de Agostinho/Março/1998

 

Figura 56 - Balsa com bomba de sucção para areia com tubulação ligada à margem do rio. Margem direita do Rio Branco junto à ponte dos macuxís. - Foto: Jaime de Agostinho/Março/1998

Figura 57 - Sistema de extração de areia em ilhas utilizando-se de aterro para construção de ligação entre a margem do rio e a ilha de exploração. Margem direita do Rio Branco logo abaixo da ponte dos macuxís. - Foto: Jaime de Agostinho/Março/1998

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. - Canal do Rio Branco, logo abaixo da ponte dos macuxís:

 

              Esta área foi originalmente definida em 1988 pelo Ministério Público Federal

(CEDACOM/RR), além do DNPM - Departamento Nacional da Produção Mineral, , da Prefeitura

Municipal de Boa Vista e pelo IBDF, atual IBAMA, localizada a partir de 1000 metros abaixo da

ponte dos macuxís, como área autorizada para atividades extrativas minerais na calha do Rio

Branco. Durante a vistoria relativa a esta peritagem somente encontramos na área uma balsa em

produção.

 

              Durante os últimos 5 anos tem existido muita discussão entre os balseiros que funcionam

neste trecho do Rio Branco com a Prefeitura, IBAMA e DMA/SEPLAN, em função da distância

mínima que devem ficar dos pilares da ponte, já que alguns acreditam que a extração de areia junto

aos pilares possa comprometer a estrutura da referida ponte. A Figura 58 nos dá uma idéia da

estrutura a referida ponte assentada em fundações de vigas de aço estaqueadas a muitos metros de

profundidade e com uma coroa de concreto a primeira vista bastante robusta. A Figura 59 mostra

através de aerofoto a posição da ponte dos macuxís em relação ao banco permanente de areia da

margem direita do Rio Branco naquele trecho.

 

              Esta área, em nossa opinião é a melhor que possa existir na bacia do Alto Rio Branco para

a extração de areias, tanto no aspecto geológico, ambiental como econômico.

 

              No aspecto geológico temos neste local do Rio Branco uma taxa de sedimentação muito

grande e com tendência de aumento ano a ano, comprometendo inclusive a navegabilidade naquele

trecho, inclusive no inverno, além de favorecer mais à ocorrência de inundações nas áreas

 

ribeirinhas, já que o rio sairá de seu curso devido a pouca profundidade da calha para escoamento

de altos volumes de água.

 

              Tradicionalmente este trecho da margem direita do Rio Branco é de deposição, o que pode

ser visto ao observarmos a Figura 60 onde temos uma foto de 1922 tomada pela expedição Rice e

compararmos com a Figura 61 que mostra foto tomada praticamente da mesma área 75 anos após (

1 995). Durante o inverno toda a área fica coberta pela água com uma intensa reposição de

sedimentos. A Figura 62 nos mostra foto tirada no inverno do ano de 1 995 e nos permite uma

interessante comparação com a Figura 61.

 

              No aspecto ambiental as atividades extrativas de areias e seixos que se localizarem no

meio do canal terão uma melhor capacidade de diluição das lamas e sedimentos finos lançados após

a lavagem das areias e seixos, além de concentrar todas as atividades em uma só área , o que torna

seu controle mais fácil pelos Órgãos competentes. Indiretamente serão evitados desmatamentos das

matas ciliares, desde que haja um projeto governamental para a construção e operação de um ou

mais portos de descarga e locais de armazenamento provisório adequados.

 

              E finalmente no aspecto econômico a área oferece ótimas vantagens locacionais em função

da curta distância do mercado consumidor, da disponibilidade de mão-de-obra e até de

fornecimento de energia elétrica o que permite viabilizar a troca dos motores diesel para elétricos.

 

              Além disto tudo temos a ótima qualidade das areias desta área, conforme comprovado por

laudo técnico realizado pela EMBRAPA em 1 988 para o CEDACOM, onde foram comparadas

diversas amostras de areias de diversos pontos da bacia do Rio Branco e afluentes.

 

 


 

 

Figura 58 - Foto de tomada aérea mostrando a ponte dos macuxís e sua estrutura de sustentação no leito do Rio Branco. - Foto: Jaime de Agostinho - Março/1998

 

 

 

 

 


 

Figura 59 - Aerofoto mostrando a posição da ponte dos macuxís em relação ao banco de areia da margem direita do Rio Branco. - Fonte: Levantamento aerofotogramétrico de Boa Vista/1984 - Prefeitura Municipal de Boa Vista


 

Figura 60 - Foto aérea do Rio Branco tomada pela expedição Rice a Roraima em 1922. - Fonte: Rice, Alexander Hamilton - Exploração da Guiana brasileira - Editora da USP – 1978

 

 

 

 

 

 

 



Figura 61 - Foto mostrando margem direita do Rio Branco abaixo da ponte dos macuxís no verão. - Foto : Jaime de Agostinho-Junho de 1995

Figura 62 - Foto mostrando margem direita do Rio Branco abaixo da ponte dos macuxís no inverno. – Foto: Jaime de Agostinho - Dezembro de 1995

3.4.4  - Setor IV - Margem direita do Rio Branco, fundos do Distrito Industrial de Boa Vista, atual jardim das Copaibas

 

              Esta área é no momento, em nossa opinião, a mais crítica em termos de utilização

desordenada e ambiciosa dos recursos naturais, não só os minerais como principalmente os

florestais. A Figura 63 nos dá uma idéia da localização geográfica deste setor como permite

visualizarmos o avanço dos desmatamentos nesta área que até pouco tempo atrás permanecia

praticamente intocada. A ocupação desta área começou a menos de 10 anos, inicialmente por

invasões que visavam a utilização das terras para agricultura de subsistência além de construir suas

moradias, devido principalmente à crise que iniciou-se após o fechamento dos garimpos nas áreas

indígenas, o que gerou e gera um elevado desemprego e déficit de moradias na cidade de Boa Vista.

 

              A ocupação da área gerou uma elevada taxa de desmatamentos das matas ciliares, motivo

de ação do IBAMA e do Governo do Estado para a retirada destes posseiros, que em função de

implicações político-eleitorais foi paralisada até o momento. Junto com os posseiros que visavam a

agricultura vieram os extratores e madeira para as olarias loque começaram a se localizar na área.

tal como podemos ver nas Figuras 64 e 65 que mostram novos desmatamentos , inclusive com

queimadas. Em nossa vistoria realizado em março na área pudemos observar inúmeros focos de

incêndios induzidos para liberação de áreas para fins agrícolas como também para o processo de

extração de argila e fabricação de tijolos. A Figura 66 mostra foto aérea de uma destas queimadas

induzidas. No que diz respeito à extração de areias e seixos este ponto apresenta inúmeros tipos de

sistemas extrativos, desde o processo de fechamento do canal do rio, já comentado e condenado em

outros pontos deste relatório, aparecendo na Figura 67; passando pelo sistema de exploração direta

da areia em ilhas, com ligação artificial à margem do rio, mostrada na Figura 68 e chegando a

modelos bastante primitivos, e depredadores da mata ciliar, que é o sistema de colocar a balsa

diretamente na margem do rio, fazendo um desmatamento para dar espaço à área de

armazenamento da areia, tal como é mostrado pela Figura 69.Como vimos este ponto necessita de

urgentes medidas para serem evitados problemas ambientais seríssimos no futuro, principalmente

pela destruição maciça de suas matas ciliares

 


 

Figura 63 - Macro localização do setor IV - Fundos do Distrito Industrial de Boa Vista. - Jardim das Copaíbas

 



Figura 64 - Novos desmatamentos, inclusive com queima visando exploração de madeira para lenha, agricultura de subsistência e exploração de argilas para elaboração de tijolos Jardim das Copaíbas - Foto : Jaime de Agostinho - Março de 1998


Figura 65 - Frente pioneira de desmatamento e exploração de argila para olarias Jardim das Copaíbas. - Foto: Jaime de Agostinho-Março de 1998



Figura 66 - Intenso desmatamento de matas ciliares da margem direita do Rio Branco, com utilização induzida do fogo Jardim das Copaíbas. - Foto: Jaime de Agostinho-Março de 1998

 

Figura 67 - Sistema de extração de areia com balsa e bomba de sucção ligadas à margem do rio. Margem direita do Rio Branco - Jardim das Copaíbas. Foto: Jaime de Agostinho-Março de 1998


Figura 68 - Extração de areias em ilhas ligadas artificialmente por aterros à margem do rio. Margem direita do Rio Branco - Jardim das Copaíbas. - Foto: Jaime de Agostinho-Março de 1998

 

Figura 69 - Processo simplificado de extração de areia diretamente na margem do rio. Margem direita do Rio Branco Jardim das Copaíbas
Foto: Jaime de Agostinho-Março de 1998

 

 

 

3.4.5  - Setor V - Bacia do baixo Rio Mucajaí, inclusive sua foz no Rio Branco

 

              Este setor, composto pela bacia do baixo Rio Mucajaí independentemente de estar

relativamente afastado da cidade de Boa Vista, apresenta uma série de atividades extrativas de

minerais de uso imediato na construção que são utilizados na capital do estado, já que existem boas

vias de acesso à área como é o caso da rodovia federal BR-174 . A Figura 70 nos dá a

macrolocalização do setor analisado, localizado a aproximadamente 60 quilômetros ao Sul de Boa

Vista.

 

              Independentemente do Rio Mucajaí ter se recuperado bastante dos impactos produzidos

pelo garimpo nos anos 80 e início dos 90, tal como foi visto no Item 2.1,2. Páginas 42 e 51 , o Rio

Mucajaí drena uma bacia bastante problemática em termos ambientais , principalmente no seu

baixo curso onde localizam-se inúmeros projetos de assentamento sem capacidade tecnológica para

um manejo sustentado dos recursos naturais, provocando desmatamentos e queimadas. Um

exemplo disto ocorreu e ocorre nesta época seca onde o manejo inadequado das queimadas está

provocando um dos maiores desastres ecológicos que se tem notícia na Amazônia.

 

              Além dos projetos de assentamento oficiais, temos inúmeras grandes propriedades

dedicadas à agropecuária que também não possuem tecnologia para um correto

Ecodesenvolvimento da área.

 

              Permeando a toda esta situação começamos a observar com preocupação um incremento

muito grande nos últimos 5 anos das atividades extrativas minerais na calha do Rio Mucajaí e nas

suas margens, principalmente a esquerda, pertencente ao Município de Boa Vista. A Figura 71 nos

dá uma idéia da localização genérica de alguns destes pontos que foram detectados na vistoria

realizada por esta peritagem neste mês de março de 1998.

 

              Os processos extrativos observados na bacia do Rio Mucajaí são bastante precários,

denotando pouca preocupação ambiental e lucro fácil devido baixos investimentos. Este tipo de

lavra denominada ambiciosa e de altos impactos no meio ambiente deve ser controlada pelos

Órgãos ambientais e de fomento à mineração.

 

              O padrão de exploração é o mesmo em maior parte da bacia, com um desmatamento

generalizado da mata ciliar e instalação de pequena balsa com bomba succionadora junto à margem

do rio e depósito de areia ou seixo ao lado, além do acesso que é aberto na mata ciliar para o trafego

das caçambas. Este padrão de exploração pode ser observado nos pontos 1, 2 , 3 , 5 , 6 e 7 indicados

na figura 71 e respectivamente mostrados em fotografias constantes das figuras 72, 73, 74, 77 , 78 e

79.

 

              Na bacia do baixo Rio Mucajaí , especificamente na sua margem direita, um pouco abaixo

da ponte da BR-174, existe uma área tradicional de extração de argilas para olarias aí instaladas. A

Figura 75 nos dá uma idéia desta área que já degradou a maior parte da mata ciliar do local.

 

              A maior parte das instalações extrativas de areias e seixos que foram observadas na

vistoria nos apresentaram como processos não adequadas, produzindo danos à mata ciliar e em

alguns casos provocando elevada turbidez no local de lavagem do material extraído. Na Figura 77

vemos na fotografia de tomada aérea, especificamente no ponto 5, localizado à margem esquerda

do Rio Mucajaí, no Município de Boa Vista uma extração com desmonte hidráulico do barranco e a

produção de muito material em suspensão, que provoca uma grande mancha barrenta nas águas do

local.

 

Figura 70 - Macro localização do Setor V - Bacia do baixo Rio Mucajaí. Fonte: Imagem LANDSAT - INPE - 1991




Figura 71 - Bacia do baixo Rio Mucajaí Localização dos pontos analisados neste relatório. Fonte: Imagem LANDSAT - INPE 1991

 

Figura 72 - Margem esquerda do Rio Mucajaí abaixo da ponte da BR-174/Ponto 1. –
                    Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998




Figura 73 - Margem esquerda do Rio Mucajaí abaixo da ponte da BR 174 - Ponto 2. - Foto : Jaime de Agostinho - Março de 1998

 

Figura 74 - Margem esquerda do Rio Mucajaí abaixo da ponte da BR-174-Ponto 3. –
Foto : Jaime de Agostinho - Março de 1998

 


Figura 75 - Margem direita do Rio Mucajaí, um pouco abaixo da ponte da BR-174. Área de atividade oleira tradicional - Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

 

Figura 76 - Ponte da BR-174 sobre o Rio Mucajaí. - Foto: Jaime de Agostinho-Março de 1998

 



Figura 77 - Margem esquerda do baixo Rio Mucajaí acima da ponte da BR-174 - Ponto 5. - Foto: Jaime de Agostinho-Março de 1998

Figura 78 - Margem esquerda do baixo Rio Mucajaí acima da ponte da BR-174-Ponto 6. - Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998


 

 

Figura 79 - Margem esquerda do baixo Rio Mucajaí acima da ponte da BR-174 - Ponto 7. - Foto: Jaime de Agostinho - Março de 1998

 

 

 

 

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