4.1 – Material utilizado :
Para a avaliação preliminar da qualidade ambiental da bacia do baixo Rio Cauamé
foram utilizadas imagens do satélite Landsat 5 , de diversos anos e em situações de seca e
período chuvoso; dados de monitoragem da qualidade das águas de campanhas realizadas
em dezembro de 1 991 e abril de 1 998; amplo documentário fotográfico de 1 987 a 1 999;
aerofotos de 1 940 (USAF) e 1 984 (Plano Diretor); além de diversos mapas em variadas
escalas e alguns poucos relatórios técnicos existentes relativos à área de estudo, listados na
bibliografia
4.2 –Atividades degradadoras do meio ambiente na bacia do baixo Rio Cauamé:
São listadas a seguir algumas das principais atividades degradadoras do ambiente
da bacia do baixo Rio Cauamé:
4.2.1 – Desmatamento das matas ciliares :
Este tipo de degradação é realizado por uma série de agentes, dos quais podem ser
destacados os seguintes :
assados, dematamentos para acampamentos temporários , inclusive para a construção
de pequenas barracas.
construções ou para lenha.
novos banhos e também para invasões de áreas junto ao rio para construção de
habitações, algumas de grande porte
4.2.2 – Lançamentos de esgotos e lixo :
Vão existir inúmeras fontes deste tipo de contaminação, mas a que mais se destaca
é a contribuição do Igarapé Caranã que drena uma área bastante extensa e altamente
urbanizada, com sérias deficiências de saneamento básico. A vala de drenagem principal
do Bairro Caranã é utilizada comumente para o lançamento de lixo pela população, além do
despejo de esgotos domésticos.
Os valores monitorados nas diversas amostragens realizadas em épocas diferentes
mostram valores de cargas poluidoras bastante elevados. Na análise detalhada dos
diversos setores do baixo Rio Cauamé, apresenta mais adiante podemos constatar esta
colocação.
Os igarapés Carrapato, Curupira e Caçarí também contribuem com certa carga
poluidora, tanto de origem animal devido às áreas de criação de gado, como agrotóxicos e
adubos das inúmeras chácaras e fazendas localizadas em suas sub-bacias.
A maior parte dos restaurantes existentes nos banhos do baixo Rio Cauamé não
possuem tratamento adequado de seus esgotos, e possuem uma coleta muito precária dos
resíduos sólidos gerados pelos banhistas que freqüentam estas áreas.
Outro aspecto de relevância a ser considerado é a qualidade das águas procedentes
da alta e média bacia do Rio Cauamé que trazem poluentes gerados principalmente por
atividades agropecuárias (criação de gado, plantações de arroz irrigado, agricultura
comercial, etc ) principalmente do distrito agropecuário do Monte Cristo. A geração de
resíduos sólidos e esgotos domésticos dos núcleos de Monte Cristo, Nova Olinda,
Faculdade de Agronomia da UFRR, Casa do Índio – Funai, Fazenda Bamerindus, etc deve
ser também analisada e considerada.
4.2.3 – Aumento da turbidez e assoreamento do rio devido extração clandestina de barro,
piçarra e pedra-jacaré na bacia:
Este problema está crescendo dia a dia. Extensas áreas já foram desmatadas e
decapeadas para a retirada destes materiais, principalmente junto à margem esquerda da
BR – 174 ( Fundos da Base Aérea de Boa Vista e Bairro Cauamé ). Atualmente estão
surgindo novas áreas de extração de barro e piçarra entre a margem esquerda do Rio
Cauamé e a estrada para a Fazenda Bom Intento, provocando um significante carreamento
de material sólido .
4.2.4 – Retirada clandestina de areias e seixos :
Apesar desta atividade ter sido proibida na bacia do baixo Rio Cauamé,
esporadicamente ocorrem casos de retirada clandestina de areia, principalmente em áreas
acima do Balneário Curupira, junto ao terreno da Base Aérea de Boa Vista e
ocasionalmente nas proximidades do Balneário Caçarí.
No caso específico do Balneário do Caçarí, a intensa atividade de extração de
areias e seixos que se processou na área durante a última metade da década de 80, provocou
uma intensa degradação que até hoje não permitiu a recuperação total.
4.2.5 – Implantação de sítios, chácaras, residências e clubes :
Este é um problema que vem ocorrendo de uma forma crescente nos últimos anos,
onde pessoas ou grupos vem invadindo e desmatando as áreas de vegetação de
preservação permanente da bacia do baixo Rio Cauamé, em flagrante desrespeito à
Legislação Ambiental vigente.
Este processo vem ocorrendo desde a década de 80, quando iniciou-se a ocupação
da área por chácaras, clubes e associações, com a violenta destruição das matas ciliares da
área.
Mais recentemente a ocupação se faz de uma maneira mais acelerada através do
desmatamento e terraplanagem visando a construção de habitações de alto padrão, além de
clubes de funcionários de empresas públicas e privadas. As áreas da margem esquerda
também começam a ser ocupadas por residências e chácaras de alto padrão econômico, com
uma grande omissão dos órgãos responsáveis pela fiscalização (Prefeitura Municipal e
Ibama)
4.3 – Qualidade ambiental da bacia do baixo Rio Cauamé :
Nesta análise foram levadas em consideração quatro variáveis bastante importantes
para um diagnóstico da qualidade ambiental da bacia, quais sejam :
4.3.1 – Qualidade das águas :
Existem poucos estudos que levantaram dados sobre a qualidade das águas da
bacia do baixo Rio Cauamé, dos quais se destacam :
SEMAIJUS – Secretaria do Meio Ambiente, Interior e Justiça do Estado de Roraima, em
dezembro de 1 991, como aplicação de um curso sobre monitoragem da qualidade das
águas ministrado pelo Prof. Dr. Antonio dos Santos – Labquim de Manaus.
destes 7 foram de interesse para a bacia do baixo Rio Cauamé. Os pontos são
mostrados a seguir pela tabela 2
Tabela 2 – Pontos de amostragem da qualidade das águas na bacia do baixo Rio
Cauamé - DEZEMBRO / 1 991
Nº |
PONTO DE COLETA |
1 |
Foz do Igarapé Caranã no Rio Cauamé |
2 |
Rio Cauamé junto à foz do Igarapé do Frasco |
3 |
Rio Cauamé logo abaixo da ponte da BR – 174 |
4 |
Rio Cauamé – Balneário do Curupira |
5 |
Rio Cauamé – Balneário Caçarí |
6 |
Rio Branco a montante da foz do Rio Cauamé |
7 |
Rio Branco logo após foz do Rio Cauamé – Vila Oficiais Base Aérea |
As análises, apesar de não serem completas nos dão uma idéia da composição
físico-química das águas da bacia do baixo Rio Cauamé., tal como mostrado na tabela 3 ,
apresentada a seguir.
Tabela 3 – Dados de qualidade das águas da bacia do baixo Rio Cauamé
DEZEMBRO / 1 991
PARÂMETROS |
PONTOS DE AMOSTRAGEM |
|||||||
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
||
pH
|
6,5 |
6,6 |
6,7 |
6,6 |
6,9 |
6,7 |
6,5 |
|
Temperatura (°C) |
29 |
29 |
30 |
30 |
29 |
30 |
29 |
|
Cor |
25,0 |
30,0 |
29,0 |
30,0 |
20,0 |
35,0 |
30,0 |
|
Turbidez |
6,3 |
6,3 |
13,2 |
6,3 |
10,4 |
9,2 |
12,8 |
|
Oxigênio Dissolvido |
|
12,2 |
10,5 |
11,6 |
11,3 |
|
0,0 |
|
Dureza Total |
0,1 |
0,2 |
0,1 |
0,1 |
0,4 |
0,2 |
0,2 |
|
Cálcio |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,0 |
0,1 |
0,1 |
|
Magnésio |
0,0 |
0,1 |
0,0 |
0,0 |
0,4 |
0,1 |
0,1 |
|
Alcalinidade Total |
0,6 |
0,5 |
0,6 |
0,8 |
0,5 |
0,5 |
0,9 |
|
Cloretos |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
0,1 |
|
Condutividade |
10,0 |
10,0 |
10,0 |
10,0 |
10,0 |
10,0 |
10,0 |
A partir de comparações visuais e com a utilização de processo de superposições
(Overlay) foi gerada a Ilustração 11 que mostra simplificadamente as áreas desmatadas
nos últimos anos na bacia do baixo Rio Cauamé. Uma boa parte da área de estudo teve
supressão de mata ciliar através de incêndios durante a grande seca por que passou o
Estado de Roraima no início de 1 998. A Ilustração 12 nos mostra os principais focos de
incêndio que atingiram a área no 1º semestre de 1 998.
O processo de desmatamento de vegetação de preservação permanente continua de
modo acelerado não só na bacia do baixo Rio Cauamé, mas também em todo o resto da sua
bacia, principalmente por invasões e especulação imobiliária. O processo de recuperação,
principalmente quando há decapeamento da camada superficial do solo é muito lento, tal
como podemos constatar na região do balneário do Caçarí e no balneário logo abaixo da
ponte da BR – 174 sobre o Rio Cauamé. No primeiro caso houve intenso decapeamento
para retirada de areias e seixos, proibida desde 1 988 , sendo que até hoje não houve uma
recuperação. No segundo caso, a Prefeitura Municipal de Boa Vista decapeou a área para
a construção de uma quadra de futebol de areia no início dos anos 80 e até hoje não houve a
recuperação da vegetação. As Ilustrações 13 e 14 mostram respectivamente a situação em
1 984 e atualmente nestas duas áreas.
ILUSTRAÇÃO 11 – Áreas desmatadas nos últimos 10 anos na bacia do baixo Rio
Cauamé, com base em imagens do satélite Landsat 5
ILUSTRAÇÃO 12 : Vegetação natural da bacia do baixo Rio Cauamé, com algumas
das principais áreas queimadas na seca de março de 1 998
Imagem do satélite Landsat 5 . 11/MARÇO/98
ILUSTRAÇÃO 13 - Decapeamento da área de vegetação de preservação permanente
para a construção de quadra de futebol de areia em 1 984 e sua
situação em 1 999.
ILUSTRAÇÃO 14 - Decapeamento da área de vegetação de preservação permanente
por processo de extração clandestina de areias e seixos no
balneário do Caçarí em 1 984 e sua situação no fim do ano
de 1 998.
4.3.3 – Mineração clandestina :
A ação da mineração clandestina na área da bacia do baixo Rio Cauamé provocou
e ainda provoca grandes impactos ambientais em toda a área.
Na década de 80 iniciaram-se grandes ações de degradação ambiental provocadas
pela extração clandestina de materiais para a construção civil, principalmente areia, seixo e
piçarra. A situação tornou-se bastante crítica, a ponto do Ministério Público Federal
realizar intervenção com base em relatório técnico realizado em julho de 1 988 intitulado :
“ Impacto ambiental de atividades degradadoras do meio ambiente na bacia do baixo
Rio Cauamé ( Município de Boa Vista – Roraima ) – Contribuição para um
zoneamento ambiental da bacia do Rio Cauamé “. Este trabalho teve como subsídio
técnico o documento “ Diagnóstico preliminar da situação ambiental da bacia do baixo
Rio Cauamé “ de abril de 1 988, de autoria de Jaime de Agostinho. O resultado desta
intervenção do MPF foi o da retirada de todos os extratores de areia e seixos das áreas dos
Balneários Curupira e Caçarí, com a sua transferência para áreas autorizadas pelo DNPM,
Prefeitura Municipal , Secretaria da Agricultura e IBAMA um pouco abaixo da ponte dos
Macuxís, no Rio Branco.
A extração clandestina de piçarra, barro e pedra jacaré ainda continua a ser
realizada em inúmeras –áreas da bacia do baixo Rio Cauamé principalmente pela omissão
ou conivência das áreas de controle ambiental, já que as mesmas são facilmente
localizáveis e visíveis, principalmente junto à BR – 174 próximo à Base Aérea de Boa
Vista.
4.3.4 – Invasões urbanas
Este é um problema que atualmente está pondo em risco toda a estabilidade
ambiental da bacia do baixo Rio Cauamé , ocorrendo em praticamente em todo o seu
trecho, principalmente na sua margem direita.
Independentemente dos loteamentos que não respeitam a faixa dos 500 metros
relativa à vegetação de preservação permanente, temos as invasões individuais quer em
termos de habitações de baixo padrão como de pequenas chácaras, que paulatinamente
vão ocupando toda a margem do rio. Chacaras e residências de alto padrão começam a se
estabelecer nas margens do baixo Rio Cauamé, principalmente na sua margem esquerda.
Junto à foz do Rio Cauamé no Rio Branco, em sua margem direita encontramos ainda umas
poucas matas ciliares residuais ao intenso processo de ocupação por que passou a área, mas
que estão em vias de serem totalmente destruídas pela construção de mansões e de
condomínios fechados de alto padrão. No capítulo 5 temos a apresentação de exemplos
deste tipo de ocupação ilegal.